O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou no dia 25 de junho, o aumento da mistura obrigatória de etanol na gasolina, que passará de 27% para 30%. O novo percentual entra em vigor a partir de 1º de agosto. A mudança provocou algumas reações, principalmente de motoristas, os quais questionam se essa mistura poderá afetar seus veículos.

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Araucária, Edilson Bueno, também fez uma breve avaliação a respeito da elevação da mistura de etanol na gasolina e do biodiesel no diesel. “A mistura é positiva do ponto de vista ambiental e energético, mas pode ocasionar uma leve redução na arrecadação de ICMS em Araucária, já que é o agronegócio quem produz o álcool anidro adicionado na gasolina e o biodiesel adicionado no diesel”, pontuou.

Bueno também lembrou que somente as distribuidoras são autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) a realizarem essas misturas, que nesses parâmetros são despercebidas pelos veículos.

POSSÍVEIS PROBLEMAS

Considerando que a frota brasileira tem uma idade média de 11 anos, tendo na sua maioria carros flex que já operam com diferentes proporções de etanol e gasolina, o impacto da nova mistura para esses modelos será mínimo. No entanto, veículos mais antigos e modelos movidos exclusivamente a gasolina podem enfrentar problemas mais sérios.

“A grande preocupação é saber se o governo fez algum estudo com relação aos carros antigos, que não são flex. Eles irão suportar essa adição de álcool nos seus componentes? Haja vista que os carros mais antigos, com mais de 20 anos, não têm uma tecnologia que corrija essa mistura. Então, eu acredito de forma leiga que isso vai prejudicar principalmente aquela pessoa que tem um carrinho que só anda a gasolina”, observou o motorista Valdecir.

Para entender melhor, enquanto motores atuais contam com sistemas de injeção e gerenciamento eletrônico capazes de lidar com variações no combustível, os clássicos dos anos 1970, 1980 e de períodos ainda mais longínquos podem sofrer efeitos indesejados.

“Veículos mais antigos, equipados com carburador, não possuem um sistema de gerenciamento eletrônico para ajustar a mistura de combustível, como os veículos flex. Portanto, a utilização de combustíveis com teores de álcool significativamente superior aos recomendados pode causar mau funcionamento. A alteração na proporção de álcool na gasolina, devido à diferença na octanagem, pode levar a diversos problemas. O motor pode apresentar dificuldades na partida, desempenho irregular, falhas e até mesmo detonação (grilagem). Em suma, o veículo pode apresentar um funcionamento comprometido”, explicou o mecânico Ricardo.

Ele disse ainda que a corrosão do carburador pode ocorrer devido à composição do combustível. Carburadores projetados para veículos a álcool possuem um revestimento protetor, como cromo, que os protege contra a corrosão causada pelo álcool. Veículos a gasolina, por outro lado, não contam com essa proteção. “A adição de álcool à gasolina pode, portanto, aumentar a probabilidade de corrosão do carburador, levando a problemas de funcionamento e entupimento”.

TESTES

Como justificativa para aumentar a adição de álcool na gasolina, o governo afirma que testes feitos pelo Instituto Mauá de Tecnologia apontam que o E30 é seguro e pode ser adotado imediatamente sem causar danos aos veículos e consumidores. Também afirma que a partir da mudança, o preço do combustível pode cair até 20 centavos nos postos. Outra explicação é de que o aumento na mistura de etanol na gasolina de 27,5 para 30% foi uma das estratégicas encontradas para conter qualquer possibilidade de aumento no preço do barril de petróleo, analisando possíveis reflexos no mercado internacional, do confronto entre Irã e Israel.

Os testes para a gasolina E30 começaram em janeiro deste ano, tanto em carros novos quanto em carros mais antigos. O resultado foi divulgado em fevereiro, onde atestou-se que a quantidade de etanol misturado na gasolina poderia chegar a 32%. Entre os problemas enfrentados ao longo dos testes, um dos carros apresentou dificuldade na partida e outro, marcha lenta instável.

Nos testes de desempenho, apenas nas retomadas de 80 a 120 km/h os veículos mais antigos apresentaram variações significativas, que iam de -1,38 s e + 2,24. O Instituto relacionou isso pelos carros já estarem “no limite da operação”, por conta da idade.

Edição n.º 1472.