O nome de Exu vem sendo usado em vão, ligado às famosas “fake news” espirituais, por devaneios religiosos de pessoas com desconhecimento da cultura afro-religiosa. No clímax desse delírio coletivo, há ainda quem tente “expulsar” Exu da vida de fiéis em rituais de fé — geralmente em momentos de comoção, onde pessoas emocionalmente fragilizadas buscam ajuda de Deus, Jesus ou um socorro para suas dores. Ali, são seduzidas pelo medo, expostas ao espetáculo do escárnio, e empurradas para uma suposta guerra espiritual onde sequer compreendem quem estão tentando combater.

Como estudioso das religiões e espiritualista, compreendo que, nesses contextos, o objetivo é enfrentar o Diabo — figura negativa central na teologia cristã, símbolo do engano e da perversidade. Isso, dentro da narrativa cristã, faz sentido e deve ser respeitado como parte de sua doutrina.

Contudo, Exu não tem absolutamente nada a ver com o Diabo. Exu é uma divindade do candomblé (Orixá) e, em outras matrizes, é reconhecido como Nkisse, Vodun ou entidade espiritual, dependendo da tradição e da linha religiosa.

Na Umbanda, Exu também representa mentores espirituais que atuam nas encruzilhadas da vida — tanto no plano material quanto no plano invisível — auxiliando em caminhos, escolhas, proteção e equilíbrio das forças. Pombagiras, igualmente combatidas por ignorância religiosa, atuam com profundidade em questões emocionais, autoestima, sexualidade, amor-próprio e justiça.

O que acontece é que os efeitos do colonialismo e do escravagismo ressoam até hoje: religiões coloniais tentaram demonizar os deuses dos povos escravizados, impondo sobre eles sua noção de mal. Mas o tempo passou, e a Constituição Brasileira já reconhece: intolerância religiosa é crime (Lei nº 9.459/97, artigo 20 do Código Penal).

O suposto “combate a Exu” — que muitos nem sabem de quem se trata naquele cenário — alimenta uma narrativa antiga do opressor e do oprimido: uma fé tentando aniquilar outra, muitas vezes para validar seu poder, sua moral ou aumentar suas arrecadações. Mas a verdadeira fé não precisa caçar outras. A fé verdadeira ilumina, não apaga a chama do outro.

Junho é mês de festa e reverência a Exu em muitos terreiros. Escrevo este texto como tributo e gratidão ao Orixá Exu, aos guias Exus e Pombagiras que, ao longo do meu caminho espiritual, me ajudaram a desconstruir preconceitos, superar minhas sombras e reconhecer a sabedoria que vive nas tradições ancestrais do meu povo.

Exu é quem nos ajuda quando a vida trava!

É quem desmancha demandas, corta inveja, protege nas madrugadas! É quem abre caminhos quando tudo parece fechado, nos ensina a falar o que precisa ser dito, a agir com astúcia e coragem diante dos desafios.

Na espiritualidade prática, Exu é companheiro de quem está tentando se reerguer, reorganizar a vida, tomar decisões difíceis. Ele é ponte entre mundos, não muro. É dinamismo, não estagnação. É aquele que nos lembra: você tem poder sobre sua própria vida.

Laroyê Exu! Que Exu abençoe sua jornada, abra seus caminhos e fortaleça sua consciência com verdade, sabedoria e axé. Acompanhe-me nas redes sociais (Instagram e Tiktok): @tarodafortuna. Sou Vando Fortuna — espiritualista, mentor espiritual e cartomante.

Edição n.º 1467.