Para sabermos quem é Deus, é preciso conhecer Jesus, o enviado do Pai, que o revelou ao mundo através de suas palavras, gestos e ações. O amor de Deus se torna pleno através do Jesus histórico, que andou entre nós, viveu como nós, foi plenamente humano. E tudo aquilo que ele expressava, revelava quem era Deus. No Antigo Testamento Deus se comunicou ao mundo de modo indireto, através dos seus profetas, mas, no Novo Testamento, Ele se revela plenamente de modo direto, através de seu filho Jesus Cristo. Que grande mistério! Deus se encarna, se faz gente, arma sua tenda entre nós, e, na sua humanidade, vai revelando o rosto divino. Um rosto amoroso, terno e infinitamente misericordioso.
Jesus, o enviado do Pai, veio morar entre nós. Ele era muito humano, naquilo que é a essência da humanidade, ou seja, na sua proximidade de quem chora e de quem foi excluído por causa da sua posição social, e, ele sente a dor do povo sofredor. Jesus apresenta um Deus que se solidariza com os que sofrem, com os abandonados, com os últimos, a ponto de escandalizar os fariseus e saduceus. Para estes, Jesus não passava de um homem qualquer, filho de José e Maria, e, deveria ser morto, porque se dizia Filho de Deus. Eles, realmente, não foram capazes de aceitar aquele homem como o próprio Deus, pois, isso exigiria deles uma grande mudança de vida, de conceitos, do modo de ser e de conduzir suas vidas.
No evangelho de Marcos, encontramos um Jesus muito humano, que sente a angústia, diante da morte eminente. Se sente só, clama por Deus, mas, no final, confia toda a sua vida nas mãos de Deus. Um Jesus que silencia diante da sua dor e, em nenhum momento, reclama ou se sente injustiçado por aquilo que está vivendo. Sabe que tudo aquilo que estava acontecendo com ele, já estava dito nas escrituras. Ele simplesmente acolhe a realidade dura que o espera, sofre em silêncio e doa toda sua existência em prol da nossa salvação. Como homem, ele vive a experiência suprema da dor e do sofrimento, mas, não fugiu dessa realidade, pelo contrário, foi fiel até o fim. E, na hora suprema, após seu último suspiro, o soldado que estava próximo dele afirmou: ‘realmente, este homem, era Filho de Deus’. Por seu amor, por sua fidelidade, pelo silêncio diante de tanta dor, aquele homem se sentiu tocado a descobrir que Jesus o enviado do Pai, era verdadeiramente o Filho de Deus.
Por vezes, existe o perigo de vermos em Jesus somente a glória, o poder, o Cristo da fé, esquecendo a sua humanidade. Ele nos ensina a sermos humanos, sensíveis, próximos de quem sofre e necessita da nossa ajuda. Porque ele, embora sendo de condição divina, veio até nós, tornou-se um de nós, mas, mais do que isso, tornou-se servo de todos. Deixou de lado o seu poder que poderia engrandecê-lo, para servir, se doar, se sacrificar por nosso amor. Assim, todo aquilo que pronuncia o nome de Jesus, deveria compreender a essência daquilo que ele foi e fez aqui na terra, ou seja, a amar e se doar pelos irmãos.
Numa sociedade marcada por tanta indiferença diante de quem sofre Jesus, o rosto humano de Deus, nos ensina a sermos solidários e fraternos. Ele nos anima a sairmos do nosso comodismo, do nosso egoísmo e narcisismo, e colocarmos nossa vida a serviço de quem dela mais necessita. Não basta gritar o nome de Jesus, talvez pautado por tantos interesses que não tem nada a ver com aquilo que ele foi e pregou durante a sua vida aqui na terra. Vamos aprender na sua escola, a sermos mais empáticos e misericordiosos. Vamos aprender a fazer o bem, a sermos mais irmãos, como ele, que veio revelar ao mundo o rosto humano de Deus.
Publicado na edição 1254 – 25/03/2021