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Mais cedo ou mais tarde, todos nós teremos que sofrer. Uma doença grave, um acidente inesperado, a morte de um ente querido, desgraças de todo tipo nos obrigam um dia a tomar posição diante do sofrimento. Eu mesmo tive experiências muito dolorosas ao longo deste ano, com o câncer em várias pessoas da família e um acidente grave de um sobrinho. De repente o mundo parecia que iria cair diante de tantas situações dolorosas vividas ao mesmo tempo. E ai a pergunta: o que fazer diante do sofrimento?

Alguns limitam-se à revolta. É uma atitude explicável: protestar, revoltar-nos diante do mal. Quase sempre esta reação intensifica ainda mais o sofrimento. A pessoa se exaspera. Surgem diversas perguntas: mas porque isso acontece comigo? O que fiz de errado para merecer tanta dor? Por que meu filho e de modo tão violento? É fácil, com esta atitude, chegar ao esgotamento e ao desespero.

Outros se fecham no isolamento. Vivem dobrados sobre sua dor, relacionando-se apenas com suas tristezas e sofrimentos. Não se deixam consolar por ninguém. Não aceitam alívio algum. Por esse caminho, a pessoa pode autodestruir-se. O fechamento em si mesmo não é o recurso, não é a saída, não é a solução.

Há os que adotam a postura de vítimas e vivem compadecendo-se de si mesmos. Precisam mostrar seus sofrimentos para todo mundo. ‘Vejam como sou infeliz’, ‘Vejam como a vida me maltrata’, ‘eu não valho nada mesmo’, ‘melhor não tivesse vindo ao mundo’ e tantos outros modos de se diminuir. Esta maneira de manipular o sofrimento nunca ajuda a pessoa a amadurecer. Muito pelo contrário, levará a uma ruína, a uma possível depressão e, tantas vezes, a tirar a sua própria vida.

A atitude daquele que acredita em Deus é diferente. O cristão não ama nem busca o sofrimento, não o quer nem para os outros nem para si mesmo. Segundo os passos de Jesus, luta com todas as forças para arrancá-lo do coração, da sua existência. Mas, quando é inevitável, sabe ‘carregar sua cruz’ em comunhão com o ressuscitado.

Esta aceitação do sofrimento não consiste em dobrar-se diante da dor porque ela é mais forte do que nós: isso seria fatalismo, não atitude cristã. O crente tampouco procura explicações enganadoras, considerando o sofrimento um castigo, uma prova ou uma purificação que Deus nos envia. O Pai não é nenhum ‘sádico’ que encontra prazer especial em ver-nos sofrer. Tampouco tem motivo para exigi-lo, como que a contragosto, para que fique satisfeita sua honra ou sua glória.

O cristão vê no sofrimento uma experiência na qual, unido a Jesus, ele pode viver sua verdade mais autêntica. O sofrimento continua sendo mau, mas precisamente por isso se transforma na experiência mais realista e profunda para viver a confiança radical em Deus e a comunhão com os que sofrem.

Vivida assim, a cruz é o que há de mais oposto ao pecado. Por quê? Porque pecar é buscar egoisticamente a própria felicidade, rompendo com Deus e com os outros. ‘Carregar a cruz’ em comunhão com o Crucificado é exatamente o contrário: abrir-se confiantemente ao Pai e solidarizar-se verdadeiramente com os irmãos que estão sofrendo.

Publicado na edição 1179 – 05/09/2019

O que fazer diante do sofrimento?

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