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Igreja ortodoxa em madeira na Colônia Ipiranga, 1945 Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Os ucranianos da colônia Ipiranga
Missa na capela Assunção de Nossa Senhora em língua ucraniana e com o padre de costas, segundo costume ortodoxo, 2012. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres

No final do século XIX entre a leva de imigrantes europeus que chegaram à Araucária estavam os ucranianos. As primeiras famílias ucranianas estabeleceram-se na colônia Ipiranga a partir do ano de 1895 e ali muitas delas permanecem e conservam muito da cultura de seus antepassados.

As primeiras celebrações religiosas da colônia eram realizadas ao ar livre, pois a primeira capela foi construída somente em 1899. Por ser de madeira, ela teve de ser reconstruída uma segunda vez, até que em 1982 foi erguida em alvenaria a capela Assunção de Nossa Senhora, em arquitetura ortodoxa. Ali ainda são realizadas missas em ucraniano e festa com culinária típica.

Seu cemitério conserva túmulos com inscrições em língua ucraniana, apesar de os primeiros sepultamentos terem sido realizados no cemitério dos Palhanos, que já existia na região, e que, apesar de atualmente encontrar-se bastante vandalizado, ainda conserva alguns resquícios de túmulos com escritos em língua ucraniana.

Em seu cotidiano as famílias de descendentes também conservam traços da cultura ucraniana em seus lares, como a língua, os bordados com formas geométricas, a culinária e alguns costumes em épocas festivas. O período que antecede o Natal é considerado pelos ucranianos como quaresma, a Pelêpivka, um período de jejum, por isso, na noite de Natal os descendentes de ucranianos não consomem carne, e para a ceia preparam doze pratos (que na era anterior ao cristianismo, quando a ceia celebrava o solstício de inverno, representavam os doze meses do ano, e atualmente representam os doze apóstolos). Antônio Muka, 58 anos, em entrevista ao Arquivo Histórico em 2015, contou que sua família ainda segue os costumes ucranianos, e que na noite de Natal preparam os doze pratos: o trigo cozido em forma de sobremesa – kutiá, milho cozido, pepino em forma de salada, beterraba em forma de sopa – borstch, repolho cozido – kapusniak, charuto de repolho – holuptsi, pêssego em calda, pastel de requeijão cozido – perohê, nata, queijo, uva e tomate. Somente no dia de Natal é que eles consomem carne.

Ainda que muitos costumes tenham sido preservados, alguns aos poucos foram se perdendo, como o que as primeiras famílias faziam na noite de Natal, o didukh, que era um feixe de centeio ou de trigo que era trazido para dentro de casa. Esse era um costume seguido pela fé cristã ortodoxa dos ucranianos, e, segundo a tradição, na noite de Natal quando todos estão já reunidos, o dono da casa – hospódar – traz esse feixe para dentro da casa para representar seus antepassados, os falecidos, bem como a fartura, a boa colheita e o bem estar das pessoas daquela família. O ‘didukh’ era trazido para dentro de casa como um ritual sagrado, com respeito, e colocado em um lugar de destaque, anteriormente preparado. Esse feixe, na noite de virada de ano, antes de clarear o dia do novo ano, deveria ser levado para o paiol. Segundo o senhor Antônio Muka, com palha faziam um tipo de ninho que era colocado debaixo da cama, para que durante a noite didukh deixasse ali alguns presentes.

Pra quem quiser conhecer a colônia, ela faz parte do Roteiro Rural Caminhos de Guajuvira, e pra quem quiser experimentar a culinária típica, anualmente, no mês de agosto, por ocasião da festa em louvor à Assunção de Nossa Senhora, é servido almoço com algumas das receitas típicas ucranianas, como o perohê e o holuptsi.

Texto: Luciane Czelusniak Obrzut Ono

Publicado na edição 1180 – 12/09/2019

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