Iéu nunca fói muito de acreditar nestas estória de supertiçon, mal olhado, de cóisa que dá sórte ou azar, tando qui nunca déu bola quando gato préto passando na frénte quando na estrada caminhando, mais o que anda acontecéndo é cóisa das estranha mésmo, toda véis que iéu pro armazém indo, bém na curva da ponte um desses bicho préto cruzando estrada na frénte de iéu. Despóis quando entrando na descidona o mésmo animal estrada cruzando só que dótro lado. Na encruziada da capelinha vém de vólta o gato préto passando na minha frénte e na reta do armazém passa o bicho na frénte mais uma véis, olha que non fói nem uma nem duas véis, já uns treis méis fazendo que iésto acontecéndo e sempre nos mesmos lugar e o mais interessante é que na volta pra casa o gato préto passa igualzinho que na ida, inté parecéndo que o felino anda siguindo iéu que ném iéstes espion do filme do 007. Mais, mésmo com todas iéstas cruzada nunca ansim déu azar e pelo contrário, iéu nesses tréis méis ganhô dinheron na caxéta, só féis negócio dos bom, saúde inté miorô que iéu acaba mésmo achando que gato préto da sórte e até se acustumando com o bicho passando pra lá e pra cá. Onten, com aquéle temporal, ansim pra non sair das rotina de final de tarde, ponhô galocha e capa de chuva e fói no armazém pra sincontrar cós cunhecido, saber das novidade, jogar um truco e fazér algum negócio, caquéla água que do céu caiéndo o tal gato préto iscundido no mato devendo estar proquê num cruzô ninhuma véis na frénte de iéu, aparecéu só um gato branco méio sujo, no armazéi, adivinhe o qui acontecéu, ganhô cenhon na caxéta, primo Édio pagô o dinhéro que iéu tinha imprestado que pensô qui nunca mais iéu ia receber inda com juro, dono do armazém déu garafa de cachaça de grassa pra iéu, só cóisa das boa acontecendo. Enton gato préto e gato branco son bicho de sórte. Fói enton que iéu resolvéu adotar um gato pra dar sorte em casa e compadre Ignácio déu filhote de gato preto, quando ponhando gato preto no paiol advinhe: Discubriu que seménte de batata tava bichada, aparecéu multa com placa do fusca só que na futugrafia tava um chevette, cumeçô a sintir umas pontada no péito, déu uma topada num cepo que a zunha do dedon pretiô na hora, véio chuva lazarenta que casa alagando tudo cas gotéra que inté locutor da rádio tava pidindo socóro pra non se afogar, geladéra pifô, ispéio quebô, porcada si enchéu de sarna, fijon deitô. Porcaria, iéste gato preto que compadre déu é do azar mésmo, fói na casa de compadre e devolveu o bicho. Sentô na cuzinha livre do gato preto, pois fogo no fogon de lenha pra fazér janta quando iscuitô um miado, será que desgraçado do gato voltô? zoiô pros lado, saiéu pra fóra, tava lá aquéle gato branco sujo, iéu pegô uma ripa e saiéu detráis do bicho, que pulô janela pra dréntro e si escondéu debaxo do fogon de lenha, com fogon quente gato non agüentou muito témpo debaxo e saiéu, pretinho pretinho do picumã, Enton iéra iésto, dia da chuva tinha lavado o animal, e o que dá sorte é mésmo gato branco, mésmo pintado com picumã. Desgracéra mésmo.
Publicado na edição 1241 – 03/12/2020