O mundo acompanhou com atenção e pesar as notícias sobre a morte do Papa Francisco, ocorrida na segunda-feira (21/04), no Vaticano. As reações de líderes globais e instituições religiosas delinearam o impacto de sua perda. Em Araucária, não foi diferente. Os párocos das quatro paróquias do município também manifestaram pesar e enalteceram o legado de fé, humildade e compromisso social que o Papa deixa para o mundo.

Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Pe. Eliseu Wisniewski, destacou que em vinte séculos da Igreja Católica, este foi o primeiro papa jesuíta e latino-americano. Escolheu como nome ‘Francisco’. O primeiro papa da história a escolher este nome. “Um nome significativo, tendo-se em conta que não é apenas um nome, mas um projeto de Igreja. Durante este período de 12 anos, presidiu a Igreja na caridade e se tornou uma das personalidades mais notáveis do século XXI, agregando a simpatia de tantos, seja dos cristãos, seja de outras denominações religiosas, que por meio de seu testemunho o definem como um grande líder espiritual. No entanto, internamente e externamente, deparou-se com muitas resistências e indisposições para recepcionar o que ele propôs e orientou”, relata.

Pe. Eliseu conta ainda que, retomando o processo de renovação conciliar (1962-1965), Francisco marcou um novo tempo na vida da Igreja. Realizou 47 viagens apostólicas entre 2013 e 2024. Nos âmbitos internacional, diplomático e político, a contribuição mais marcante de Francisco para a história do papado é a abertura do catolicismo a uma dimensão verdadeiramente global e a ‘deseuropeização’ da Igreja em termos de seus pontos de vista teológico, cultural e institucional.

“Com ele, a Igreja e o mundo aprenderam que o Evangelho só pode ser compreendido nos acontecimentos da história. Para comunicar o Evangelho, se faz necessário escancarar as portas do diálogo com a sociedade. Seu grande legado foi o de ter descentralizado a Igreja de si mesma e apontado para os grandes desafios que a humanidade enfrenta hoje. Ele nos ensinou que a verdadeira grandeza da Igreja está em sua capacidade de encontro com as feridas da humanidade. Distinguindo entre uma Igreja evangelizadora que sai de si mesma e uma Igreja mundana que vive em si, de si e para si, insistentemente recordava que a Igreja está chamada a sair de si mesma e ir às periferias geográficas e existenciais. Com isso, Francisco devolveu o Evangelho à Igreja e colocou no centro da Igreja os que estão à margem: pobres, indígenas, idosos e enfermos, vítimas das catástrofes/crimes ambientais, do tráfico, de guerras, mulheres, pessoas LGBT, famílias destroçadas. Fez ecoar os gritos da terra e dos pobres e mobilizou a Igreja e a sociedade na defesa dos pobres e marginalizados e no cuidado da casa comum. Repetiu por inúmeras vezes que na Igreja, há lugar para ‘todos, todos, todos’”, destacou Pe. Eliseu.

O pároco lembrou ainda que na sua atenção pastoral, portanto, Francisco esteve atento às questões internas da vida da Igreja e aos problemas do mundo. “Seu pontificado foi marcado por gestos, palavras e reformas que buscaram transmitir ‘a alegria do Evangelho’ e aproximar a Igreja dos que vivem à margem da sociedade. Ao tomar Francisco como referência de seu ministério, o papa apontou para uma reforma profunda na Igreja: uma reforma fundada no Evangelho de Jesus Cristo, que é o Evangelho do Reino, cuja característica mais fundamental é a justiça aos mais pobres, oprimidos e fracos. Desta forma, remete-nos às origens de nossa fé e nos ajuda a retomar o caminho de Jesus. A morte de Francisco causou grande comoção. Alguém sintetizou sua trajetória escrevendo o seguinte: ‘Com alegria serena, bom humor e um coração profundamente sensível, papa Francisco voltou seu olhar aos esquecidos da sociedade e nos lembrou da força transformadora da ternura. Ele partiu, mas permanece entre nós a luz de um olhar que reconhecia cada pessoa com carinho, dignidade e humanidade’”.

Pe. Marcos Lourenço Cardoso, pároco do Santuário Nossa Senhora dos Remédios, lembrou que o Cardeal Jorge Mario Bergoglio foi eleito papa em 13 de março de 2013, após a renúncia do Papa Bento XVI. Escolheu o nome Francisco em homenagem a São Francisco de Assis, símbolo de humildade, simplicidade e amor pelos pobres.

