O período de desenvolvimento é uma etapa fundamental na vida de uma criança. É nesse momento que ela aprende a lidar com a vida, seja de forma individual ou coletiva. A terapia tem um papel significativo nesse aprendizado, junto com o auxílio dos pais e responsáveis. Uma forma de terapia que é destaque nesse processo, é a psicomotricidade relacional.
É importante ressaltar que há uma diferença entre a psicomotricidade e a psicomotricidade relacional. De acordo com a terapeuta Maria Julia, que trabalha em conjunto com a Elaine no Espaço Terapêutico Florescer, a psicomotricidade trabalha com questões motoras, neste caso com o corpo, coordenação motora, equilíbrio, entre outros. Enquanto a relacional, tem o foco nas emoções e nas relações sociais da criança.
“É uma terapia que trabalha as emoções, o corpo, o pensamento e as relações, auxiliando a criança a encontrar soluções mais criativas para seus conflitos e dificuldades, por meio do jogo simbólico (faz de conta) e do brincar espontâneo. Nesse movimento, a criança descobre o prazer do brincar fora das telas, percebe seus próprios limites e os dos outros, melhorando suas relações, ajustando positivamente sua agressividade em um espaço seguro e acolhedor, tendo a psicomotricista relacional como parceira e mediadora”, relata.
Terapia com jornal impresso
Maria Julia e Elaine comentam que dentre os materiais clássicos utilizados na psicomotricidade relacional estão as bolas, cordas, bambolês, macarrões de piscina, tecidos, caixas de papelão e o jornal. Isso mesmo! O Jornal é um material importante na terapia.
“Na sessão, organiza-se um tapete de jornal no centro da sala, com muitas camadas deste material. No decorrer da brincadeira, esse ‘tapete’ é desmontado e destruído, pode ser utilizado para se transformar em personagens, se esconder, fazer acessórios e roupas ou simplesmente para mergulhar e rasgar, espalhando o jornal por toda a sala. A criatividade não tem limites!”, diz a terapeuta Maju.
Ainda de acordo com ela, a dinâmica possibilita experienciar o caos, a bagunça e a sujeira, sem culpa. O jornal desperta vivências intensas, agressivas e regressivas, ressignificando emoções e sentimentos. “Muito importante ressaltar novamente que essa vivência só pode ser realizada por profissionais com a formação em psicomotricidade relacional, devido sua complexidade e o que pode despertar do inconsciente do paciente”, esclarece.
Na sessão em grupo com o jornal, as crianças ajudam a organizar o material antes da brincadeira e após a diversão, auxiliando na limpeza da sala. A psicomotricista relacional explica que essa atividade desperta os sentimentos de pertencimento e responsabilidade. Durante a brincadeira, é trabalhado para cada criança respeitar seus limites e os do outro, estabelecendo parcerias espontâneas durante o jogo simbólico.
Elaine declara que é importante ficar atenta a ingestão do jornal, além de possíveis alergias que possam surgir devido à tinta utilizada na impressão. “Em geral, é só vivenciar e explorar o material como quiser, com prazer no movimento. Com crianças mais novas utilizamos papel jornal, sem a tinta, devido à possibilidade de causar alergia pelo pigmento. A sessão com este material só deve ser realizada na clínica (tratamento) ou na escola (prevenção), por um psicomotricista relacional capacitado, com formação específica para a prática”, explica.
Mais detalhes
Pode ser surpreendente, mas a agressividade é um fator importante na psicomotricidade relacional. Por isso, Maju explica que a agressividade precisa seguir um caminho onde a criança possa se expressar e impor seus limites, mas dentro do aceitável e sem afetar diretamente outra pessoa. “A agressividade na psicomotricidade relacional é algo muito positivo, só que muitas vezes ela está desajustada. Por exemplo, quando está muito alta, a criança parte para a violência física e verbal, tem explosões, tem crises muito grandes. E uma agressividade muito baixa seria aquela criança tímida e retraída, é tão sério quanto uma agressividade muito alta. Porque essa criança não sabe dizer ‘não’ e não sabe dar os próprios limites para o outro, porque está muito fechada em si mesma”, conta.
A terapeuta Elaine esclarece ainda que o objetivo durante as sessões é fazer com que usando cada material disponibilizado, a criança possa explorar, vivenciar e contactar com essa agressividade, para que se torne positiva e construtiva.
“André Lapierre, criador da psicomotricidade relacional, diz que problemas de aprendizagem são problemas relacionais. Logo, a psicomotricidade relacional, que prioriza os atendimentos em grupo, possibilita que a criança melhore suas relações consigo mesma, com os outros e com o mundo por meio do brincar espontâneo, onde a terapeuta vai identificar a dificuldade e ajudar o paciente a ressignificar esses registros, incentivando e valorizando todo potencial da criança”, declara.
Não apenas a psicomotricista relacional, mas os pais possuem uma atuação indispensável na vida emocional e psicológica da criança. Maju esclarece que na terapia, além do brincar espontâneo, sempre são dadas algumas dicas para os pais. “Por exemplo: olhe nos olhos de sua criança; dedique tempo de qualidade com ela, longe de telas; busque contato físico afetivo, um abraço verdadeiro é muito poderoso; respeite as dificuldades de sua criança e valorize suas capacidades”, ressalta a terapeuta.
Referente as crianças com algum tipo de necessidade especial, Elaine explica que na terapia de psicomotricidade relacional, a criança é acolhida em suas potencialidades, para que assim desenvolva o que ainda não alcançou. Além disso, ela também fala sobre o papel que a psicomotricista relacional exerce no aprendizado e no cuidado com a criança. “Ela tem um espaço seguro para ser ela mesma e, com a intervenção da psicomotricista relacional, consegue melhorar suas habilidades, superar desafios e aprender a lidar com suas emoções de forma mais saudável por meio do jogo simbólico (faz de conta). A terapeuta brinca com a criança, estabelecendo vínculos afetivos de confiança”.
A terapia é para todas as idades, mas especificamente o Espaço Terapêutico Florescer atende bebês a partir de 6 meses, crianças e adolescentes. Com atendimento também para crianças autistas, com Síndrome de Down, transtorno desafiador de oposição (TOD), transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), entre outros.
Atenção
As duas terapeutas ressaltam que a psicomotricidade relacional, seja com a atividade com o jornal ou qualquer outra, não pode ser executada em escolas ou mesmo em casa. Isso porque a terapia com o jornal em específico, é uma sessão muito intensa e profunda, que pode despertar sentimentos regressivos.
“Participamos e vivenciamos uma formação pessoal no nosso próprio corpo. É como se fosse uma terapia para nós, para a gente ressignifica os nossos próprios fantasmas, para depois poder lidar com as dificuldades, os limites, os medos e os traumas das crianças. Ter essa responsabilidade é algo muito sério que enfatizamos muito. A formação adequada é a formação prática, incluindo os estágios, a formação teórica e a formação pessoal. Sem esse pilar, esse triângulo, não se tem a formação de psicomotricista relacional de fato”, enfatiza Elaine.
Maju explica que, durante a sessão, a criança pode brincar livremente e pode fazer tudo o que sentir vontade naquele momento. É nessa situação onde a psicomotricidade relacional entra, onde a terapeuta analisará e interpretará os movimentos, e de acordo com a formação, entrará na brincadeira junto com a criança. Dessa forma, a psicomotricista vai pode ajudar a criança a encontrar soluções mais criativas para as dificuldades que ela tem.
Mais informações
Para mais informações sobre como a Psicomotricidade Relacional funciona, basta acessar o Instagram do Espaço Florescer @florescer_araucaria.
Edição n.º 1433.