Iniciando batalha pelo setor cultural
Secretária encara o desafio de escrever a nova história da movimentação cultural araucariense

Com a troca de governo, trocam-se os secretários. No Setor de Cultura de Araucária o desafio foi assumido por Irene Olbre Zanon, que se prepara para o grande trabalho que tem pela frente, trabalho esse analisado de perto, com olhos atentos, por toda população. Com calma e tempo, a nova secretária respondeu por email, como preferiu, as perguntas de O Popular. Acompanhe um pouco sobre quem é a nova cabeça chefe do setor cultural da cidade e seus projetos:

Irene, como começou seu gosto pela arte? Conte um pouco da sua trajetória no setor cultural
Trabalhei com Cultura minha vida toda. Compreendo que a Arte é uma criação humana que desenvolve valores como a beleza, o equilíbrio, a harmonia, bem como os seus opostos, e que sintetizam as emoções, os sentimentos, a história e a cultura de uma pessoa, de um grupo, de um povo. Assim, não posso demarcar um momento específico do meu gosto pela Arte, mas que ele foi desenvolvido já a partir das minhas relações familiares, com a cultura da minha própria família.

Quanto à trajetória no setor cultural, é minha primeira experiência, mas não com a Cultura! Um dos educadores que norteou grande parte da minha trajetória profissional, chamado Álvaro Vieira Pinto, tratava a criação do homem e a criação de cultura como duas faces de um só mesmo processo. É isso que me fundamenta.

Na sua opinião, quais os elementos fundamentais da cultura araucariense? De onde vem essa influência cultural e como pretende resgatar as tradições?
O grande desafio é escrever a história atual e eu entendo que não existe cultura superior ou inferior, melhor ou pior, mas sim culturas diferentes. Araucária, hoje, além de apresentar elementos culturais dos primeiros povos que aqui viveram, já se mostra com uma diversidade cultural bastante ampliada. Então, além de resgatar tradições, acredito que o papel da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo é também identificar e valorizar essas diferentes manifestações culturais que tenho observado fazerem parte de nossa cidade. Como nasci, cresci e desenvolvi toda a minha vida aqui em Araucária, tenho esse olhar tanto para as tradições quanto para o novo que se apresenta.

O cargo de Secretário da Cultura de Araucária, ainda que com muito trabalho pela frente, é visível e visado. Há algo que a desafia ao assumir este posto?
Assim como a vida, todo trabalho é um desafio. Contribuir para o desenvolvimento cultural de uma cidade, estimulando a criatividade, a expressão das diferentes linguagens, a produção e a criação ar­tística de forma geral é o meu maior objetivo. E, além disso, criar formas para que essas produções possam ser comunicadas e amplamente difundidas.

Quais serão suas primeiras ações à frente da Secretaria de Cultura?
Estou vivenciando um momento de diagnóstico, com o objetivo de conhecer o quê e como cada setor organizava e desenvolvia suas atividades. Além de visitar todos os espaços sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (SMCT), fiz o roteiro do Turismo Rural objetivando identificar novas possibilidades para essa área. O plano de Ações da SMCT será meu próximo passo.

Você acredita na horizon-talidade de ações a partir das Organizações Sociais? Por quê?
Acredito sim! Organizar as ações de forma coletiva e participativa é pressuposto fundamental do meu trabalho. Já dei início a um planejamento participativo no qual tenho chamado os diferentes segmentos envol­vidos com a cultura e o turismo da cidade. Quero estar presente nos diferentes espaços culturais da cidade para conhecer e visualizar novas formas de contribuir para o desenvolvimento de cada um deles. Considero importante, também, estabelecer parcerias com as demais secretárias municipais, no que seja neces­sário para desenvolver as ações na área da Cultura e do Turismo. Não basta ouvir as diferentes vozes, é necessário acolher as ideias e fazer delas ações que se concretizem.

Pensa em criar novas obras ou instrumentos de fomento a criações artísticas?
O plano de ação da SMTC parte da proposta elaborada pelo prefeito e aprovada pela população nas urnas. É uma proposta bastante ousada que prevê a criação de uma Escola de Arte, a construção de uma nova Biblioteca Municipal, um novo Teatro Municipal, entre tantas outras que vão exigir todo o nosso empenho. Aliam-se a este plano de ação os anseios da sociedade araucariense, que estão registrados na proposta do plano municipal de cultura.

O papel do Estado é garantir que as pessoas sem recursos tenham acesso à cultura. Como pretende democratizar esse acesso as populações periféricas?
Uma ação que entendo ser imediata e necessária é a criação de uma Agenda Cultural da cidade na qual a população será informada sobre o quê, quando e onde estarão aconte­cendo as atividades culturais e de turismo. Seja no centro ou nos bairros não centrais, todos possuem sua forma de expressar, pensar, agir e sentir, portanto todos têm sua cultura, que manifesta o seu modo próprio de vida. Valorizar a cultura local é fundamental, mas não basta, é primordial levar novas formas de expressão cultural para as comunidades e também possibilitar que elas tenham espaços para expor o que estão produzindo, seja ela na forma de pintura, desenho, gravura, fotografia, cinema ou ainda a escultura, arquitetura, a moda, a decoração, o pai­sagismo, a dança, a música. Quanto à comunicação, penso em utilizar todas as formas possíveis: sites, rádio, jornal, televisão, redes sociais, entre outros. O acesso começa com a informação.

