“Pior do que enfrentar uma quarentena, afastado da família dentro da minha própria casa, é ter que conviver com a incerteza se eu fui ou não um caso de Covid-19”. O desabafo é do caminhoneiro Claudio da Mata Martins, 52 anos, que apresentou quase todos os sintomas da doença, foi colocado em quarentena, mas não chegou a realizar o teste porque não havia disponível na rede pública de saúde. Hoje, 23 de abril, é seu último dia de quarentena, e a ansiedade de poder sair do quarto em que ficou praticamente preso durante semanas e abraçar seus familiares, se mistura com o alívio e a alegria de ter conseguido se recuperar.
A triste experiência do araucariense com o vírus começou quando ele chegou de uma das viagens que costuma fazer por vários cantos do país. Ele não pertence a nenhum grupo de risco e seus primeiros sintomas foram fraqueza, dores pelo corpo, falta de ar e tosse. “Procurei atendimento médico na UPA, e ali já me assustei com a maneira como me atenderam, totalmente diferente do que era antes, uma espécie de visível no semblante de todos os profissionais de um inimigo perigoso e desconhecido. Fiz um raio-x do pulmão, que estava um pouco alterado, e mais alguns exames de rotina, como aferição da pressão arterial e batimentos cardíacos, os médicos me receitaram remédios e me mandaram pra casa, pra ficar de quarentena, porque era quase certo que eu estava com a Covid-19. No dia seguinte tive que voltar ao médico, pois havia piorado, estava com febre alta, e mais uma vez fui examinado, trocaram a medicação e me orientaram a voltar para casa. Dois dias depois, me senti mal de novo, a febre subiu para 40º, e a luz vermelha acendeu. Fui examinado pela terceira vez e pediram que eu retornasse para casa e mantivesse a quarentena”, relatou.
Claudio disse que passou por dias extremamente difíceis, tendo que ficar isolado da família e dos amigos, vendo todos usando máscaras dentro da própria casa, sabendo que tudo que ele tocava precisava ser esterilizado logo em seguida. “É uma sensação horrível, que não desejo pra ninguém. É o momento que a gente tem que exercitar a nossa fé, porque essa doença afeta não só a nossa saúde, mas o nosso psicológico, a nossa vida em sociedade, a nossa condição fnanceira.
Garanto a todos que o coronavírus é uma ameaça real, que pode desestruturar qualquer família, seja pela morte de um dos seus, ou pela privação do convívio. E pela experiência que estou tendo com essa doença terrível, deixo um conselho para que as pessoas tomem muito cuidado, obedeçam a todas as orientações repassadas pelas autoridades de saúde, usem máscaras, luvas quando necessário, higienizem corretamente as mãos e levem muito a sério o isolamento social. Jamais saberei oficialmente se fui ou não um caso positivo de Covid-19, mas prefiro acreditar que fui mais um caso recuperado da doença”, disse o caminhoneiro.
Texto: Maurenn Bernardo
Foto: divulgação
Publicado na edição 1209 – 23/04/2020