Grande parte dos brasileiros talvez não saiba que, por muito pouco, a democracia quase não foi restabelecida em 15 de março de 1985. De lá para cá, já se passaram mais de 40 anos de redemocratização. Desde então, esse novo período que estamos vivendo, conhecido como Nova República, volta e meia tem desenterrado velhos fantasmas dos anos de chumbo. Ideias como golpe de Estado, anistia, AI-5 e perigo vermelho povoam a cabeça das viúvas da decrépita ditadura militar (1964-1985).

Eleito em 15 de janeiro de 1985 pelo Colégio Eleitoral — composto por deputados, senadores e delegados das assembleias legislativas dos estados — por 480 votos contra 180 de Maluf, Tancredo Neves se tornaria o primeiro presidente civil dos últimos 21 anos. A vitória só não foi melhor por se tratar de votos indiretos, depois da derrota da emenda constitucional que tentou restabelecer o voto direto.

Acontece que, na véspera da posse, no dia 14 de março, Tancredo Neves foi internado às pressas e, por isso, não pôde ser diplomado presidente no dia seguinte. Alguns militares passaram a defender que o regime deveria ser prolongado e que nem Sarney poderia tomar posse, nem como vice-presidente, nem como presidente interino da República. O próprio presidente João Baptista Figueiredo chegou a pedir ao seu ministro do Exército, general Walter Pires, que impedisse a posse de Sarney. O general Pires só não pôde impedir a posse do vice de Tancredo porque a exoneração de todos os ministros do governo que estava terminando já havia sido publicada no Diário Oficial da União.

Tancredo Neves ainda passaria por sete cirurgias e 42 boletins médicos, com muitas informações desencontradas, dando aos brasileiros falsas esperanças de melhora do presidente eleito. Em 21 de abril, numa data mais que simbólica, Tancredo Neves veio a óbito. A comoção tomou conta do país. Seu corpo foi acompanhado por multidões desde a saída de São Paulo, na passagem por Brasília, Belo Horizonte, até a sua cidade natal, São João Del Rei, onde foi enterrado.

Tancredo havia escondido seus problemas de saúde para garantir a redemocratização do Brasil, agravando seu estado clínico. Pagou com a vida.

Edição n.º 1483.