Os bailes do limpa banco

Lagoa Suja, 1990. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Facebook
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Os bailes do limpa banco

“No baile do limpa banco iéu quis dançar um xote, Invocados deu sinal e iéu saiu dando pinote! (…) Toca Vitinho, toca Ipenor, iéu quer dançar pra encontrar o meu amor” (“Baile do Limpa Banco” – Isidório Duppa)

Essa canção de Isidório Duppa, um dos mais hilários personagens de Araucária, reflete a diversão dos tempos em que pipocavam os bailes em Araucária. Com exceção do tempo de quaresma (além do respeito religioso, diziam os antigos que quem dança na quaresma cria rabo!), quase todos os sábados tinha baile em alguma sociedade ou salão de festa de igreja, em Araucária. Era no Taquarova, Campina das Pedras, Tietê, Colônia Cristina, Pavuna, Operário, entre tantos! Tinha até ônibus que saía do centro da cidade só pra levar e trazer a turma ao baile na área rural, e quem se empolgava e perdia o ônibus tinha que voltar a pé.

Dizia-se “baile do limpa banco”, porque não ficava ninguém sentado quando o conjunto começava a tocar. Os bailes eram uma das principais formas de diversão e socialização antes de surgirem as “discotecas”, na década de 1980, na área central de Araucária. Com o passar do tempo o número de bailes foi diminuindo, até restarem em poucos lugares, mas, até então, as sociedades se revezavam, para que uma não tirasse o público da outra. Quantos namoros e casamentos começaram nesses bailes!

Existiam em Araucária diversos grupos musicais que animavam essas festas, como o Conjunto Lagoa Suja, Conjunto Maracá, Cezar e Seus Solistas, e Invocados são alguns exemplos. Ipenor Baratto, líder do grupo Os Invocados, um dos mais conhecidos da cidade, em entrevista ao Arquivo Histórico contou como era esse tempo que enche seu peito de saudade. Gaúcho, ele chegou em Araucária na década de 1960 para trabalhar como alfaiate, mas, como era filho de músico e aprendeu a arte desde os onze anos de idade, tratou logo de se enturmar no conjunto de seu irmão Zidônio, no Cezar e Seus Solistas. Logo depois, comprou o nome Os Invocados, que pertencia a Carlos Sobannia, e a partir daí, e pelos quarenta anos seguintes, foi só sucesso – “Só em Taquarova eu toquei trinta e nove bailes sem perder um!”. Teve uma época, inclusive, em que ele precisou manter mais de uma formação para o conjunto, pois Os Invocados chegou a tocar em quatro casamentos no mesmo dia, e ele participava de todos, nem que fosse uma horinha em cada um.

Além de ser dono do nome, do ônibus e de todos os instrumentos do grupo, as mãos que tocavam o saxofone também eram hábeis na alfaiataria, e Ipenor também fazia os trajes dos músicos, que se apresentavam sempre impecavelmente. Aliás, geralmente era ele quem fazia os ternos dos noivos nos casamentos em que tocava.

Costuma-se dizer que “não é fácil essa vida de gaiteiro”, mas a vida de músico deixou muitas saudades nas lembranças de Ipenor, que ainda guarda cuidadosamente todos os seus instrumentos musicais – “Não vendi nada, porque se eu vender um, eu vendo um pedaço de mim, então eu não vendo”. Também restaram as boas lembranças de quem dançou nesses bailes, uns mais e outros menos, pois como diz o Isidório Duppa em sua canção: “são mais de duzentos rapaz pra quase trinta moça solteira, quem chega primeiro dança, quem não chega fica chupando dedo, e o banco fica limpo!”. Com o passar do tempo e as mudanças culturais, o pó acabou tomando conta da maioria desses bancos, mas não da memória de quem viveu os tempos dos bailes do limpa banco.

Confira a galeria de fotos

Texto: Luciane Czelusniak Obrzut Ono e Cristiane Perretto

Publicado na edição 1193 – 12/12/2019

Compartilhar
PUBLICIDADE