“Seu papado foi marcado por uma postura mais humilde, inclusiva e reformista, com ênfase em temas como a justiça social, o diálogo inter-religioso, a defesa dos marginalizados, e o cuidado com o meio ambiente, especialmente através da encíclica Laudato Si’. Podemos afirmar que o Papa Francisco foi uma alegria para a Igreja e para todo povo cristão católico, e quiçá, para o mundo. Francisco nos fez crer que outra Igreja é possível, que outro mundo é possível, iluminados sempre pelos valores dos Santos Evangelhos. Um Papa de gestos simples e de posturas firmes. Um Papa de amor e de revolução. Um Papa de reformas, dentro da Igreja, e mostrou-nos como elas são necessárias, para falar a linguagem da atualidade. Um Papa que trouxe a causa dos pobres ao centro da Igreja, pois a opção preferencial pelos pobres sempre foi e sempre será parte viva da Palavra de Deus. Um Papa da misericórdia, para todos, indistintamente. Que possamos continuar seu legado, que é para todos e é de todos nós. Francisco, agradecemos por seu testemunho e por sua vida. Descanse em Paz! O Espírito Santo continuará guiando nossa Igreja”, declarou Pe. Marcos.

Pároco da Paróquia Senhor Bom Jesus, Frei Moacir Chiodi, ressaltou que no domingo da Páscoa, o Papa surpreendeu ao ir até o meio do povo e, na segunda-feira, ele faleceu, afirmando com sua vida que o nosso caminho é para a vida eterna. “Nesta segunda-feira da Oitava da Páscoa, logo cedo, liguei o celular para desejar as palavras mais ricas de significado nestes dias: Feliz Páscoa! No entanto, me deparei com uma notícia que, num primeiro momento, achei estranha, porém real: nosso Papa faleceu. Imediatamente, minha mente começou a recordar tantas palavras cheias de amor e ensinamentos”, relata.

Frei Moacir lembra que, sempre que podia, aos domingos, ouvia a locução do Anjo, rezada em Roma, e o povo na praça o ouvia e rezava com ele. “Tive a graça de uma vez fazer parte daquele povo na praça, e saí comovido com aquelas palavras que ficaram gravadas no meu coração. Sei que muitos vão falar ‘lindas palavras’. Não posso ser incoerente com o que digo. Papa Francisco, escolhido de nosso país vizinho, a Argentina, foi o canal de graça que Deus escolheu para nos ajudar em nossa conversão e para encontrarmos a misericórdia sem medidas do Senhor, nosso Deus. Aprendemos com ele a acolher e amar — duas palavras não tão fáceis de serem colocadas em prática, porém urgentes de serem vividas”, pontuou.

O pároco diz ainda que nós, católicos, devemos seguir o que aprendemos com o Papa Francisco: ter bom senso, alegria em viver, amor que põe fim às guerras interiores e exteriores, romper com maus hábitos, abrir o coração para acolher a vontade do Senhor Jesus, falar o que edifica, sonhar grande e conduzir todos nos caminhos da verdadeira vida humana.

Padre Marco Aurélio, vigário da Paróquia Nossa Senhora das Dores, afirma que todas as religiões tem suas estruturas direcionadas, mas o Papa Francisco soube adentrar em todas elas, buscando estabelecer um elo de proximidade na sociedade. “O Papa abriu diálogo até com os mais céticos e foi aceito em todos os segmentos. Ele não mudou a essência da Igreja e seus princípios, mas colocou em pauta temas importantíssimos que a Igreja precisará dar conta, como as questões ambientais, a sexualidade e busca incansável pela paz, de uma maneira jamais vista”, afirma.

Para o Padre Marco, hoje, com o grande alcance da mídia, é comum vermos pessoas querendo formatar Jesus da maneira que lhes convém. “Não devemos nos esquecer que a própria Bíblia nos diz que Jesus não excluiu ninguém. O Papa Francisco nos mostrou isso, e sempre procurou ser coerente em suas falas e ações. Ele abriu muitas portas, tentando fazer a Igreja buscar sua própria essência, e nossa missão é manter isso. Destacou também o papel da mulher dentro da Igreja. Enfim, o Papa não mudou as leis, ele apenas colocou processos para um povo que atualmente está sem liderança, levantando, acima de tudo, a bandeira da paz”, declarou.

Edição n.º 1462.