Doutor Heriberto atende uma média de 15 pacients por dia no Jardim Alvorada
Doutora Yanelis ainda está se ambientando no Shangri-lá
Apesar de estarem afastados de suas famílias, mesmo que temporariamente, os cubanos que participam do Mais Médicos, do governo federal, vêem no programa a oportunidade de fazer um pé-de-meia. Em Araucária, são seis os profissionais do programa que estão atuando nas unidades de saúde. Além de três cubanos, dois são argentinos e um é brasileiro.
Heriberto Delgado Gonzalez, 40 anos, se formou em Medicina há 16 anos e está atendendo na Unidade Básica de Saúde do Jardim Alvorada. Já Yanelis Miranda Herrera, 30 anos, é formada há 7 anos e está lotada na UBS do Jardim Shangri-lá. O terceiro cubano ainda está sendo treinado, mas deverá começar a trabalhar em breve. O contrato dos três para permanecer no Brasil é de três anos.
Solteiro, mas com um filho adolescente, Heriberto conta que já trabalhou três anos na Venezuela e dois na Bolívia na área de Atenção Primária à Saúde, mas a experiência no Brasil está sendo bem diferente. “O sistema de saúde aqui é muito bem planejado, tem estrutura, tem equipe, lá em Cuba são apenas os médicos e os enfermeiros. O próprio enfermeiro é que visita as famílias, além de ter que atender no posto. Aqui tem os agentes de saúde que fazem isso e torna tudo mais fácil. Em compensação, Cuba tem muito mais especialistas do que aqui”, compara.
Yanelis vive uma situação um pouco mais difícil. Ela deixou para trás o marido e um filho de 4 anos. Também veio em busca de um sonho: fazer um pé-de-meia, já que Cuba vive uma crise financeira. “Trabalhei um ano na Bolívia e agora vim para o Brasil com a esperança de melhorar minha vida e da minha família. Também quero ajudar este país e adquirir novas experiências”, disse.
Curso de especialização
Além dos atendimentos realizados nas unidades de saúde, os profissionais atuantes pelo Programa Mais Médicos estão participando de uma especialização exigida para o intercâmbio na área de Saúde da Família. O curso, à distância, está sendo ofertado pela Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS), através da Universidade Federal de Santa Catarina.
Receptividade
Quando indagados sobre a receptividade do povo brasileiro, os dois médicos são unânimes em dizer que foram bem recebidos e que estão adorando o carinho dos pacientes. “Todos são muito amáveis, estamos conseguindo nos comunicar muito bem e acho que isso também foi graças a um cursinho rápido que fizemos para aprender um pouco da língua portuguesa assim que chegamos ao Brasil”, relata Yanelis.
Ela conta ainda que dentre todas as dificuldades, a maior está na diferença da educação do povo brasileiro e do cubano. “Aqui as pessoas precisam de mais informação e isso talvez seja uma necessidade do sistema de saúde. Elas estão acostumadas com consultas mais rápidas e não perguntam muitas coisas quando têm dúvidas. Já em Cuba, os pacientes são bem mais falantes, até demais (risos), querem contar tudo, são mais curiosos”, comentou, acrescentando que também chamou sua atenção o fato de a maioria das famílias ter mais de dois filhos, pois em Cuba a média é de um único filho. “Alguns até se arriscam a ter dois, mas o custo de vida lá é muito caro e manter uma família não se torna uma tarefa muito fácil”.
Quanto ganharão os cubanos?
Pra quem acha que os médicos cubanos que estão no Brasil vão ganhar uma fortuna, a história não é bem assim. O governo federal concede bolsa-formação com valor mensal de R$ 10 mil aos profissionais. Porém, o convênio com médicos cubanos é intermediado pela Organização Pan Americana da Saúde, que estabelece um acordo entre Brasil e Cuba, ficando Cuba responsável pelo repasse da verba (definido a seu critério) para os participantes cubanos do programa.
No caso dos médicos que estão em Araucária, o salário será de U$ 400,00 (R$ 984,00). No entanto, eles receberão uma ajuda de custo no valor de R$ 371,00 por mês para alimentação e um auxílio moradia no valor de R$ 1.500,00 mensais.
A Prefeitura informou que, neste momento, está procedendo a locação dos imóveis até que seja aprovada pela Câmara de Vereadores a Lei Municipal que permita o pagamento de ambos os auxílios em dinheiro. A partir daí, o profissional fará a locação do imóvel por sua conta.
Se comparado com os salários pagos aos profissionais de Medicina no Brasil, os cubanos vão receber uma verdadeira “merreca”, mas é importante lembrar que em Cuba, o salário de um médico é de 573 pesos, o equivalente a U$ 25,00 (R$ 58,00 por mês).
Pacientes elogiam
Quando os médicos dizem que a receptividade dos brasileiros foi boa, eles estão falando a verdade. Luiz Henrique Medeiros, 20 anos, trabalha numa transportadora e foi atendido pela primeira vez pelo médico cubano Heriberto Gonzalez. Ele disse que o profissional foi bastante atencioso e que a comunicação entre os dois fluiu perfeitamente. “A todo instante ele perguntava se eu estava entendendo, e mesmo pela medicação que receitou, dá pra perceber que é bastante competente. Ele me examinou muito, fez muitas perguntas e eu gostei. Sempre que puder quero consultar com ele”.
A diarista Maria Leoni Colaço, 45 anos, compartilha da mesma opinião e disse que o médico cubano se mostrou bem interessado com o seu problema (tratamento para hipertensão). “O doutor fez bastante perguntas, conferiu todos os remédios que eu tomo, me explicou algumas coisas e eu saí bem satisfeita do consultório. Não entendo porque as pessoas criticam os médicos de fora, eles parecem ser bem preparados”, comentou.