A história do povo judeu que aclama Jesus de modo triunfante na sua chegada a Jerusalém, para logo depois, instigados pelas lideranças judaicas aprovar a sua morte na cruz, demonstra as realidades do nosso cotidiano. Somos seres que oscilamos entre o bem e o mal, entre a vida e a morte, entre o amor e o ódio, entre a festa e a tragédia, alegria e tristeza, bom humor e mau humor. Facilmente passamos de um lado para outro em poucos minutos. Isso não quer dizer que sejamos bipolares, mas temos algumas características que por vezes nos aproximam desta verdade.
Somos seres tantas vezes contraditórios. O próprio São Paulo definiu muito bem esta nossa realidade humana, quando afirmou que tantas vezes ele não se entende, pois deixa de fazer o bem que quer e faz o mal que não quer. Faz parte da nossa natureza tão frágil e por vezes tão forte, tantas vezes tão limitada e tantas vezes capaz de tudo.
Oscilamos, passamos de um extremo para o outro rapidamente. Já vi pessoas que não saiam da Igreja e de repente criaram uma verdadeira rejeição e outras, pelo contrário, totalmente afastadas, de repente tornaram-se verdadeiros lideres. É por isso que sempre devemos acreditar na capacidade humana de mudança e superação.
A nossa natureza humana é assim mesmo, forte e fraca, livre e escrava, alegre e triste, capaz de tudo e incapaz ao mesmo tempo. Isso tudo requer da nossa parte a humildade de reconhecer que não somos perfeitos. Quem se julga o tal, o certo, o modelo a ser seguido, tantas vezes se protege e teme que sua imagem seja denegrida. Coloca-se então numa atitude de defesa, e diante de situações errôneas, nunca assume a sua parte na culpa. Sempre os outros são os culpados, os que o induziram a errar. Ele nunca erra. O papa chama estas pessoas de imortais e convida-as a dar uma passeada no cemitério. Ali vai encontrar tantas pessoas que se consideravam imortais e insubstituíveis, e apesar da morte delas, o mundo não parou e as comunidades não morreram e a vida seguiu em frente.
Reconhecer nossas contradições é perceber-se humano, frágil e incapaz frente tantas situações imprevisíveis da vida. Não somos perfeitos, somente Deus é perfeito. Somos chamados à santidade, mas isso não quer dizer que sejamos imunes diante de tantas realidades inesperadas da vida. Erramos, pecamos e nos desviamos do caminho, mas sempre existe a possibilidade da volta, do retorno, da conversão e da mudança de rota. Assim foi a história do filho pródigo, que arrependido volta para os braços do Pai. Se soubermos ter a humildade de aceitarmos nossos erros, eles nos farão melhores e mais humanos.
Na caminhada da vida, tantas vezes aplaudimos, aclamamos a Jesus como o nosso rei, para em seguida, através de palavras ou gestos, pedirmos a desgraça do nosso irmão que caminha ao nosso lado. É a tal da hipocrisia que tanto Jesus condena. Falamos uma coisa e vivemos outra. Pregamos o amor, mas, agimos com indiferença. Pregamos a partilha, mas, somos muito egoístas. Pregamos respeitos, mas, somos tão indelicados com os outros. Enfim, todos nós somos humanos e todos nós necessitamos de uma continua conversão. Ninguém está plenamente pronto a ponto de dizer que não tem mais nada a mudar ou a melhorar. Reconhecer as falhas, as contradições do nosso cotidiano, nos dignifica e fortalece a nossa capacidade de sermos melhores. Continuemos atentos e abertos para a mudança, pois como caminhantes, estamos sempre a caminho e o caminho se faz caminhando.