“Não tenho receio em ter que mandar secretário embora”
Olizandro garante que pretende nomear o mínimo de parentes possível

Passados pouco mais de trinta dias da eleição, o prefeito-eleito Olizandro José Ferreira (PMDB) concedeu sua primeira entrevista ao jornal O Popular do Paraná desde a vitória, em 7 de outubro. O vencedor das eleições 2012 recebeu nossa equipe na manhã de sexta-feira, dia 9 de novembro, data – aliás – em que ele completava 54 anos de idade.

No bate-papo, Olizandro falou sobre vários temas, entre os quais a sensação de ter perdido a Prefeitura em 2008 e, neste ano, tê-la reconquistado justamente sobre seu algoz há quatro anos. O modo como ele pretende se relacionar com o Poder Legislativo, com sua equipe e com o próprio vice também foram objetos de análise do peemedebista. Na entrevista, o prefeito eleito ainda falou sobre como deve ser a participação de familiares na administração vindoura, de como ele recebeu a expressiva votação obtida pelo novato em política Hissam Hussein Dehaini (PPS) e o modo como pretende gerir as áreas de Educação e Saúde. Confira abaixo:

O caminho da derrota em 2012 até as eleições em 2012
Quando perdemos a eleição em 2008, o impacto da derrota foi o de que não sairia mais candidato a nada. Ainda mais do modo como foi, pois que tínhamos um governo amplamente aprovado pela população. Então, foi um caso atípico. Tínhamos 70% de aprovação do governo e perdemos politicamente. Passei o ano de 2009 inteiro firme na decisão de que não seria mais candidato a nada. Preocupei-me somente em trabalhar na atividade que exerço, que é no ramo imobiliário. Mas já em 2010 começaram algumas cobranças, as pessoas começaram a dizer “você tem que voltar”, porque a população já entendia que o atual governo não ia bem. Confesso que não resisti, até por conta deste espírito de liderança que carrego. Isto fez com que já a partir daquele ano fôssemos colocados como pré-candidato. E desde então fomos conversando com as lideranças, nos organizamos enquanto partido. Até porque o governo atual já dava sinais de que seria um fracasso. E constatei isso devido à falta de programação da Prefeitura. Quando fui prefeito, nos primeiros 120 dias de governo fiz o lançamento de todas as obras que pretendia realizar. Já esta gestão passou o primeiro ano totalmente em branco. A equipe dele também foi distribuída de forma totalmente errada. Na Secretaria de Obras mesmo, o vice-prefeito foi posto lá e já no início do segundo ano se recolheu em sua posição de vice porque pretendia ser candidato a deputado e não queria se queimar na Secretaria de Obras.

Sensação de ter vencido Zezé
Fazendo uma apologia ao futebol: para o corintiano, ganhar um jogo é bom, mas ganhar do Palmeiras é melhor ainda. É a mesma coisa: ganhar a eleição foi bom, ganhar daquele que todos diziam ser um mito foi melhor ainda. Mas, deixando a brincadeira de lado, a vitória nestas eleições, acima de qualquer coisa, comprova que aquela história de que quando venci em 2004 e que todos diziam que quem havia vencido foi o Zezé não passava de mais uma ilusão. Aquela eleição quem venceu não foi ele, não fui eu. Foi um grupo político. E agora que o grande grupo não existia mais a população pode comparar administrações realizadas. E eu não tenho dúvidas de que a minha vitória em 2012 se deve em grande parte a administração que fiz entre 2005 e 2008.

A participação das lideranças políticas na eleição.
Hoje existe um quadro de que os partidos políticos são pouco valorizados pela população e consequentemente a figura individual dos candidatos acaba se sobrepondo. Neste sentido, o apoio de lideranças políticas como os vereadores servem mais para complementar a campanha, mas eles não são mais essenciais para definir quem ganha e quem perde a eleição majoritária. O resultado da eleição é basicamente definido pela figura do candidato e pelo momento político. Um bom exemplo é a candidatura do Hissam, que sem grupo político algum, fez 20 mil votos. Esses votos são muito mais de protesto do que necessariamente dele. O momento político acabou dando esses votos a ele. Mas, falando especificamente das composições políticas, elas servem muito mais para evitar que percamos votos do que representam acréscimo de votos. Por exemplo, eu tenho certeza de que se não tivéssemos composto com o ex-prefeito Rizio teríamos perdido a eleição. Isto não quer dizer que ele agregou diretamente votos a minha candidatura, mas – com certeza – fez com que deixássemos de perder votos.

Efeito Hissam no mandato
Como já disse, creio que os votos dados a Hissam, em sua grande maioria, foram votos de protesto. Fazendo uma analogia, ele foi aqui o que o Tiririca foi em São Paulo na eleição passada. As pessoas estavam meio revoltadas com a política e deram o voto para o Tiririca como forma de protesto. E não há dúvidas de que os votos recebidos pelo Hissam aumentam nossa responsabilidade. Não necessariamente com relação à programação de obras, que isso já apresentamos durante a campanha. O que teremos que fazer é trabalhar firmes para esclarecer a população do que é Araucária. Por exemplo, nós nunca nos preocupamos em mostrar ao cidadão a fragilidade orçamentária do Município. E isto faz com que aqueles que não participam do dia a dia da Prefeitura achem um absurdo o tamanho do orçamento da cidade. Nesta administração precisamos mostrar as pessoas que Araucária não é uma ilha da fantasia. Precisamos rediscutir esta cidade e ao fazemos isso conseguiremos dar mais qualidade de vida a nossa população.

