Em 7 de outubro de 2023, o Hamas deflagrou um ataque coordenado contra Israel, resultando na morte de cerca de 1.400 israelenses e na captura de 250 reféns. Em resposta, Israel declarou guerra, lançando a “Operação Espadas de Ferro” com bombardeios intensos e incursões militares em Gaza, visando supostamente apenas destruir o Hamas e libertar os reféns.

As ações militares de Israel, no entanto, vão além dos objetivos declarados. Especialistas e organismos internacionais apontam para uma campanha de aniquilação que busca remodelar fundamentalmente a Faixa de Gaza, tornando-a inabitável e ingovernável para os palestinos.

A insistência de Israel em avançar sobre áreas densamente povoadas, como Rafah, com ordens de evacuação consideradas impraticáveis pela ONU, revela uma contradição gritante entre os objetivos militares e a catástrofe humanitária. Em Gaza, a distinção entre combatentes e civis se tornou praticamente inexistente, resultando em um custo humano desproporcional.

O mundo assiste a uma crise humanitária de proporções inimagináveis em Gaza, comparável ao Holocausto em sofrimento e crueldade. Os números são alarmantes:

  • Mais de 15.000 crianças foram mortas desde outubro de 2023.
  • As mortes totais podem ultrapassar 150 mil vítimas.
  • Praticamente 100% da população enfrenta a fome, com milhares de pessoas morrendo por inanição.
  • Em torno de dois milhões de pessoas foram deslocadas, vivendo em constante privação.
    A infraestrutura de Gaza foi devastada:
  • Mais de 70% das habitações estão seriamente danificadas ou destruídas, segundo relatório do Banco Mundial e da ONU.
  • A maior parte dos serviços públicos essenciais – água, saúde e educação – foi arrasada, inviabilizando o acesso a cuidados mínimos.
  • O sistema de água colapsou, fornecendo menos de 5% de sua produção anterior.
  • 100% das crianças estão fora da escola devido ao colapso do sistema educacional.
  • Mais de 90% das estradas foram destruídas ou danificadas, e a infraestrutura de comunicações está seriamente comprometida, dificultando a entrega de ajuda.
  • Estima-se que 26 milhões de toneladas de escombros foram deixadas pela destruição, e sua remoção levará anos.

A entrada de ajuda humanitária enfrenta obstáculos significativos. Embora Israel tenha autorizado a entrada de “cerca de 100” caminhões da ONU em maio de 2025, após meses de severa escassez, a ONU e outras organizações criticam o fluxo “limitado”, afirmando que “a única coisa que entra em Gaza são bombas”.

Um novo sistema de distribuição de ajuda, promovido por Israel e EUA e delegado a uma empresa privada de ex-militares dos EUA, a GHF (que se apresenta como ONG), foi condenado pela ONU como “indigno e perigoso”, resultando em caos, feridos e mortes. Organizações humanitárias alegam que esse modelo permite a Israel usar alimentos como armas de guerra e que a distribuição privará os mais vulneráveis, subordinando a ajuda humanitária a objetivos militares e políticos dos sionistas. Israel e EUA acusam o Hamas de desviar ajuda, mas não apresentaram provas, enquanto agências da ONU afirmam ter mecanismos para impedir desvios.

A condenação da ONU e as críticas sobre a “instrumentalização da ajuda humanitária” sugerem que a restrição e o controle da entrada de suprimentos podem não ser meros efeitos colaterais da guerra, mas sim uma tática deliberada para pressionar a população civil e o Hamas, configurando uma potencial “gestão da fome” como parte da estratégia militar. Há, inclusive, membros do alto escalão do governo de Israel que admitem publicamente o desejo de “varrer” os palestinos de Gaza.

Edição n.º 1468.