Pela primeira vez, desde o início do Plano Real, esse rendimento é maior que o de títulos públicos devido à queda dos juros
O engenheiro Luiz Fernando Gambi passou mais de 15 anos ouvindo provocações sempre que conversava sobre investimentos. Seus amigos aplicavam, basicamente, na bolsa e na renda fixa – e ficaram um bom tempo rindo à toa com os juros de 20% ao ano e com a valorização das ações, especialmente das empresas que abriram o capital entre 2004 e 2007 (algumas chegaram a subir mais de 50% num único dia).
Só que, de acordo com a revista EXAME, ele sempre investiu em imóveis – e só em imóveis. Seu objetivo era comprar o maior número possível de casas e apartamentos e alugá-los para conseguir um retorno de 1% ao mês. Para os amigos, era uma loucura: Gambi passava vários finais de semana procurando imóveis, outros acompanhando a reforma de propriedades antigas e um bom tempo negociando com corretores – e, se tudo desse certo, ganhava perto de 13% ao ano.
Hoje, quando as conversas sobre investimentos aparecem, os papéis se invertem. São os amigos que ficam pedindo conselhos. “Eles querem saber os melhores bairros, o que eu visitei no fim de semana, essas coisas que pareciam chatas e agora parecem interessantes”, diz o empresário à revista.
Segundo a publicação, é verdade que comprar um imóvel para alugar – ou colocar dinheiro num fundo imobiliário que receba aluguéis de um shopping ou prédio comercial – não é o melhor negócio do mercado. O retorno que os investidores têm conseguido fazendo isso caiu de 7% para 6% ao ano, em média, nos últimos cinco anos, segundo uma pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Mas, pela primeira vez desde o início do Plano Real, em razão da queda dos juros, esse rendimento é maior que o de títulos públicos atrelados à inflação. E, no caso dos imóveis, ainda existe a chance de os preços subirem e de o investidor ganhar algum dinheiro vendendo por um valor maior.
Como investir
Segundo a revista, de maneira geral, os imóveis mais fáceis de ser alugados são os pequenos, de até dois dormitórios. Em parte, isso é explicado pela mudança no perfil de moradia dos brasileiros: na última década, o número de pessoas por domicílio caiu 16%, e quem decide sair de casa geralmente procura um lugar pequeno. Mas, para ganhar dinheiro comprando e alugando imóveis desse porte, é preciso barganhar para pagar pouco.
No entanto, a publicação ressalta que nenhum consultor financeiro recomenda investir como Fernando Gambi ao aplicar tudo o que têm em imóveis. Ainda que a renda recebida com os aluguéis possa ser usada para cobrir algum gasto inesperado – ou para pagar a viagem de férias, por exemplo -, concentrar as apostas é arriscado.
Além disso, ela garante que há oportunidades interessantes na renda fixa e na bolsa – com retorno, algumas vezes, superior ao do mercado imobiliário. De forma geral, os especialistas sugerem investir entre 5% e 30% do patrimônio em imóveis ou fundos do setor. “Deixar de considerar essa opção é um erro, ainda mais num momento em que todo mundo precisa buscar retorno maior que a renda fixa”, diz Rodrigo Menon, sócio da consultoria Beta Advisors, que atende clientes de alta renda.
E o que Luiz Fernando Gambi tem dito a seus invejosos amigos? “É difícil achar bons negócios”, afirma. “Só procurando muito”, completa. Por isso, a revista afirma que vale, para investimentos no mercado imobiliário, a mesma regra de sempre: “É até possível ganhar mais dinheiro que a média. Mas que dá um trabalho danado, dá”, finaliza.