A alegria que não brota do evangelho é meramente sentimental. Ela é passageira e movida por algo externo, que tem um começo e fim muito próximos. Uma alegria sempre condicionada a um interesse, a um ganho, a um sucesso conquistado, a um prazer momentâneo, mas, que se esvai rapidamente. Não tem profundidade, não tem consistência, porque baseada em prêmios, que geralmente não se mantém sólida por muito tempo. Muitas pessoas se iludem buscando um bem estar apenas exterior, causado pelo poder que exerce por causa da sua função; pelo dinheiro que tem e que lhe possibilita um entretenimento continuo; pelos prazeres sexuais ou, aqueles, causados pela possibilidade que a vida lhe oferece de viajar, de comprar coisas, que aparentemente lhe dão uma sensação de alegria. Mas tudo isso logo se dissolve e, rapidamente esvazia e lhe causa uma sensação de vazio interior, sem gosto e sem um sabor consistente e contínuo. São pessoas que vivem somente em função de si mesmas e de suas satisfações imediatas e puramente egoístas.
Pelo contrário, a alegria que brota do evangelho, se manifesta no jeito de ser e de viver que sai de si mesmo e se coloca a serviço do outro. Jesus passou pela vida fazendo o bem, curando as pessoas, levando mensagens de esperança, sobretudo, aos mais carentes e necessitados. A sua boa nova provocava uma grande alegria naqueles que se encontravam excluídos e afastados da sociedade. A vida do Mestre se resumia em saídas que o levavam e que o conduziam até aqueles carentes de afeto, de pão e de saúde. Uma vida toda colocada a serviço do outro, movida por um amor compassivo e cheio de misericórdia. Dissociar Jesus desta sua dimensão fundamental, de encontro e contato com os mais pobres, com os excluídos, é, no fundo, negar a essência do evangelho. Ele veio para que todos tenham vida e, vida em abundância.
A alegria de quem segue Jesus consiste basicamente em três aspectos, apresentados na pregação de João Batista. Quando as pessoas vêm até ele perguntando o que devem fazer para esperar a vinda do Messias, ele responde: quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem e faça o mesmo com a comida, é o que ele pede às pessoas de modo geral; quem tiver o poder, que o use de forma justa e não para se aproveitar da situação e se corromper, alerta aos publicanos; para os soldados, pede que não sejam violentos e nem agressivos com aqueles que erram. Claramente, o Batista pede uma conversão de comportamento, que coloque o ser humano a serviço daquele que mais necessita de sua ajuda e de sua compreensão.
A verdadeira alegria é compartilhada com o outro, especialmente, com o mais carente e necessitado. A alegria que brota do evangelho nos coloca numa atitude de abertura, de saída de si mesmo, de partilha, de senso de justiça, da busca da paz, em detrimento das armas e da violência. Só podemos dizer que estamos felizes, na medida em que saímos do nosso comodismo, da nossa indiferença, do egoísmo e, nos colocamos prontos para servir e ajudar quem precisa da nossa presença. Essa alegria ela é consistente, é sólida e não puramente emocional e passageira e líquida. É a alegria que brota de dentro, do interior, do desejo sincero de ser bom, de ser justo, de ser promotor da paz, de ajudar a quem precisa, de viver a partilha, enfim, de se doar em prol do outro, de modo livre, espontâneo e gratuito. Tempo de advento é tempo de alegria, porque o Senhor está chegando. E ele nos pede uma mudança de vida, que significa exatamente isso: fazer o bem, partilhar, servir, de modo livre e sem interesses.
Publicado na edição 1291 – 09/12/2021