Jesus alertou os seus discípulos sobre tudo aquilo que iriam passar, pelo fato de serem seus seguidores. Seriam perseguidos, caluniados, presos e condenados, mas, mesmo diante disso tudo, não deveriam sucumbir e nem abandonar a propagação da boa nova do evangelho. Pelo contrário, deveriam permanecer firmes na fé, como suas testemunhas, em todos os lugares do mundo. Ele garantiu que estaria com eles, ao lado deles, protegendo-os e defendendo-os. A presença do Mestre seria sua fortaleza, sua coragem, superando assim todo possível medo diante das inúmeras e contínuas ameaças físicas. E disse: não temais os que matam o corpo, pois eles não conseguem destruir a alma. ‘Tende medo somente do medo de quem mente para sobreviver’. Ou seja, a verdade acima de tudo, mesmo que isso custe a própria vida. Jamais mentir ou renegar a própria fé.
Sabemos pela história, que os discípulos saíram em missão, enfrentando uma série de perseguições, mas jamais sucumbiram diante das enormes adversidades. São Paulo vai dizer numa de suas cartas que nada o poderia separar do amor de Cristo, ‘nem a tribulação, nem a espada; nada poderá nos separar do amor de Deus, que se manifestou em Cristo Jesus, nosso Senhor’ (Rom 8,35-39). Ao longo da missão, Paulo e os demais apóstolos, foram torturados, presos e, todos eles, menos João, morreram como mártires do evangelho. O medo não os abalou, não os fez voltar atrás, porque, alicerçados no amor de Deus, foram fortes e firmes na fé, até as últimas consequências. O testemunho deles continua sendo para nós, cristãos de hoje, modelo a ser seguido.
A perseguição aos cristãos, tão presente no início do cristianismo, já não tem a mesma volúpia e intensidade no contexto atual. Claro, existem regiões ainda em que os seguidores de Jesus são caluniados, presos e até mortos, mas, nada comparado com aquilo que foi vivido pelos apóstolos e pelos primeiros cristãos, ao longo dos três primeiros séculos da era cristã. No entanto, hoje se avistam outras realidades que podem nos amedrontar e buscar refúgio na mentira, na acomodação, na passividade, na resignação diante das situações adversas da vida. O medo sempre foi e continua sendo o grande inimigo de uma vida livre, onde a verdade deverá imperar. Por medo da verdade, se omitem fatos, se negam realidades, se escondem as violências, tapando o sol com a peneira, como se nada de grave estivesse acontecendo.
Em tempos de pandemia, o medo parece tomar conta de muitas pessoas. O medo de ficar doente, de pegar o Covid19, o medo de ficar na UTI, e, o mais grave de tudo, o medo da morte. Outros, levados por um medo que chega a ser paranóico, vêem tudo como uma grande desgraça, o fim da humanidade, como se não existisse mais o amanhã, pairando uma grande incógnita sobre o futuro. Realmente, vivemos um tempo totalmente adverso, que, mesmo naqueles mais livres e corajosos, impõe medo. O medo moralmente falando não é nem bom e nem mau, é apenas um sentimento. O que não podemos é de um lado negar a realidade, e, de outro, fazer um drama excessivo. Diante do medo, devemos seguir as orientações sanitárias, não negar a ciência. Para vencê-lo, precisamos tomar as devidas precauções, ou seja, manter o distanciamento social, lavar as mãos frequentemente e usar a máscara. Simples assim! Mas muitos teimam em negar o problema e acabam sofrendo as consequências, sendo afetados pela doença. Aceitar a realidade e cuidar de si mesmo, para cuidar dos outros, é, neste momento, o que Deus nos pede para enfrentarmos o medo com fé e coragem.
Publicado na edição 1217 – 18/06/2020