
EDIÇÃO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO – 131 ANOS
Ele foi escolhido para ser simbolicamente o ‘garoto propaganda’ do início da vacinação em Araucária, não apenas pela simpatia e pelo ótimo profissional que é, mas também pelo seu altruísmo. Samoel Lourenço dos Santos, tem 33 anos e há seis é enfermeiro, morador de Curitiba, faz três anos que trabalha em Araucária. Quando soube da implantação do CECC, foi um dos primeiros a se voluntariar para a linha de frente no combate ao vírus Covid-19.
Antes da pandemia Samoel morava com os pais idosos e uma tia com necessidades especiais. Como ele estaria mais exposto diariamente ao vírus, achou por bem mudar-se para a casa da namorada. “Minha mãe ficou muito abalada, chorava de preocupação e de saudades”, relembra.
O enfermeiro que muitas vezes consolou familiares de pacientes de Covid, sentiu na pele a dor de perder um ente querido em plena pandemia. No final de outubro, o seu pai que tinha doença cardíaca e pulmonar, foi internado na UTI do Hospital do Rocio, em Campo Largo, por problemas respiratórios, e nesses casos, segundo Samoel, os paciente são isolados e internados como suspeita de contaminação por coronavírus até que um exame detalhado, demonstre o contrário. “Três dias depois meu pai faleceu e eu não pude me despedir, não houve velório e o enterro foi feito com o caixão lacrado, como exigem os protocolos de contenção da doença”, lamentou. Quando o exame ficou pronto, dias depois ele descobriu que o pai morreu devido a complicações das doenças pré-existentes e não da Covid-19.
Apesar do sofrimento ele continuou firme no propósito de salvar vidas. “Essa é a minha vocação”, diz emocionado. Vocação que teve um empurrãozinho do destino para um ato de amor ao próximo ainda maior. Há muitos anos, durante uma doação de sangue, Samoel foi convidado a ser doador de medula óssea, aceitou prontamente e passou a integrar o cadastro do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). “Eu já havia esquecido disso quando em 2016 recebi uma ligação informando que eu era compatível com um paciente que tinha leucemia mieloide aguda – um tipo de câncer do sangue e da medula óssea, e precisava de um transplante urgente”, relembra.
Depois da doação, Samoel esperou 1,5 ano para conhecer a pessoa cuja vida ele havia salvo, esse prazo de sigilo é uma das regras da doação, caso o doador e receptador queiram se conhecer o Redome faz a ponte. A pessoa que recebeu a medula do Samoel é a Bia Arantes, uma jovem publicitária de 22 anos, moradora da cidade de Votorantim, em São Paulo, muito conhecida pela sua página no Facebook @odiariodebia, onde ela narra a luta que travava diariamente contra a leucemia. “Foi emocionante, primeiro trocamos cartas e nos aproximamos, depois fui conhecer a família dela e eles me adotaram como filho”.
Já curada, livre da quimioterapia, em janeiro de 2020 a jovem decidiu fazer um intercâmbio fora do país, mas antes veio até Curitiba passar uns dias com a família do novo irmão”. Nós mantemos contato sempre, eles realmente são parte da minha família e eu os amo de todo meu coração”, diz.
A nova família de Samoel também se preocupou quando soube que o enfermeiro iria se dedicar ao tratamento dos doentes com Covid-19. “O pai da Bia sempre me ligava, dizia que estavam orando por mim e que ficaria tudo bem, mas um dia, apesar de todos os cuidados eu acabei me contaminando com a Covid e fiquei em casa em isolamento. Nesse período o pai da Bia sofreu um acidente e faleceu, nem eu nem ela pudemos nos despedir dele e consolar nossa mãe, foram-se meus dois pais em menos de um ano”, conta emocionado.
Rotina no CECC
Apesar das rasteiras que a vida lhe deu nesse período de pandemia, Samoel é muito grato pelo trabalho que executa e pela oportunidade de amparar o próximo. Segundo ele a rotina no Centro de Combate ao Covid-19 se alterna entre dias bem agitados, com pacientes entubados e outros de calmaria. “Aqui eu ajudei a estruturar o centro e a treinar as equipes, coloquei em prática tudo aquilo que me propus a fazer quando escolhi enfermagem, que é cuidar da saúde e do bem estar das pessoas. E a nossa equipe é fantástica, nos preparamos para atender bem cada paciente, damos o melhor de nós todos os dias e quando perdemos uma vida é muito difícil”.
Samoel acredita que a pandemia serviu para mostrar o quanto o sistema público de saúde é importante para a população, principalmente a mais carente e também para que as pessoas deem mais valor aos profissionais que atuam nas equipes de retaguarda. “É gratificante quando o paciente, um familiar manda uma mensagem ou vem aqui novamente só para agradecer. Não sabemos quanto tempo teremos de pandemia e nem o que faremos depois que tudo acabar, mas saberemos que de alguma forma fizemos nosso melhor neste momento”.
Imunização
Quando os estudo para a vacina começaram, os profissionais do centro já foram criando uma expectativa sobre quando ela estaria pronta, pois sendo eles da área da saúde sabiam que só a imunização era capaz de conter a pandemia e acabar com tanto sofrimento. “É um vírus novo e muito complexo, age de maneira diferente em cada indivíduo e infelizmente, uma a uma, as soluções encontradas para tratar a doença foram sendo desconstruídas e isso era muito frustrante”.
A resposta da ciência foi rápida e após o período de testes e avalição dos resultados, no mês de dezembro as primeiras pessoas começaram a ser imunizadas pelos laboratórios, que concluíram suas vacinas quase que simultaneamente. No Brasil demorou um pouco mais, mas ela finalmente chegou.
Samoel e seus colegas estavam no grupo prioritário que iria receber o imunizante já na primeira fase da campanha e numa quarta-feira, dia 20 de janeiro, com direito a transmissão ao vivo em uma emissora de tevê, Samoel foi a primeira pessoa a ser vacinada em Araucária. “Para mim, para nós, foi uma emoção muito grande, meus colegas se abraçaram, choraram, comemoramos muito pois essa é uma vitória não só da ciência, mas de toda a humanidade”.
Quando a pandemia passar e as portas do Centro Especial de Combate ao Coronavírus Sandra Maria Aparecida Ribeiro forem fechadas uma última vez, Samoel pensa em voltar para a academia e cuidar mais da própria saúde, conhecer um outro país e ainda começar um doutorado, sem jamais abandonar a enfermagem. “Onde precisarem de mim eu estarei, minha missão é salvar vidas”.

Como vimos, o enfermeiro Samoel dos Santos, foi a primeira pessoa a ser vacinada nas terra de Tindiquera, mas ele que é curitibano, não foi o primeiro araucariense a receber o imunizante. Esse título ficou para Patrícia Moreira Pinto, 33 anos, técnica de enfermagem do Hospital do Trabalhador, que no dia 18 de janeiro foi a quarta paranaense da história a receber a vacina. No site e nas redes sociais do Jornal O Popular tem uma live bem bacana com ela, se você ainda não viu vale a pena conferir. Acesse: http://35.229.120.160/ela-ja-foi-vacinada
Texto: Rosana Claudia Alberti