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Senhor prefeito

Outro dia eu cheguei tarde em Araucária, já escuro, e estava indo direto ao Pronto Atendimento Infantil, um bebê muito amado por mim estava passando mal e eu fui me colocar à disposição da família, caso fosse necessário.

Geralmente quando eu chego na city eu já pego a primeira saída da BR, não sei bem o nome ali, mas se for pro lado direito a gente vai pro bairro Estação. E se pegar à esquerda a gente vai para ali onde foi recentemente asfaltado, aquele asfalto bonito que, tenho certeza que por pura coincidência, chega até a frente do seu posto de gasolina.

Falando em posto de gasolina, quero parabenizar o Sr. por ter fechado o retorno da Manoel Ribas, que, tenho certeza que por pura coincidência, fica em frente ao posto de gasolina concorrente. Não vi os números ainda, mas estou seguro que os acidentes diminuíram, ou algo assim. Foi por isso, né? Pela segurança do povo araucariense.

Enfim, eu estava contando que cheguei tarde em Araucária e por isso não peguei essa entrada, pelo contrário, segui em fren­te, passei por sobre o viaduto e, senhor prefeito, quando peguei a Victor do Amaral, meus olhos se encheram de lágrimas, que coisa mais linda! Aquelas luzes piscando, eu me senti um piloto pousando minha aeronave em Dallas.

Achei super chic. E a rua ainda estava meio vazia, o que serviu para aumentar minha sensação de importância ao andar por tão iluminadas ruas. Depois fiquei sabendo que as luzes que piscam em sequência custaram 10 mil reais. Que bagatela! Que pechincha! Então parei no semáforo, olhei pro lado e quando vi seu hotel só um pensamento me veio à cabeça: “que coincidência!”.

Segui direto, entre palmeiras imperiais, ainda maravilhado, até o Pronto Atendimento, quando a maravilha acabou. Prefeeeeito do céu, tinha uma criança lá, o Sr. não vai acreditar. Parecia um cachorro latindo. Fiquei três horas no local e por três horas essa criança latia, gritava e expelia fluidos. Os funcionários se matando de correr pra cima e pra baixo tentando atender o máximo de gente que podiam e eu ali, agoniado, escutando aquele som da criança, confesso que quase chorei, prefeito.

O Sr. com certeza sabe que por criança a gente faz qualquer coisa, né? Minha vontade na hora era pegar meu helicóptero e levar a criançada toda a algum lugar que as atendesse mais rápido, mas eu não tenho helicóptero nem combustível de helicóptero — nem poder para mudar a realidade de uma criança doente que late como um cachorro.

Eu imagino que, para um grande administrador como o Sr., tendo que concorrer, disputar mercado como o Sr. disputou a vida toda, a gestão pública pode parecer brincadeira de tão fácil, mas tomo a liberdade de sugerir que o Sr. a leve um pouco mais a sério.

Antes de colocar mais pisca-pisca coincidentemente na fren­te de algum empreendimento seu, dá uma olhada no Pronto Atendimento Infantil.

Fica na Rua Prof. Alfredo Parodi, 30. É perto da prefeitura.

 

 

Publicado na edição 1113 – 17/05/2018

Senhor prefeito

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