É fato que a língua do povo sempre foi afiada e impiedosa. Os juízes da vida dos outros de plantão se adiantam em ser investigadores, jurados, testemunhas, juízes e, principalmente, carrascos.
Infelizmente, junto com os muitos benefícios trazidos pela internet, veio a possibilidade infinita de se xeretar a vida dos outros. Assim como no volante, é nas redes sociais que as pessoas acabam mostrando seu lado mais sinistro. Racismo, xenofobia, machismo, diversos tipos de ações preconceituosos afloram nos comentários, julgamentos toscos e viciosos atropelam pessoas em situação vulnerável, sem mostram insensíveis com as dores dos outros.
Falamos que as pessoas eram violentas e injustas na idade média, mas o que vemos hoje supera os linchamentos e queima de bruxas daquela época. A ferramenta para a punição daqueles que caem em desgraça é o chamado cancelamento. Uma espécie de excomunhão imposta não por um bispo, ou padre, mas pela impiedosa e muitas vezes injusta língua do povo nas redes sociais.
Vítimas dessas situações são pessoas às vezes, que estão vivendo um intenso sofrimento, que muitas vezes têm suas situações colocadas ao escrutínio público contra suas vontades e mesmo contra a lei.
Casos como da Klara Castanho, ou da menor grávida (que deveriam ser mantidos em segredo, por envolver menores, de acordo com a lei) receberam interferências completamente dispensáveis e indesejadas. É preciso que se resguarde a liberdade das pessoas, não podemos tolerar que pessoas queiram decidir por nós, como se nossa vida fosse um reality show, onde cada passo que damos é decidido conforme o desejo de pessoas que nem conhecemos. Há casos altamente positivos de entrega legal de menores. É preciso que esse tipo de ação ocorra com o devido respeito, sigilo e dentro de um trâmite, com auxílio de profissionais preparados para que tudo ocorra da forma correta.
A entrega legal é uma das opções para mães que não desejam ou não podem ficar com um filho. Isso não é algo que possa ser julgado por terceiros, é uma escolha que interessa só a quem está diretamente envolvido e é realizada no interesse do bem estar da criança. Se quiser entender melhor como esse processo ocorre, acompanhe a reportagem nessa edição.
Publicado na edição 1318 – 30/06/2022