Em tratamento contra câncer, Micheli desabafa e diz que vive um dia de cada vez
Micheli está em tratamento contra o câncer de mama há um ano e acredita na cura. Foto: divulgação

Receber o diagnóstico de câncer de forma equilibrada, não é fácil. Aceitar e saber lidar com o medo, a insegurança em relação ao tratamento, a angústia diante de um futuro incerto, entre outras questões, sem dúvida alguma, é um grande desafio. Por isso que o acolhimento da família, amigos, parentes, pessoas próximas, e da própria sociedade, é fundamental para que o paciente não se isole e não venha a desenvolver doenças graves como a depressão. Mas nem sempre é assim. Muitos não conseguem ter empatia e nem tentam entender a reviravolta que acontece na vida de quem recebe o diagnóstico da doença.

Nesse cenário, o Outubro Rosa, criado para lembrar as mulheres sobre a importância da prevenção e da detecção do câncer na sua fase inicial, principalmente o câncer de mama, também tem o papel de conscientizar a sociedade sobre a importância da acolhida para quem enfrenta uma longa jornada de tratamento. E é importante ressaltar que o diagnóstico não é uma sentença e que o tratamento pode salvar vidas, desde que as pacientes sigam todas as recomendações médicas, realizem os exames indicados, tomem as medicações e busquem hábitos de vida mais saudáveis.

Tenho câncer, e agora?

A dona de casa Micheli de Oliveira Rodrigues Cardoso, de apenas 32 anos, moradora do jardim Arco Íris, recebeu o diagnóstico de câncer de mama em outubro de 2020. Um ano depois, ela relembra dos momentos difíceis que já passou e de como conseguiu superar todas as dificuldades impostas pelo tratamento. “O começo foi muito complicado, quando recebi a notícia relutei bastante, não aceitei que estava doente e que teria que enfrentar um longo e doloroso tratamento. Fiquei apavorada porque sabia que teria que passar por coisas que nunca imaginei que aconteceria na minha vida, e ainda tinha a pandemia, eu estava rodeada de muitas incertezas e medos, os cuidados tiveram que ser ainda mais redobrados, fiquei debilitada demais, frágil, minha imunidade era baixa, sofria com os efeitos colaterais, meu físico e meu psicológico estavam profundamente abalados”, relembrou.

Micheli iniciou a quimioterapia, foram três sessões da vermelha, que dizem ser a mais forte. “Os médicos queriam reduzir o tumor na mama pra poder fazer a cirurgia. Perdi cabelos e todos os pelos do corpo, nem a minha sobrancelha escapou. Minha auto estima no zero. Tive muitos enjoos, fraqueza, não podia fazer nada que me cansava demais. Meu corpo estava totalmente debilitado. Após as três sessões retornei ao médico, achando que iria para a cirurgia, porém veio mais uma notícia ruim: as quimios não haviam dado certo e eu teria que fazer mais três, e da vermelha, só que trocaram a medicação. De volta novamente ao médico, ele disse que meu corpo não respondia ao tratamento, mas eu teria que operar do jeito que estava porque meu câncer era muito agressivo”, conta a dona de casa.

A cirurgia foi realizada no dia 29 abril de 2021, Micheli fez uma mastectomia (retirada total) na mama esquerda, além de um esvaziamento axilar. “Retirei 14 tumores, 12 eram malignos e apenas dois não estavam contaminados, mas era uma questão de tempo. A recuperação foi sofrida demais, eu tinha pontos, dreno embaixo do braço, fiquei impossibilitada até de ir ao banheiro, de tomar banho, precisava de ajuda pra tudo. Meu marido, minha mãe e outras pessoas da família me ajudaram muito nesse momento. Foram dias muito difíceis, tive muita dor, e os cuidados tinham que ser excessivos, não dava pra se descuidar, caso contrário a recuperação seria ainda mais demorada. Graças a Deus todos me ajudaram e Deus ainda colocou um anjo na minha vida, era uma miga que já tinha passado pelo mesmo problema, sabia exatamente oque eu estava enfrentando. Ela cuidou de mim, todos os dias vinha cedinho na minha casa trocar meus curativos. Durante um mês ele fez isso e me deu muita força”, disse.

Quando Micheli se recuperou da cirurgia, em junho, retornou ao médico e ele disse que ela teria que fazer mais seis sessões de quimio, e a última será agora em novembro. Ao longo desses seis meses, ela também fez sessões de radioterapia. “Quando comecei a radio eles pediram uma tomografia e exames e na alta dessa fase de tratamento, a médica estava desconfiada de que eu poderia estar com metástase no pulmão. Pediu outra tomografia e exames de sangue. Fiquei com muito medo, achei que teria mais uma luta pela frente. Graças a Deus a metástase não se confirmou. Só que enquanto aguardava os resultados dos exames, comecei a sentir fortes dores nas pernas e como eu já tinha tido trombose em 2019 devido ao uso de anticoncepcionais, sabia que a doença poderia ter voltado. Eu tinha me curado na época, só que quando se tem câncer, tudo pode acontecer com teu corpo. Fiquei ansiosa e paguei pelas consultas e exames. E infelizmente os exames confirmaram que a trombose tinha voltado. O médico disse que foi devido ao câncer. Então essa é história da minha vida após o câncer. Estou quase terminando as quimioterapias, crendo em Deus que terei alta, porém sigo em tratamento contra a trombose, também acreditando que vencerei essas doenças”.

Micheli vive um dia de cada vez, e hoje, de cabeça erguida e confiante na cura, troca experiências com outras pacientes oncológicas e ela também se inscreveu para participar do concurso Miss EVA, da ONG que atende mulheres em tratamento.

Texto: Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1283 – 14/10/2021