Entre notebooks e uniformes

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Está em andamento uma polêmica travada entre a Associação Comercial de Araucária e a Secretária de Educação em torno dos uniformes que deverão ser distribuídos aos estudantes´, junto com um kit de materiais escolares.

De um lado, o comércio de confecção almeja lucrar mais com a venda dos uniformes aos mais de 22 mil alunos da rede. Este lucro, é claro, não será repassado aos trabalhadores, que certamente serão sobrecarregados para dar conta dos pedidos até o início das aulas. Os confeccionistas alegam que teriam condições de expandir os negócios e gerar mais empregos com carteira assinada na cidade.

Por seu lado, a SMED tenta fazer licitação pelo menor preço. Assim teria condições de praticar uma política assistencialista, “limpando um pouco a barra” com os pais, que andam extremamente revoltados com as condições oferecidas aos seus filhos das escolas e nos Cmeis. A deterioração do serviço público foi amplamente denunciada durante a greve dos trabalhadores da educação e do serviço municipal.

No meio deste processo estão os estudantes, as famílias, os professores e os diretores de escola. O que pensam disso?

Infelizmente não há entidades estudantis que representem os estudantes para que possam ser ouvidos. Mas podemos arriscar dizer que não estão muito preocupados com o uniforme, mas com o calor que passam nas quadras descobertas, com a merenda escolar, com o ventilador que não funciona e com a qualidade das aulas. E também porque nem gostam tanto assim de uniforme, a roupa costuma ser a expressão da identidade entre os grupos. Nós adultos é que “forçamos a barra”, por uma questão de segurança, de padronização, de economia.

Arriscamos também afirmar, que os pais ficariam muito felizes em receber o uniforme gratuito. Alguns apenas ficariam irritados com a falta de divulgação da distribuição, pois muitos já estão adquirindo os uniformes personalizados da escola dos seus filhos. As famílias mais pobres usufruirão dos uniformes com muita gratidão. Já outras olharão para essa distribuição com grande desconfiança, mas se beneficiarão dela.

Há também os diretores escolares e os professores que lutam por mais verbas para as unidades e estão cansados de vender pastel e realizar bazar de roupas usadas. Estes poderão enxergar os uniformes como um desperdício de recursos públicos, já que a escolas possuem demandas prioritárias.

A briga entre Secretaria de Obras e da Educação atrasou reparos. A burocracia emperra questões que poderiam ser ágeis e facilmente resolvidas. Materiais pedagógicos poderiam ter aquisição rápida e otimizada, caso os recursos descentralizados de R$ 3 por aluno/mês fossem repassados às APPFs, conforme prometido no projeto de lei do Fundo Rotativo.

Uma coisa é certa: é preciso democratizar a forma de aplicação dos recursos da educação. Definir prioridades de forma participativa e democrática. Ouvindo os diversos agentes que compõem o processo educacional para canalizar recursos onde há a necessidade real. Sem essa de se apoiar na teoria do cobertor curto. Em educação, o necessário deve ser feito e não apenas o que é possível no momento. Os UCAAs já deram uma boa lição de desperdício. Não dá pra repetir a mesma história. Sugerimos ao secretário Ronaldo Martins que calce a sandália da humildade e reúna representantes destes segmentos para uma consulta sobre os R$ 5 milhões que pretende gastar nos próximos meses. Fica a dica.
 

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