Jesus era plenamente humano e viveu toda a realidade corpórea, menos o pecado. Foi tentado durante toda a sua vida, inclusive no momento mais difícil antes de ser preso e condenado. Chegou a dizer: ‘Pai, afasta de mim este cálice’, mas, acrescentou, ‘que se faça a sua vontade e não a minha’. As tentações sofridas por Jesus, mostram a realidade de todos nós, que diariamente somos tentados a seguirmos o caminho mais fácil, o caminho do mal e da perdição. Mas ele não cedeu às tentações e foi fiel até o fim. Vamos tentar entender as três tentações no deserto e perceber como elas se manifestam diariamente em nossas vidas.
A primeira tentação se refere à sede desenfreada do ter, do acumular. Jesus sentiu na pele essa tentação, quando o demônio lhe pediu para transformar as pedras em pães. E o mestre lhe respondeu: ‘não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus’. Diariamente nos deparamos com a realidade das coisas materiais, com a sede de sempre ter mais, como se isso fosse preencher a nossa vida. Quantas pessoas só pensam em ter mais, comprar mais, trocar de carro todo ano, ostentar joias preciosas, ouro, casas luxuosas. Vivem em função do ter sempre mais e não percebem o vazio que se apodera do seu interior. As coisas são necessárias, mas elas não podem ofuscar a sede da Palavra de Deus, que alimenta e sustenta a nossa fé. Tem pessoas que são tão apegadas às coisas desse mundo, que, no fundo, são pobres seres humanos, vazios de tudo, sem o gosto verdadeiro e profundo da existência.
A segunda tentação é pôr Deus a prova e exigir que ele faça tudo o que nós quisermos, cobrando diariamente Dele milagres, sinais de que Ele nos ama. O demônio pede para Jesus se lançar do pináculo do templo e os anjos virão ao seu encontro, agarrando-o no ar, protegendo-o contra a morte. Quantas pessoas vivem provando a Deus, exigindo Dele milagres diários, do contrário, ameaçam não acreditar mais Nele. Não precisamos dessas provas miraculosas, porque a vida já é um milagre. O fato de estarmos vivos, de podermos caminhar, levantar todos os dias, é a máxima prova do quanto Deus nos ama. É nas pequenas coisas que percebemos a grandiosidade de Deus e o seu imenso amor para com cada um de nós. Além disso, Deus nos convoca a fazermos a nossa parte e a não dependermos exclusivamente Dele. Se não trabalharmos, se não lutarmos, Ele não nos dará as coisas de mão beijada. Precisamos contribuir com Ele e fazer bem a nossa parte.
E por fim, o demônio tenta Jesus dizendo que se ele o adorar, lhe dará todos os reinos deste mundo, para que ele possa mandar e dominar. É a terrível tentação do poder, de se achar maior do que os outros, de colocar os outros debaixo de seus pés. Jesus, pelo contrário, nos ensina que o verdadeiro poder é sempre serviço, doação, entrega, colocando à nossa vida à disposição os outros. Ele passou pela vida servindo e fazendo o bem, e pede que nós, seus seguidores aprendamos a passar pela vida ajudando a quem mais precisa de nós. A vitória de Jesus também poderá ser a nossa vitória, na medida em que aprendermos a partilhar em vez de acumular, de fazermos a nossa parte sem esperar que Deus prove o seu amor através de milagres diários e aprendermos a servir, em vez de mandar e dominar, nos colocando acima dos outros.