PH: hoje só não voto no Alex para presidente da Câmara
Os alicerces da política local foram chacoalhados na semana passada com a confirmação de que o vereador Paulo Horácio (SDD) será mesmo o líder de governo do prefeito Olizandro José Ferreira (PMDB) na Câmara Municipal. Muito identificado com o eleitorado do ex-prefeito Albanor José Ferreira Gomes (PSDB), principal adversário político de Olizandro, a decisão do vereador gerou comentários nos bastidores, com acusações veladas de que ele teria traído Zezé.
Do mesmo modo, a atitude de Paulo Horácio causou certo desconforto no grupo do qual ele faz parte na Câmara de Vereadores e que hoje comanda a mesa diretora da Casa. Outros edis que integram esse grupo chegam a dizer que a decisão de PH foi uma apunhalada nas costas não só de Zezé, mas também dos seus colegas de parlamento.
Para responder a esses e outros questionamentos, conversamos com Paulo Horácio na manhã deste sábado, 25 de janeiro, em seu gabinete na Câmara Municipal. Numa entrevista de cerca de duas horas, ele explicou os motivos que o levaram a aceitar o convite feito por Olizandro. Garantiu que não traiu nem Zezé e nem os cinco vereadores que hoje detém o comando da mesa e que está na política não para se fazer financeiramente e sim para realizar o sonho de seu pai (o advogado Odail Horácio, que morreu em 2010), que teria morrido triste porque não conseguiu deixar uma cidade melhor para os araucarienses. Veja abaixo os principais trechos da conversa.
Há pessoas dizendo que aceitar o cargo de líder de governo de Olizandro é uma traição a Zezé. O que o senhor pensa sobre isso?
De forma alguma. Eu não trai ninguém. Tenho muito respeito pelo Zezé, trabalhei em sua gestão e, inclusive, conversei com ele quando decidi trocar o PSDB pelo Solidariedade, assim como conversei com o Isac Fialla (PSD), que me aconselhou a trocar de partido. Minha relação com o Zezé, é bom deixar claro, é de coração e isso não vai mudar. Do mesmo modo, nunca fechei portas com ninguém. Nunca trabalhei com o Olizandro. Em sua primeira gestão eu trabalhei fora do país e essa minha decisão de aceitar o cargo de líder de governo é porque sei que posso contribuir com a cidade muito mais do que estou contribuindo hoje somente como vereador.
Perca de espaço político dentro do PSDB
Lá no ano passado quando decidi trocar o PSDB pelo Solidariedade isso se deu justamente porque vi que iria perder espaço no partido, já que o Alex (Nogueira) se articulou melhor que eu para isso. O tipo de compromisso que ele assumiu com o Rossoni (Valdir Rossoni, presidente da Assembleia) eu não assumiria e foi só por isso que eu decidi trocar de partido. Na época, conversei com o Zezé e ele disse que não pretendia continuar no comando do PSDB. Logo, eu não poderia ficar sob a tutela do Alex. Eu e ele temos tempos diferentes na política. O meu é mais curto do que o dele e preciso correr. Foi por isso que fui para o Solidariedade, numa composição que me garantiu o comando do diretório municipal e uma vaga no estadual. Então, de novo, afirmo: não trai o Zezé, apenas estou procurando meu espaço politico porque tenho objetivos na vida pública. Quero, por exemplo, ser prefeito desta cidade e não por um projeto de poder e sim porque sei que posso fazer muito pela nossa população. Meu pai morreu em 2010 e, eu sei, ele morreu triste porque durante a vida toda ele trabalhou aqui, advogou aqui, sem enriquecer ou algo assim e quando se foi esta não era a cidade que ele queria nem para sua família e nem para nenhuma família. Eu, todos dizem, sou o mais parecido fisicamente e também no jeito de ser, com o meu pai. E ele sempre dizia que queria que eu fosse político. E eu sinto que seu desejo era esse justamente porque ele acreditava que eu era capaz de contribuir para que Araucária fosse diferente do que é hoje, um lugar que trata a maioria das pessoas como estrangeiros.
Relação com o grupo de vereadores que comanda a Câmara.
Estou ouvindo muitos comentários de que eu teria traído esses vereadores ao aceitar o cargo de líder de governo. De novo, afirmo, não trai ninguém. O que foi acordado lá atrás eu sigo cumprindo. O acertado em 31 de dezembro de 2012 foi que nos uniríamos para eleger a Mesa Diretora nos dois biênios e que administraríamos a Casa em conjunto e com isonomia na repartição da estrutura. A minha parte eu sigo fazendo, embora sinta que sempre fui deixado de lado em algumas decisões e que a estrutura não é igualmente dividida. Há vereadores que tem dois carros, eu só tenho um. O mesmo com relação aos telefones celulares. Na definição dos gabinetes eu também fui preterido e assim por diante. Apesar disso tudo, eu sigo cumprindo o combinado. Na próxima eleição da Mesa, no final deste ano, eu sigo no propósito de nos mantermos os seis no comando da Casa. Voto sem problema algum no Pedrinho Nogueira (PTN) e tenho interesse, inclusive, de propor uma emenda à Lei Orgânica permitindo a reeleição do presidente. Do mesmo modo, votaria na Adriana Cocci (PTN), no Vanderlei Cabeleireiro (DEM) e em mim para presidente. De nós seis, hoje eu só não votaria no Alex Nogueira (PSDB) e, talvez, não votaria no Beto (Wilson Roberto Mota – PROS) porque tenho conhecimento de que ele anda falando mal de mim pela cidade.
O que foi combinado em 31 de dezembro de 2012
É bom deixar claro que o acordo que fizemos no final de 2012 era única e exclusivamente com relação ao comando da Câmara. Em momento algum ficou definido de que estávamos formando ali um grupo de oposição ao prefeito. Então, não sei porque estou ouvindo essa história de que eu trai o grupo. A única coisa que pactuamos foi que nenhum de nós poderia aceitar um cargo de secretário na Prefeitura porque isso significaria a necessidade de uma nova negociação com o suplente que viesse a assumir. Eu não estou deixando a Câmara. Então, no meu entender, nada mudou e se houver algum tipo de traição será do lado deles. Até agora eu não recebi nenhum tipo de aviso prévio, como o corte de estrutura ou mesmo mudanças nas comissões permanentes, mas se isso acontecer, eu renuncio ao cargo de segundo vice também e fico livre para fazer o que bem entender.
A negociação com Olizandro envolve cargos
Para mim, não! Mas é uma negociação partidária em nível estadual, que inclui a vinda do Solidariedade para a base de apoio, o que numa eventual reforma administrativa inclui espaço no secretariado.
Papel como líder de governo
Conversei muito com o Olizandro. Inclusive, o alertei dessas dificuldades que ele poderia ter na Câmara por conta de vaidades de alguns vereadores. Mesmo assim, ele insistiu e é por isso que tenho a certeza de que poderemos fazer muita coisa pela cidade, contribuindo com a gestão na elaboração de parcerias público-privadas, a socialização do mercado da família e várias outras ações aqui na Câmara.
Medo de ser abandonado por Olizandro
Muitas pessoas estão vindo com essa conversa de que o Olizandro vai me abandonar na primeira dificuldade e assim por diante. O que eu tenho dito é que aquele que apostar numa briga entre eu e o prefeito vai perder. Pode até ser que naveguemos em barcos diferentes, mas o mar e o destino é o mesmo.