Como é que eles vieram parar no Brasil?

(Família de Nicolau Makuch, estabelecida na ex-colônia Tomás Coelho, em pose no navio que a transportou em 1928 para o Brasil. Dentro da boia está escrito: Passageiros do grupo polonês – 3ª classe, para a América do Sul)
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Como é que eles vieram parar no Brasil?
(Família de Nicolau Makuch, estabelecida na ex-colônia Tomás Coelho, em pose no navio que a transportou em 1928 para o Brasil. Dentro da boia está escrito: Passageiros do grupo polonês – 3ª classe, para a América do Sul)

 

Como já abordamos em colunas passadas, Araucária foi formada por diferentes povos, e entre os símbolos locais que marcam essa diversidade vemos alguns que fazem referência aos poloneses, como o Portal Polonês e o Memorial da Imigração Polonesa, já que aqui se estabeleceram em grande número. Mas o que muita gente se pergunta é: como é que eles vieram parar no Brasil? Para buscar a resposta vamos voltar um pouco no tempo e analisar o contexto da época.

A economia do Brasil nos séculos XVIII e XIX caracterizava-se pelo resquício da produção açucareira no nordeste, exploração de ouro no sudeste e centro-oeste, criação de gado e atividade tropeira no sul, onde também ocorria a indústria extrativa de erva-mate e madeira, e no sudeste produção cafeeira latifundiária, atividades que, em sua maioria, eram voltadas para a exportação e utilizavam em larga escala a mão de obra escrava africana. Era, portanto, insignificante a produção agrícola voltada para a subsistência, o que levava à necessidade de importação de diferentes gêneros agrícolas.

A utilização de mão de obra escrava, por conta de pressões vindas da Inglaterra – potência industrial da época em busca de mercado consumidor – passava, ao longo do século XIX, por um processo de afrouxamento, que culminaria com a abolição, em 1888. Tal fato levou ao início da exploração de novas fontes de mão de obra, atraídas pela política imigratória empreendida pelo governo brasileiro.

Enquanto isso, no século XVIII a Polônia sofria invasões e acabaria dividida entre a Rússia, a Prússia e o Império Austro-Húngaro, sumindo do mapa como nação até o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918. Além desse cenário de dominação, as terras cultiváveis na Polônia estavam concentradas nas mãos da nobreza e latifundiários, tornando-se impossível ao pequeno agricultor a posse de terras e ascensão social. Os pequenos proprietários que tentavam resistir viam-se forçados a vender suas terras por conta dos altos impostos, tornando-se proletários rurais. Somado a isso, a Revolução Industrial, que teve início na Europa na segunda metade do século XVIII, mecanizava a agricultura e substituía muitos trabalhadores rurais, que migravam para as cidades levando uma vida de miséria.

Sendo assim, a política imigratória brasileira, que começou no início do século XIX, significou uma chance real de fuga da condição em que encontravam-se os poloneses, à qual agarraram-se com unhas e dentes, vindo aos milhares para o Brasil, ainda que implicasse deixar tudo para trás, inclusive alguns familiares. Cartas eram enviadas aos seus entes queridos com relatos de dificuldades, misturadas a sonhos e esperança, a tristeza de algumas perdas, as maravilhas naturais que viam por aqui, a saudade e a promessa de levá-los para junto deles. Porém, muitas dessas correspondências foram interceptadas pelos governantes, sem nunca terem chegado ao seu destino, deixando uma lacuna de dúvidas e preocupações, que desligaram para sempre laços familiares.

Texto: Cristiane Perretto e Luciane Czelusniak Obrzut Ono

Publicado na edição 1106 – 29/03/2018

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