O atual empobrecimento do debate deve ser motivo de forte preocupação da sociedade brasileira, pois o aperfeiçoamento das instituições democráticas exige que as ideias sejam examinadas a fundo antes de serem adotadas ou descartadas. Nossa jovem democracia surgida após anos de censura cultural, política e social, vive um momento de incomparável liberdade e abrange a maioria da população. Cabe lembrar que sempre, mesmo depois da República Velha, o processo democrático foi fortemente prejudicado pela influência dos coronéis e caciques. Até nos dias atuais vemos que os partidos políticos possuem verdadeiros donos e que o poder econômico influi fortemente na decisão dos eleitores, de forma direta ou através da concentração da imprensa nas mãos de grandes grupos econômicos ou políticos. O desejo de tutelar a opinião pública pode também estar dissimulado em organizações pretensamente democráticas, mas é inegável que existe. Em recentes conversas que tive com um frentista do posto de combustíveis que sou freguês ouvi seu apoio aos programas de resgate social, como o Programa Bolsa Família. Ele contava sobre o significado benéfico de tais programas para muitos conhecidos seus e olhava de canto de olho para ver se o patrão não o escutava, pois este já havia lhe dito que deveria ir morar em Cuba se queria defender tais ideias. Ora, sabemos que os programas sociais do atual governo federal, efetivamente, nada mais são do que continuação de programas que vieram de administrações anteriores e que só se tornaram passíveis de ampliação com a estabilidade e o crescimento econômico. Com a polarização PT-PSDB, muitos de seus seguidores passaram a só enxergar defeitos nas propostas e condutas do adversário e apóiam qualquer força que seja inimiga de seu “inimigo” sem ao menos avaliar o que estão chancelando. Voltando ao caso do dono do posto, que desejava o desterro para seu funcionário apoiador dos programas de resgate social, surge uma intrigante questão. Vê-se que os postos de combustível da região metropolitana de Curitiba tabelaram o etanol em R$ 2,09 e a gasolina em R$ 3,19 sem considerar que cada estabelecimento possui formação de custos totalmente diversa: Aluguel do espaço, número de funcionários, custo do frete, etc… Assim sendo, como o sistema econômico adotado por nós é o capitalismo e este prevê a irrestrita liberdade de comércio e indústria, será que devemos mandar os donos de postos irem para Cuba? Afinal, lá é que os preços são rigorosamente tabelados. Acho que não, pois o Brasil precisa ser aperfeiçoado por todo seu povo em um processo que é realmente lento. Cada cidadão, independentemente de seu poder econômico, é parte do todo e precisa conviver com a divergência de opinião para escolher o que melhor convém ao país. Precisamos ampliar nossa cultura política e pensar com maior lucidez, de forma progressiva e constante. Aprender a conviver com a diversidade é indispensável para o crescimento da nação brasileira.