Jamais saberemos antecipadamente quando será nosso último embarque nesta vida, a não ser quando estivermos a bordo desse momento tão peculiar e individual que é a morte. O mais surpreendente é que, na última viagem, nem sempre estamos desacompanhados. Quando a morte é coletiva, ela rapidamente faz o translado do Edilson, do judô, do doutor José Roberto e do pequeno Joslan Perez, de apenas 4 anos, junto com mais 59 passageiros de um avião em uma única vez, como nesse voo que saiu de Cascavel para Guarulhos e terminou com destino no céu. Mas qual o significado espiritual das mortes coletivas?
Allan Kardec, grande intelectual, médium e precursor da doutrina espírita no mundo, traz algumas respostas sobre as mortes em grupos em sua filosofia espiritual. Para ele, todo ser humano, antes de estar vivo, passa por um planejamento pré-encarnatório (antes mesmo de existir a concepção do sujeito), em que estabelece “combinados” com seres iluminados (Deus, anjos, espíritos evoluídos…) sobre as situações que quer vivenciar para aperfeiçoar sua evolução e desenvolvimento aqui na Terra (3ª Dimensão). Nesse momento, o espírito pode escolher viver um desencarne coletivo para depurar-se (limpar-se) junto com aqueles que também precisam passar por essa experiência.
Mas qual é o benefício disso, e por que alguém em sã consciência sentiria essa necessidade? A trajetória da evolução humana traz uma série de massacres coletivos e mortes violentas em massa. Para a filosofia espírita kardecista, quando as pessoas que exerceram extermínios massivos da humanidade regressam ao plano astral (4ª dimensão), mortas, elas podem tomar novas ações e, por vezes, se arrepender de ter causado tanto mal social. A forma que muitos encontram de demonstrar sua remissão é pedir ao plano astral para vivenciarem um evento da mesma proporção, muitas vezes associados a espíritos (pessoas) que também precisam desse mesmo tipo de resgate.
Quando vivenciada a morte coletiva, o espírito poderia sentir que seu débito foi quitado e, em tese, estaria se preparando para a continuidade do seu ciclo evolutivo. Tá, Vando, ótimo, mas isso significa que o pequeno Joslan, de 4 anos, já teria sido um tirano em vidas passadas? Não necessariamente ele, mas talvez eu e você, que continuamos vivos e precisamos passar por essa reflexão. Precisamos adotar uma nova atitude social que não compactue mais com mortes e extermínios de povos, como vemos em Israel, Palestina, Rússia, Ucrânia, entre outros. Todos somos responsáveis pela paz mundial, e essa vibração começa dentro de nossas casas.
O pequeno Joslan de 4 anos pode ter sido um missionário aqui na Terra, aceitando trazer esse exemplo chocante de uma morte infantil, para nos lembrar das outras infâncias indígenas que estão morrendo de fome neste momento na Amazônia, por conta das queimadas ilegais. Essas famílias originárias já não encontram mais os recursos naturais, apenas cinzas. Ali, não se trata nem de morte coletiva, mas de uma eutanásia coletiva bem lenta, com os olhos sociais vendados e a bênção do clero político.
Outra grande lição que as mortes coletivas nos trazem, seja neste caso do avião, no Rio Grande do Sul ou nas mais de 600 mil vidas perdidas na pandemia de Covid-19, é o sentimento de comoção e solidariedade. Quem fica, nunca mais fica do mesmo jeito — ao menos, não deveria. Pois a dor coletiva nos impulsiona espiritualmente a criar o sentimento de comunidade e amor por todos, não apenas por alguns. Desejo para você, nesta semana, a ação de prece pelos enlutados. Sigam-me no @tarodafortuna.
Edição n.º 1428.