Eu, o CCZ e o Zíper

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Desde segunda-feira da semana passada, dia 4, estou de férias da Prefeitura. Só volto ao Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), meu posto de trabalho, que também chamo carinhosamente de “minha prisão sem grades”, no dia 4 de maio. Pelas próximas semanas estou praticamente devarde.

Confesso, no entanto, que estou tendo que me acostumar com o afastamento temporário do CCZ. A vida na área urbana é muito agitada. Meu celular, por exemplo, tem sinal de rede o dia todo, o que não acontece no meu posto de trabalho. Logo, toda vez que ele toca, acabo levando um susto. Internet, então? Um artigo de luxo naquelas bandas de Roça Nova, eu tenho ao alcance das minhas mãos a qualquer hora do dia. Isto para não falar de supermercados e similares, que na área urbana eu encontro em toda esquina. Se estivesse no CCZ, precisaria percorrer alguns quilômetros atrás de uma vendinha.

Mas, longe de mim, querer pintar o CCZ como o pior dos lugares para um funcionário público municipal. Afinal, o pessoal que trabalha ali é muito dedicado, apesar dos problemas que o setor enfrenta. Aprendo muito por lá, inclusive observando os vários cães que pelo CCZ passam e àqueles que no CCZ ficam. Negão, por exemplo, o cachorro com incontinência fecal, já inspirou alguns textos meus. Cogitei, inclusive, lançá-lo candidato a vereador.

Outro animal que desperta certo fascínio neste que vos escreve é o Zíper, um cachorro cego dos dois olhos que há algum tempo foi abandonado no CCZ. Lembro-me do dia em que ele apareceu por lá. Estava chovendo e o bicho ficava dando cabeçadas na caixa d’água. Num primeiro momento, achei a cena engraçada. Só depois notei que ele não enxergava. Porém, o que mais admirei no Zíper foi sua capacidade de adaptação e superação à deficiência visual. Quem o viu no dia em que foi jogado por algum monstro em frente ao CCZ, dificilmente acreditaria no que ele se transformou. Hoje, o animal é um exemplo. Precisamos de algum tempo o observando para repararmos que ele não vê. Todo serelepe, ele fica de lá para cá no pátio do Zoonoses, sempre interagindo com os outros cães. Ele também percebe rapidamente a presença de outras pessoas, é claro que ajudado pelo olfato e audição da espécie, mais desenvolvidos do que no ser humano, no entanto, no Zíper esta característica é ainda mais espetacular. Volte e meia, o vejo acoando os lagartos que insistem em se aproximar da tela que delimita o terreno do CCZ. É, sem dúvida, um cão espetacular!

São tantas as qualidades do Zíper que, assim como o Negão daria um excelente vereador, penso que o Zíper daria um excelente prefeito. Com sua audição mais desenvolvida do que a do ser humano, ele ouviria a população gritando que a educação oferecida nas escolas municipais é ruim; que as obras de infraestrutura estão acontecendo num ritmo lento quase parando; que a qualidade da saúde não é das melhores; que os investimentos em cultura não acontecem na amplitude que deveria acontecer; que a política habitacional é ridícula e assim por diante.

Do mesmo modo, o olfato aguçado do cão cego permitiria que ele sentisse facilmente o cheiro das coisas erradas; das terceirizações irregulares; das medições de obras suspeitas; do asfalto de péssima qualidade; do favorecimento dos amigos; dos aluguéis superfaturados; entre outras podridões feitas com dinheiro público.

Isto sem contar, claro, que Zíper é um cachorro, e cachorro, como todos sabem, é o melhor amigo do homem!

Mas, mudando um pouco de assunto, e vocês amigos leitores, têm alguma sugestão de prefeito para nossa cidade. Dêem sua opinião. Até semana que vem!

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