Composições políticas na administração
Não me preocupo com relação a isso, já que as composições foram feitas com pessoas que podem ser aproveitadas no governo. Particularmente, no entanto, não defini ainda quem participará diretamente da administração. Por exemplo, ainda não conversei com o ex-prefeito Rizio para saber se ele quer participar diretamente como secretário ou só colaborando. Mas, claro, se ele quiser participar, ele participará, gostaria de utilizá-lo num setor relacionado a desenvolvimento urbano ou planejamento da cidade.

Grupo novo
Diferentemente da administração passada em que a administração era composta por pessoas que mais tarde, descobri, não eram tão fieis, nesta vamos governar com um grupo totalmente independente. Jamais vou cometer o erro que cometi no passado de manter em cargos pessoas nas quais não confio. No governo passado, por exemplo, boa parte da administração era indicada politicamente ou por grupos ou por vereadores. Isto agora não vai acontecer! Agora o político que aceitar fazer parte do nosso governo, pertencerá somente ao nosso grupo. Não vou aceitar que existam na administração subgrupos. As indicações políticas, obviamente, vão acontecer. Mas só vou aceitar indicações com critérios técnicos. Os indicados precisam ter condições técnicas para ocupar os cargos. E o seguinte: não vou hesitar em mandar embora aquele secretário que não funciona!

Período pós-eleição
Desde a vitória em 7 de outubro, procurei falar o mínimo possível sobre o futuro da administração. Tenho dedicado este período para pensar e estudar questões orçamentárias e administrativas. Há uma equipe de minha confiança me auxiliando neste sentido. Mas sobre cargos, não falo. Até porque nem sei direito até que ponto manterei a estrutura administrativa do jeito que está.

Relação com a Câmara
Ganhamos a eleição, mas elegemos apenas quatro vereadores. É natural que tentaremos buscar a maioria na Câmara. Logo, vamos conversar sim com os demais. É claro que tenho minhas preferências. Quero conversar com vereadores interessados em discutir e trabalhar pela cidade. Espero que os vereadores nos ajudem e até abram mão de manobras políticas com interesses pessoais. E de antemão, já aviso: não vou conversar com vereadores que já estão sinalizando que querem negociar objetivando interesses pessoais. Com estes, nem vou perder tempo.

Família no governo
Vou aproveitar alguns nomes, mas sem exageros. De certo, e disso não abro mão, é que vou aproveitar a experiência e competência da minha esposa na pasta de Assistência Social. Além dela, nenhum outro familiar está certo na administração. Vou utilizar o mínimo de pessoas possíveis. A gestão atual, por exemplo, tem uns dez parentes nomeados como agentes políticos. Não abusarei dessa prerrogativa como eles fizeram.

Relação com o vice
A função do vice é ocupar o cargo do prefeito na ausência deste. O que não podemos aceitar é que o próprio vice faça barganhas, até porque ele já ficou com o principal cargo do grupo, que é de vice. Mas, sinceramente, creio que a relação entre prefeito e vice depende muito mais do vice do que do prefeito. Se ele estiver comprometido com a nossa intenção de fazer um grande governo, nossa relação será excelente, do contrário podemos ter problemas.

Preocupação com o TSE
Na verdade, não me preocupo com isso. Sinceramente, ouvindo nossos advogados e verificando decisões daquele mesmo órgão em processos semelhantes, não tenho dúvidas de que o recurso não dar em nada. Até porque não houve improbidade administrativa, não houve dolo, ou qualquer coisa errada praticada por mim. Mas, é claro que isto não quer dizer que não estamos acompanhando o caso e, de novo, juridicamente, estamos muito tranquilos.

Condução das secretarias
O que eu quero agora é deixar claro já quando convidarmos os secretários é o que desejo deles. Vamos fixar metas para cada um deles. E já nos primeiros dias de governo, depois que cada secretário tome pé de suas secretarias, vamos tirar dois dias para fazermos um congresso interno para estipularmos os objetivos de cada um. E ali eles já assinarão termos de compromisso com a administração. Do mesmo modo, vamos criar indicadores para saber até que ponto as metas serão cumpridas. E se não forem, eles serão mandados embora.

Educação e Saúde
Estas são duas áreas que nos preocupam muito. E precisamos trazer os funcionários destas áreas para um grande debate. Por exemplo, eu fico chateado quando vejo uma pauta de reivindicações do magistério onde noventa por cento dos pedidos dizem respeito a melhorias financeiras. Do mesmo modo, não aguento encontrar professores que a primeira coisa que me dizem é que votaram em mim e que agora querem deixar as salas de aula porque estão cansados dos alunos. Não quero nenhum professor fora de sala de aula por questões políticas. Haverá exceções, claro, mas desde que esses profissionais contribuam mais para a administração em outro setor que não a sala de aula. Do mesmo modo, na área de saúde precisamos melhorar a qualidade do atendimento nos postos de saúde. Para isto, queremos ter nos postos de saúde os médico-horistas que estarão lá para atender a população independentemente de agenda. O cidadão acorda doente e procura o posto e lá vai ter o médico para atendê-lo naquela manhã, isto deve diminuir consideravelmente o movimento nos pronto atendimentos. Então, teremos nos postos esses médicos plantonistas e também aqueles responsáveis pelas consultas eletivas. Também quero o mais rápido possível criar um centro de diagnóstico em parceria com a iniciativa privada. Deste modo, não submeteremos nossos pacientes a terem que se dirigir até Curitiba para fazer um exame. E também precisamos firmar parcerias com as grandes empresas de Araucária para que elas nos auxiliem na manutenção da Saúde e Educação. Enfim, vamos correr muito, inovar. Há muito que se fazer!