Logo após a emancipação política do Paraná, ocorrida em 1853, a jovem província passou a viver uma crise de abastecimento de produtos agrícolas, tendo como consequência mais visível o aumento dos preços dos alimentos. De exportador de farinha de mandioca o Paraná passou a importador, em pouco tempo as famílias mais pobres passaram a conviver com a ameaça da fome.

Naquele tempo a maioria da população tradicional da província estava voltada para a produção e comercialização de erva-mate ou para a invernagem e comercialização de gado, atividades consideradas mais fáceis e lucrativas. Havia até mesmo um certo preconceito em relação às atividades agrícolas.

As principais autoridades da província, dentre as quais os seus presidentes, passaram a defender a vinda de imigrantes europeus para suprir essa carência. Para tanto, defendiam que era necessária a criação de núcleos coloniais de pequenos proprietários, que receberiam a terra por doação ou por aquisição a partir de preços baixos.

Nessa conjuntura se destacou o presidente da província do Paraná, entre 1875-1877, Adolfo Lamenha Lins, que lançou alguns princípios que deveriam orientar dali em diante a colonização do Paraná a partir dos imigrantes europeus, princípios esses conhecidos como Linismo. Podemos assim sintetizá-los:

1) Adoção do sistema de pequena propriedade voltada para a produção agrícola;
2) As colônias deveriam se localizar próximas às estradas principais carroçáveis e não muito longe dos grandes centros consumidores;
3) A construção de uma estrada vicinal deveria ser suficiente para ligar a colônia à estrada principal e por meio dessa ligar a colônia à capital.
4) Implementação de medidas que tornassem possível a fixação dos camponeses à terra, como: auxílio financeiro, contratação dos imigrantes para a construção das estradas vicinais, edificação de escolas e capelas nas colônias.

Como nos ensina Ruy Wachowicz:

“Foi movido por essas ideias que Lamenha Lins criou ao derredor de Curitiba o primeiro cinturão verde organizado por imigrantes no Brasil. Assim, até meados do século XX, Curitiba não sofreu mais crise de abastecimento. As ideias de Lamenha Lins funcionaram na prática. Em consequência, surgiram na periferia de Curitiba as seguintes colônias: Santa Cândida (1875), Orleans (1875), Santo Inácio (1876), Riviera (1876), D. Pedro (1876), Lamenha (1876), e Tomás Coelho (1876).

Em 1877, a população dessas colônias compunha-se de 3.300 pessoas, quase todas de origem polonesa: Santa Cândida, 306 imigrantes; Orleans, 270; Santo Inácio, 514; Riviera, 406; D. Pedro, 38; D. Augusto, 281; Lamenha, 746 e Tomás Coelho, 739 (WACHOWICZ, 2016, 178)”.

Aqui na antiga Freguesia do Iguaçu a colônia Thomaz Coelho progredia a olhos vistos, dos 98 lotes em 1876 saltou para 270 lotes em 1879. Dos primeiros 739 imigrantes saltou para 1274 colonos em 1882. Esses lotes tinham em torno de 6 hectares (60 mil metros quadrados) e os colonos contraíram uma dívida de 500 mil réis que deveria ser quitada no prazo de 10 anos.

Contudo, após o fim do governo de Lamenha Lins, seus princípios foram deixados de lado por mais de 8 anos, levando ao quase fracasso da colonização do Paraná por outros grupos como os alemães-russos vindos da região do Volga (Rússia). Dos 3.800 imigrantes que aqui desembarcaram, apenas 1.800 permaneceram na província. Para esses colonos foram vendidas as piores terras, imprestáveis para a agricultura. Famintos, muitos foram embora para outras províncias ou abandonaram o Brasil. Aqueles que permaneceram passaram a se dedicar ao transporte de mercadorias como erva-mate por Carroções Eslavos, puxados por três parelhas de cavalos (WACHOWICZ, 2016, p. 179-181).

Entre 1885 e 1886 o Paraná passou a ter como Presidente Alfredo d’Escragnolle Taunay (ao lado). Escritor, músico, professor, engenheiro, político, historiador e nobre, Taunay percebeu o valor dos princípios linistas e os retomou a fim de estimular a imigração para o Paraná. Incentivou os poloneses que aqui estavam a escreverem cartas para seus compatriotas na Polônia e convencê-los a emigrarem para o Paraná.

Aqui na antiga Freguesia do Iguaçu, novas levas de imigrantes poloneses chegaram e novos núcleos coloniais foram criados. Em 1885 foi criada a Colônia Barão de Taunay com 255 poloneses e italianos, sendo que o seu nome foi dado em homenagem ao então presidente da província. Atualmente esse antigo núcleo colonial é o bairro Costeira. Na mesma época foram fundadas as Colônias de Alice e Cristina com mais ou menos 500 imigrantes.

Todas essas informações e números sobre a política de colonização implementadas pelo governo provincial só fazem sentido quando postos ao lado dos estudos acerca dos imensos desafios, dores, realizações e alegrias vividas por essa gente tão corajosa. Precisamos nos questionar: Por que essas pessoas abandonaram sua terra natal e vieram se aventurar em terras distantes e desconhecidas? Quais eram seus sonhos? Seus medos? Quais estratégias desenvolveram para se adaptarem às novas terras?

Imagem: Vista aérea da região da Igreja São Miguel em foto de 2015. Ao fundo a represa do Passaúna, onde hoje encontra-se submerso boa parte da antiga colônia de Thomas Coelho.

Livro citado: WACHOWICZ, Ruy. História do Paraná. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2016.

Edição n.º 1457.