A Secretaria da Cultura tem o 14º (R$ 5.959.353,00) menor orçamento da administração municipal 2013, sendo que grande parte desse recurso vai para a folha de pagamentos. Como driblar este problema para realizar os projetos?
Eu tenho experiência como gestora pública, fui diretora e Secretária da Educação. Além de coordenar este processo, conheço os caminhos para trazer recursos para o Município utilizando o regime de colaboração com as esferas Estadual e Nacional, através do estabelecimento de Projetos e Convênios. Além disso, o Sistema Municipal de Cultura e Turismo irá permitir a busca de recursos por meio do Fundo Municipal de Cultura, Incentivo Fiscal (IPTU e ISS) e também do Fundo Municipal de Patrimônio Cultural, assim que forem implementados.

O Movimento cultural imdependente, de música, dança, teatro… reclama da falta de espaço ofertada pela prefeitura – tanto rela­cionado a recursos quanto disponibilidade de espaços físicos para apresentações – está previstq alguma iniciativa para esses artistas?
Essa Administração, através da SMCT, quer iniciar as atividades realizando um grande Censo Cultural para conhecer as diversas categorias artísticas de nossa cidade, identificar individualmente os protagonistas do arsenal cultural de Araucária, seus anseios, suas potencialidades, para então estabelecer com eles diretrizes de estruturação, incentivo e participação em um movimento que recuperará nossa identidade cultural, hoje esquecida, e dinamizará novas práticas, em espaços adequados ao uso e garantindo as condições dignas para que os profissionais das artes desenvolvam um trabalho com qualidade. Para isso é importante que todos os artistas, independente da arte que praticam, se aproximem da Administração, organizem-se enquanto cate­gorias frequentem a SMCT e construam conosco uma política de cultura justa, igualitária e coerente com os anseios da nossa população.

Fala-se muito sobre o incentivo a todas as formas de criação artística, porém a música é uma das expressões mais populares por conta da facilidade de acesso, de início é mais palpável. Você prevê novas ações para esta área?
Na proposta de governo do nosso prefeito, está indicada a criação de uma Orquestra Sinfônica Musical, objetivo no qual estaremos trabalhando. Além deste, já estamos prevendo a retomada da Banda Municipal, a criação de um Coral Municipal, além de oferecer cursos e oficinas na área de música para as comunidades da cidade. Sem deixar de destacar a necessidade de criar espaços para dar visibilidade aos artistas locais, pois a música enquanto arte cria, representa e comunica a cultura de um povo. Precisamos fazer conhecida a cultura do nosso povo.

Desconsiderando as possibili­dades reais que possuímos, se fosse possível realizar um grande projeto cultural em Araucária, como seria o dos seus sonhos?
O grande sonho seria a construção de uma Galeria de Cultura e Turismo ao lado da Casa da Cultura, ligando a Praça Dr. Vicente Machado e a Rua Major Sezino, na qual o cidadão de Araucária pudesse transitar e imergir em um complexo cultural tendo acesso a mostras de arte de artistas locais, com espaços próprios para que eles também possam vender as obras criativas (quadros, esculturas, gravuras, entre outros). Esse espaço seria ainda um difusor por excelência de cultura através de livrarias, antiquários, café, comidas típicas, além de ser um centro promotor de cursos, oficinas, ateliês, palestras, lançamentos de livros, eventos culturais dos mais variados. Penso ser também um espaço ideal para uma feira permanente na qual os artesãos locais pudessem expor e comercializar sua produção.

Agora analisando dentro das condições existentes, financeiras e estruturais, qual é sua grande aspiração como secretária de cultura?
Sonhos movem o mundo. Verbas existem e vamos buscá-las nas esferas estadual, nacional e, se necessário, no setor privado. O que observo no Brasil, de forma geral, é a ausência de bons projetos, mas isso posso afirmar com certeza, temos bons projetos e um grande entusiasmo para executá-los.

Como você deseja que sua gestão fique marcada? Quais suas estratégias para alcançar tal meta?
Gosto muito de um texto bíblico que orienta que não devemos fazer nada por vanglória, mas por humildade (Filipenses 2.3) e é nisso que eu acredito. A palavra humildade vem do latim “húmus” que significa “filhos da terra” indicando uma qualidade daqueles que não tentam se projetar sobre outras pessoas, mas que se colocam a serviço do outro. É esta marca que pretendo deixar, um trabalho honesto, sem rodeios, sem máscaras, atuando sempre com boa fé, compromisso e responsabilidade.

Considerações finais:
Muito me honra o convite para ocupar o cargo de Secretária de Cultura e Turismo. É a possibilidade de participar mais de perto de uma gestão que tenho orgulho de ter ajudado a eleger. Por isso, quero agradecer de coração esta oportunidade e me comprometer a dar a minha contribuição na construção de um novo tempo para a Cultura e o Turismo da nossa cidade.