A campanha Setembro Amarelo traz à tona a importância da conscientização sobre a prevenção do suicídio. Embora as intenções sejam positivas, é essencial abordar esse tema delicado com responsabilidade e sensibilidade, durante todo o ano. A Pedagoga e Psicopedagoga Clínica e Institucional Naymin Adami, explica que discutir a respeito do suicídio, trazer o tema para dentro da escola de forma pedagógica, é um desafio, no entanto, não pode mais ser um clichê.
“Antes de apresentar o assunto na infância e adolescência, é importante que a instituição de ensino olhe para o educador no intuito de capacitá-lo. Isso porque a abordagem com os alunos precisa ser de forma tranquila e não como um sentimento de luto ou algo assim, no entanto, deve ter a formalidade e a responsabilidade necessárias. Porque assim como as crianças precisam saber, para que possam respeitar e compreender, é importante que o adulto saiba como falar, como lidar com isso”, explica.
A psicopedagoga diz que existem estratégias pedagógicas que podem ser adotadas pelas escolas. “Suicídio realmente não é uma palavra confortável e talvez adequada para utilizarmos com crianças menores. É importante também que o educador não dê ênfase para isso no sentido negativo, mas ele pode trazer essa palavra e o mês de setembro como uma oportunidade para a valorização da vida, para o respeito com a vida”, orienta.
O tema suicídio, na opinião de Naymin, não deve ser falado somente em setembro, deve se tornar uma prática, assim como falamos, por exemplo, em jogar o lixo nas lixeiras corretas, economia da água, aquecimento global, entre outros. “Abordar esse tema referente à vida, deve ser um exercício diário, incluído nas práticas pedagógicas semanais, talvez em projetos construídos para a quinzena, para o mês. Se abordarmos o tema somente em setembro, vai parecer uma data comemorativa, e não é esse o objetivo, porque precisamos desenvolver uma cultura”, aponta.
Sinais de alerta
A psicopedagoga afirma que muitos comportamentos que os alunos revelam podem sugestionar outras questões. Na escola, percebe-se principalmente as questões relacionadas à aprendizagem, desatenção, dificuldade na compreensão do conteúdo, essa mais relacionada com a aprendizagem. Outros comportamentos que impactam nos relacionamentos intersociais são importantes também.
“Crianças e adolescentes que têm dificuldades em manter um relacionamento saudável com os amigos, colegas que preferem ficar mais isolados ou até mesmo alunos que demonstram rompantes em determinadas situações. Esses comportamentos acendem um sinal de alerta e precisamos estar atentos. Devemos fazer uma investigação, uma observação mais aguçada com relação àquela criança ou adolescente. O primeiro ponto é conversar com a família, conversar com os outros profissionais que acompanham essa criança no ambiente escolar, para entendermos o contexto. Entender o contexto familiar é primordial”, declara.
A profissional ressalta que o primeiro passo que o educador deve tomar é conversar com o aluno, porque ele tem total liberdade para isso e esse é o objetivo. “É importante que haja esse vínculo afetivo entre o educador e o aluno, pois isso promove um ambiente de aprendizado saudável. O educador deve abordar o aluno de forma estratégica, questionando sobre como ele está se sentindo”, ilustra.
Naymin lembra ainda que hoje existem algumas escolas que têm projetos relacionados com os sentimentos, com a inteligência emocional, e são momentos onde é possível abordar o tema suicídio ou valorização e respeito à vida. “O professor ainda pode criar estratégias próprias para se aproximar do aluno, tentando entender melhor o que está acontecendo, para então poder ajudar”.
Outro fator importante nesta abordagem é que não há uma idade específica para que ela ocorra. “A palavra suicídio pode não soar de forma compreensível para crianças menores, então a gente traz uma outra temática, no sentido de ensiná-la a dar valor à vida, de se cuidar, de saber qual a importância que a vida tem para ela. Isso precisa ser uma prática cultural desde quando a criança começa a construir as suas relações interpessoais”, afirma Naymin.
Perigo das telas
As telas são estímulos bastante contraditórios, ao mesmo tempo que vêm para contribuir, ensinando as crianças e adolescentes a acompanharem às questões da atualidade, também podem se transformar em armadilhas. Sendo assim, é preciso que os pais fiquem atentos aos conteúdos que seus filhos estão buscando na internet ou nas suas conversas em redes sociais dos filhos.
“Existem situações em que os jogos de violência acabam contribuindo para um mau comportamento e até mesmo o planejamento de algumas tragédias. Entendemos que o jogo de forma isolada não causa esse tipo de situação, porém quando existe um contexto familiar complicado, um ambiente hostil, onde não há acolhimento, onde não há escuta ativa, isso pode transformar a criança e o adolescente. Principalmente porque aquele é o ambiente onde ela está inserida e que vai contribuir para a formação da sua personalidade”.
Também no entendimento da psicopedagoga, a pessoa que chega ao triste ato de suicidar-se, está passando por uma ou mais situações muito difíceis. “Entendemos que o motor do nosso ser são as emoções. E se essas emoções não forem bem geridas, se não estiverem equilibradas, é muito provável que haja um desequilíbrio emocional. E esse desequilíbrio emocional vai gerar desequilíbrio em todas as outras áreas da vida. Para chegar a essa situação, a pessoa sofreu bastante, e muitas vezes calada, é alguém mais introvertido, com dificuldade em solicitar ajuda, até mesmo por conta do ambiente em que ela está inserida. Se ela cresceu em um ambiente onde percebeu que precisa de uma autogestão, pois não tem ajuda, não tem acolhimento e apoio, ela não vai pedir quando ela crescer, então é importante a gente estar sempre de olho, tanto dentro da família quanto no ambiente escolar. Costumo falar que nenhum comportamento impróprio é gratuito, todo comportamento impróprio é gerado por alguma situação adversa, e precisamos olhar para isso”.
Edição n.º 1434.