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Artista expressa sua arte em telas e peles
Mistura de elementos surreais e reais marcam obra do artista que também toca guitarra

De início ele pode ter certa cara de “mal”; com seu cabelo longo, suas roupas escuras de rock’n roll pesado, do bom, seus olhos puxados e suas diversas tatuagens espalhadas pelo corpo, ele até consegue nos enganar com sua seriedade explícita. Mas com sua fala calma e consciente, logo percebemos que sua seriedade é questão de responsabilidade, de quem sabe o que faz e onde quer chegar, e descobrimos em Yuri Seima, 23 anos, toda sensibilidade de um homem que resolveu se expressar através da arte.

O desenho entrou em sua vida ele não lembra nem quando, sempre fez isso. Os três tios, irmãos de sua mãe, sempre desenharam e foi assim que ele pegou gosto pela coisa: vendo e depois fazendo. “Comecei muito cedo, tão cedo que nem lembro quando. Desenhar e brincar para mim eram a mesma coisa”, conta Yuri, artista plástico, tatuador e, também, músico. Com os pais Araucarienses, ele nasceu em Curitiba, mas logo voltou para a cidade onde continua até hoje.

Artista expressa sua arte em telas e peles Artista expressa sua arte em telas e peles
Pinturas à óleo com traços surreais trazem pitadas melancólicas e irônicas

Com os anos sua arte foi se desenvolvendo e o que era brincadeira foi tomando forma profissional. Em 2006 foi morar no Japão e lá sua expressão começou a ganhar novos traçados. Do outro lado do mundo, onde ficou por três anos, Yuri trabalhou no chão de uma fábrica de componentes eletrônicos e autopeças e, nos momentos de folga, começou a conhecer suas primeiras referências para o mundo da tatuagem.

“Eu sempre desenhei, mas comecei a levar a sério no ano em que tava lá. Lá eu conheci meu tatuador e comecei a fazer minhas primeiras tatuagens, hoje já perdi as contas de quantas tenho, fazem parte de mim. Conheci eles e falaram que eu tinha um jeito legal de trabalhar com desenho”, contou ele, afirmando que os novos amigos o incentivaram a levar sua arte para o corpo das pessoas. “Sempre gostei de tatuagem por ser um lado marginal. Comecei a entrar no meio, conhecer o pessoal. Assim que fiz a primeira tatuagem em outra pessoa, gostei e decidi continuar”, explica.

O trabalho profissional, tanto de artes visuais como de tatuagem, profissionalizou-se mesmo em 2009. Nesse tempo, para se aperfeiçoar, o artista participou de inúmeros workshops de desenho, técnica de realismo, cartoon, estudo de cor, perspectiva, proporção e outras linhas.

Artes visuais
Inicialmente ele queria ser professor de educação artística, depois percebeu que seu negócio não era ensinar os outros, mas sim, fazer. Para aperfeiçoar seu traço, Yuri desenha todos os dias. Através de várias técnicas, das quais óleo é sua preferida, ele faz suas linhas que se expressam no surrealismo pop e barroco, seus estilos preferidos. Suas inspirações vêm de várias referências: Tin Burton, Mark Ryden, Paul Booth, Michael Hussar, Guy Aitchison, Robert Hernandes, Salvador Dalí, Michelangelo, André Rodrigues (com quem teve seu primeiro workshop de desenho e até hoje segue sua linha de técnicas de estudo para pintura e tatuagem), Victor Portugal e David Stoupakis, entre outros.

Seus traços surreais tornam suas obras expressivas, que passam por tonalidades dramáticas, melancólicas e até irônicas. Com um toque de elementos tradicionais e uma pitada de inspiração contemporânea, as suas pinturas são recheadas de imagens coloridas onde ícones diversos se misturam. “Algumas eu presenteio amigos, outras ficam em casa, outras vão para venda”, conta sobre o destino de seu trabalho. “Agora estou também fazendo um trabalho conceitual com animais. As obras eu rifo ou leilôo e assim arrecado fundos para ONGs e projetos com animais”, conta o artista, confessando, e lamentando, que a ajuda ainda é muito pequena. Além dessas técnicas, Yuri se expressa e desenvolve seus traços em meios alternativos como shapes de skates, pinos de boliche, caixas de pizzas e outras superfícies, divulgadas em exposições.

Tatuagem
A tatuagem já foi usada para identificar bandidos e enfeitar poderosos, para juntar tribos e afugentar inimigos, para mostrar preferências e esconder imperfeições. O que não mudou quase nada foi a técnica de aplicação de tinta na pele. Passados mais de 4 mil anos, ela ainda é feita por meio de agulhas que perfuram nossa pele. Perseguida em vários momentos da história, a prática foi banida por decreto papal no século 8 e em Nova York no século 20. Ainda hoje enfrenta grande preconceito, mas ninguém nega, é uma forma de expressão.

Os traços que Yuri usa para a tatuagem são os mesmos usados em suas pinturas: “Não é estilo tradicional de tatuagem”, explica. O artista trabalha em seu estúdio em Curitiba, o Studio Eletric Tatoo, e atende diversas pessoas determinadas a marcar seu corpo. A responsabilidade é grande, mas o artista se garante: “No meu estilo não tenho problema, não que não tenha desafios, é difícil, por exemplo, começar já pintando, mas sempre deu muito certo”.

Admirador da individualidade, o artista deixa claro, não gosta de copiar imagem; dentro dos desejos do cliente, ele desenvolve seu trabalho. “Precisa saber o estilo, referência, se a tatuagem é colorida ou preto e branca, tem que ver se vai encaixar na parte do corpo que a pessoa quer, entre outras coisas”, explica.Artista expressa sua arte em telas e peles   Artista expressa sua arte em telas e peles
Tatuagens seguem a mesma linha desenvolvida na pintura: surrealismo pop e barroco

Movimentação Cultural
Yuri consegue se manter da arte, mas acha que tem muita coisa ainda a melhorar e expandir. “Em Araucária não tem movimentação artística, não tem incentivo da Prefeitura, na verdade, não tem incentivo e ainda tentam ‘matar’ a gente, não sei o porquê disso”, comenta o artista fazendo alusão a movimentações que já tentou fazer, mas que foram barrados por, entre outros motivos, ausência de permissão e indisponibilidade de localização: “Não ajudam em nada”, conclui.

Mas, apesar da falta de incentivo, para quem deseja entrar no mundo artístico, Yuri dá todas as forças. Ele acredita que qualquer um é capaz de desenhar: “É questão de exercício, desenvolver o cérebro, treino”. E completa: “É diferente gostar de pintar e pintar sério. Sempre fiz desenhos legais, mas tive que estudar mesmo para me desenvolver. Treino todos os dias”. Entusiasta da arte e de suas possibilidades de expressão, o Yuri reconhece tudo que já conquistou, mas lamenta a vagarosidade e falta de iniciativa para o incentivo a cultura em todas suas linguagens, principalmente em Araucária, sua cidade do coração. “Consigo viver da arte, a salvação da arte no Brasil são os tatuadores, conseguem uma renda, ter trabalho e fazer as coisas por conta. Se não fosse isso a arte tava perto de se distinguir”, finaliza.

Serviço
Quem quiser conhecer um pouco mais do trabalho do artista Yuri Seima, de suas pinturas, exposições e tatuagens pode entrar em contato diretamente com o artista: 9882-4583 / 3015-5175 / facebook: Yuri.seima / yuriseima@hotmail.com

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