O jeito de ser de Jesus, de falar do Reino, de acolher as pessoas, de tratar cada um com dignidade, atraiu muitas pessoas para escutá-lo. Grandes multidões vinham ao seu encontro, na esperança de serem curadas, de milagres diversos. Jesus realmente era alguém totalmente diferente, pois ele falava com autoridade e não como os Mestres da Lei. Existia uma grande coerência de vida, pois aquilo que ele pregava em palavras, testemunhava através de gestos e ações. Mas longe de ficar entusiasmado e engrandecido pelo fato de ser tão procurado, Jesus mostra uma grande preocupação. Será que as multidões estão compreendendo a boa nova do Evangelho? De certo modo, isso em vez de ser um motivo de vanglória pessoal, torna-se um problema. O Mestre, então, decide impor as condições e exigências para o seguimento a ele.

Em primeiro lugar, Jesus propõe um grande desapego de todas as coisas, dos pais, irmãos e parentes e até da própria vida. Do contrário, afirma Jesus, não é digno de ser seu discípulo. E mais, quem não carrega a sua cruz e não caminha atrás dele, também não é digno de ser seu discípulo. E conclui dizendo: se alguém não renunciar a tudo aquilo que possui, não é digno de ser seu discípulo. No evangelho encontramos diversas pessoas que queriam seguir a Jesus, mas não foram capazes de se desapegar dos seus laços afetivos e dos seus bens materiais. E o que significa carregar a cruz atrás de Jesus?

Naturalmente, ele convida a sair de si mesmo e ser capaz de colocar-se aberto a servir e a ajudar os outros. Ninguém pode se salvar pensando somente em si mesmo e naquilo que lhe convém, mas, na medida em que se doa ao próximo.

Seguidamente nós encontramos a imagem de um Jesus sem exigências, que somente traz facilidades e prosperidades. Ouvimos tantas pessoas dizer que a conversão a Jesus trouxe bens materiais, casas e até carros. São pessoas que pensam que Jesus é uma propriedade particular e que vive em função das suas satisfações pessoais. Nada mais enganoso e distorcido daquilo que ele veio anunciar como boa nova do Reino. Pelo contrário, maior alegria não existe do que dar a vida pelos irmãos, como ele mesmo afirma. Na medida em que alguém sai do seu mundo egoísta e vai ao encontro do sofredor, do caído, do necessitado, ele vai se realizando em sua vida. O próprio Jesus afirmou: quem ganhar a sua vida sem mim vai perdê-la e quem perder a sua vida por causa de mim, esse vai ganha-la.

Diversas vezes Jesus vai falar em carregar a cruz para ser seu discípulo, e ele mesmo, vai carregar a cruz para nos salvar. A cruz é o símbolo máximo da entrega, da doação em prol do irmão mais frágil. Não existe vida sem cruzes, pois crer nisso e viver como se ela não existisse, conduz ao precipício, à autodestruição. Várias teorias hoje querem insinuar e induzir as pessoas dizendo que a era da cruz já acabou e começa agora uma nova era. Isso é irreal e simplesmente impossível. Diariamente nos defrontamos com tantas situações difíceis, inesperadas, carregadas de dor e sofrimento. Seguir Jesus significa encarar com coragem as realidades dolorosas da vida, e estar pronto a ajudar o irmão a carregar a sua cruz. O verdadeiro amor é exigente e nos coloca a caminho, prontos a encarar as nossas dores e ajudar a quem precisa. Mas vale a pena, pois existe muito mais alegria em dar do que em receber.

Edição n.º 1481.