Nos últimos dias, vivi uma experiência profunda que me trouxe à tona uma compreensão essencial sobre a cura da criança interior. A vida me apresentou uma sequência de acontecimentos — perdas, reencontros, mudanças e processos emocionais intensos — que pareciam simples à primeira vista, mas que, na verdade, refletiam padrões profundos da minha história e das minhas emoções mais antigas. Cada situação parecia carregar um recado: era hora de olhar para a criança que habita em mim, aquela parte sensível e muitas vezes esquecida, e oferecer a atenção, o acolhimento e a liberdade que ela tanto precisava.

Qual parte de você, esquecida ou ferida, tem pedido para ser vista e acolhida?

Percebi que, durante minha infância, aprendi que expressar minhas emoções, buscar reconhecimento ou me permitir brilhar podia trazer dor e punição. Certos medos, frustrações e bloqueios que experimentei na vida adulta estavam diretamente ligados à necessidade de proteger aquela criança ferida. Ela vivia com receio de se machucar novamente, e eu, inconscientemente, reproduzia esses padrões: evitava me colocar em evidência, sabotava oportunidades e me punia antes que o mundo o fizesse. Essa criança carregava a crença de que o sucesso era perigoso, de que ser visto poderia significar dor ou rejeição.

Que medos ou crenças limitantes você ainda carrega que podem ter origem em sua infância?

O processo de cura começou quando compreendi que essas atitudes não eram falhas minhas, mas formas de lealdade e autoproteção. Entender isso trouxe alívio e clareza: percebi que a verdadeira transformação não acontece por meio da crítica ou da culpa, mas através do reconhecimento e do amor. A criança interior precisava ser vista, acolhida e segurada, como um tesouro frágil que nos ensina sobre nós mesmos.

Feche os olhos e imagine-se segurando essa criança pelo braço ou pelas mãos. O que ela gostaria de ouvir de você agora?

Ao acolher essa criança, algo dentro de mim se abriu. Foi como se um peso antigo fosse retirado, e uma sensação de liberdade e confiança surgisse. Comecei a perceber que o sucesso, o amor e a realização pessoal não são ameaças, mas expressões naturais de quem se sente seguro e digno. A criança que antes se escondia agora podia caminhar junto comigo, permitindo que meu adulto experimentasse a vida plenamente, sem medo, sem autossabotagem, sem a necessidade de se esconder ou se proteger desnecessariamente.

Que passos você pode dar hoje para permitir que sua criança interior caminhe ao seu lado, sem medo?

Curar a criança interior é, acima de tudo, um reencontro. É permitir que o passado, com suas dores e aprendizados, se integre ao presente, trazendo leveza, confiança e amor. É aprender a olhar para si mesmo com compaixão, oferecendo ao próprio ser aquilo que talvez não tenha recebido na infância. É transformar vulnerabilidade em força e medo em coragem.

Respire fundo e sinta a energia dessa criança dentro de você. Que abraço, palavra ou gesto ela mais precisa agora?

Hoje, entendo que a verdadeira prosperidade e a realização pessoal começam quando a criança dentro de nós se sente segura para existir plenamente. Quando essa reconciliação acontece, passamos a criar a vida de forma mais consciente, com escolhas alinhadas à nossa essência e ao nosso potencial. A cura da criança interior não é apenas uma jornada espiritual; é um caminho de transformação que nos permite viver de maneira mais plena, leve e verdadeira, resgatando a capacidade de amar, confiar e florescer em nossa própria existência.

Se você pudesse prometer algo à sua criança interior hoje, algo que fortalecesse sua segurança e liberdade, qual seria esse compromisso?

Edição n.º 1489.