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A araucariense Lauren Maneira, de apenas 8 anos, acaba de ser aceita no Mensa, um “clube internacional de gênios”.

A garotinha faz parte de um seleto grupo de pessoas que possuem uma condição de alto QI (Quociente de Inteligência), também conhecidas como “superdotadas”. No clube, ela está participando dos grupos “Meninas no Xadrez” e “Jovens Brilhantes”.

A Mensa International é uma organização presente em cerca de 100 países na forma de organização sem fins lucrativos. Sua missão é identificar e fomentar a inteligência humana para benefício da sociedade; incentivar pesquisas sobre a natureza, características e usos da inteligência e fornecer um ambiente intelectual e socialmente estimulante para seus membros.

No caso da Lauren, ainda bem pequena, demonstrou que tinha muita facilidade em aprender. Segundo a mãe Patrícia, a filha falou as primeiras palavras com apenas 10 meses, e com 1 ano e 4 meses já fazia frases completas, sem erros. “Achávamos isso normal, pois não tínhamos contato com outras crianças e porque sempre a incentivamos muito. Até que ao ter o primeiro contato com a escola, aos 2 anos, ela chegou reclamando que nenhum amiguinho falava com ela. Fui perguntar para a professora, que respondeu: ‘É que nenhuma criança fala nesta idade!’. A partir daí, começamos a perceber que a Lauren era diferente e que precisava de ajuda, pois estava desestimulada a ir para escola. O primeiro laudo dela veio aos 3 anos e mostrou indicativos de altas habilidades – o teste formal costuma ser realizado somente a partir dos 6 anos. Ao chegar na primeira série, em uma escola pública de Araucária, os professores solicitaram junto a prefeitura, o teste formal, que apontou um QI muito superior”, relata a mãe.

Ainda de acordo com ela, a Lauren passou a participar de uma turma no contraturno escolar, para que seu potencial fosse ainda mais estimulado, junto com crianças que também tinham facilidades e interesses semelhantes. “Neste ano, decidimos fazer um teste mais completo para ver as necessidades dela, para estimulá-la no que for necessário, porque em alguns momentos, por ter facilidade e já saber o assunto, ela acaba ficando desestimulada”, explica Patrícia.

A mãe conta ainda que ao fazer o teste, a psicóloga explicou que é difícil encontrar crianças como Lauren, com altas habilidades, que apresentam desempenho excepcional em quase todas as áreas, como lógica, interpessoal, espacial, entre outras. “No caso dela, além de todas as habilidades serem além da média, a linguística também é muito acima, isso explica o fato de ela falar desde cedo e tão bem”, pontua a mãe.

Diante de todas as evidências de superdotação, os pais de Lauren decidiram inscrevê-la no Mensa, mais conhecido como “clube dos gênios”, para que ela tivesse a oportunidade de desenvolver melhor suas habilidades. E um fato curioso evidenciado é que o nível de QI da garotinha araucariense está na faixa de menos de 2% da curva de distribuição deste indicador, ou seja, ela está acima de 98,7% da população testada, segundo o Mensa Brasil. “No Paraná, são cerca de 45 crianças nessas condições e em Araucária acredito que a Lauren seja a única criança a fazer parte da Organização até o momento”, afirma Patrícia.

No Clube Mensa a Lauren tem a chance de manter contato com crianças semelhantes a ela, com interesses similares, além da possibilidade de ganhar descontos, bolsas, entre outros benefícios. “A Lauren disse que se sente muito orgulhosa em ter conseguido entrar no Mensa e está feliz em saber que tem pessoas como ela. Minha filha se sentiu acolhida”, comemorou a mãe.

Os desafios são muitos

Os desafios para um indivíduo com altas habilidades/superdotação são muitos e vão desde a saúde mental até a infraestrutura proporcionada pela escola. Pais e escola devem ter um cuidado maior, para que as crianças e jovens nessas condições possam evoluir como pessoas e futuramente trazer grandes contribuições para a sociedade.

A Lauren se encaixa nesse contexto de desafios que precisam ser vencidos continuamente. Ela prefere aula de matemática à educação física e a mãe relata que a menina não vê a hora de realizar contas bem grandes. “Ela fala que gosta de matemática, pois é a matéria mais desafiadora. Aprendeu com o pai a jogar xadrez e na terceira partida já estava ganhando dele. Gosta de soletrar, inclusive de trás para frente, gosta de ‘brincar’ de achar sinônimos de palavras, fala palavras difíceis as quais muitas vezes ouviu apenas uma vez, como num filme, por exemplo. Ela tem uma memória a longo prazo impressionante. Às vezes pergunto o significado de uma palavra pouco comum, que ela coloca em uma frase acertadamente, e não sei como ela sabe disso, simplesmente diz que apenas sentiu que a palavra parecia estar certa na frase”, relata Patrícia.

Superdotados no contexto escolar

A Psicopedagoga, Doutora em Educação e fundadora do IAD – Instituto Aprendizagem e Desenvolvimento, Monaliza Ehlke Ozorio Haddad, explica que o maior desafio enfrentado atualmente em relação às Altas Habilidades/Superdotação é a falta de formação continuada para os professores em relação a esta temática. “Devido a este fator, muitos educadores acabam não percebendo as potencialidades nos alunos”, comenta.

Monaliza é autora de diversos livros relacionados ao desenvolvimento e comportamento infantil, inclusive tem duas publicações relacionadas ao tema Superdotação. São elas: “Altas Habilidades – Superdotação” e “Enriquecimento Curricular – O Protagonismo do Aluno Superdotado no Trabalho com Projetos de Pesquisa”, ambos escritos em parceria com a professora e psicopedagoga Mari Lídia Chempcek.

Segundo ela, ao perceber que o filho é diferente das demais crianças, os pais geralmente recorrem para um processo avaliativo por uma equipe multiprofissional e desta forma conseguem perceber, tanto as potencialidades, como as dificuldades que possam estar acompanhando o processo de desenvolvimento. “Após a identificação das Altas Habilidades/Superdotação, a família deve recorrer a instituição escolar onde seu filho está matriculado e junto com a equipe pedagógica da escola, propor estratégias e pensar nas necessidades de enriquecimento curricular ou até de estratégias de trabalho específicas”, sugere.

A psicopedagoga conta ainda que na sua rotina de trabalho vem atendendo crianças com Altas Habilidades/Superdotação desde 2004, tanto no processo avaliativo, ou seja, identificando estas crianças, como também no processo de intervenção. “Diante da minha experiência com o tema, ressalto a importância de reconhecer e respeitar as especificidades de cada aluno, considerando a grande diversidade que existe nas salas de aula. É fundamental desenvolver e encorajar os potenciais para garantir o desenvolvimento pleno e a construção da identidade da pessoa superdotada”, afirma.

Edição n.º 1404

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