No Brasil do início do século XX a economia viveu uma situação de caráter transitório em que, se por um lado o meio rural ainda representava parcela significativa dos contingentes populacionais, por outro os centros urbanos cresciam motivados pela atividade industrial que transformava o mundo do trabalho.
Nessa mesma época surgiram em Araucária inúmeros barracões industriais que modificaram a dinâmica da cidade. Um desses lugares permanece na paisagem local abrigando a instituição responsável pela salvaguarda da memória do trabalho e do cotidiano de nosso município, ele localiza-se no Parque Cachoeira e denomina-se Museu Tingüi-Cuera.
Contar a história desse charmoso prédio da década de 1940 se traduz em narrar sobre um encontro de passados: do passado vivido na antiga fábrica de massa de tomate e pimentão da família Torres, do passado rememorado nos objetos coletados de diferentes tipos de trabalho e de diferentes épocas que o Museu preserva, e do passado das pessoas que visitam o Museu e ali se conectam com o seu passado e das mais antigas gerações.
Do passado vivido na antiga edificação chama-nos atenção a preservação das antigas estruturas de roldanas ou polias que fizeram funcionar a antiga fábrica, direcionando a força hidráulica para o processo de fabricação da massa de tomate. De propriedade do Sr. Archelau de Almeida Torres, a fábrica se utilizou de matéria prima proveniente das plantações de pequenos produtores, trazida de carroça, e que após industrializada era vendida para São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro, interior do Paraná e Minas Gerais.
O que sabemos sobre o passado dessa edificação encontra-se entalhado tanto nos objetos quanto nas memórias de quem viveu esse ambiente de trabalho. Um deles, o Sr. Hermelino Fernandes Colaço, 74 anos, lembra-se de quando ali trabalhou ainda muito jovem, e, em entrevista fornecida aos pesquisadores do Arquivo Histórico, em 2005, relatou:
(…)“Tinha os tacho a vapor e tinha os tacho à lenha, desses tacho de cobre, desses grandão. Tinha quatro tacho. Tinha que mexer com um cavalete com a mão para apurar a massa. A massa ficava fervendo (…) até ficar firme pra ser enlatada. Tinha a lavagem do tomate.(…)Seis horas da manhã. (…) Chegava e daí chegava à turma. (…). Daí ligava a roda d’água né, pra quebrar o tomate, pra partir o tomate. Aí lavava tomate o dia inteiro lá embaixo.(….)”
(seção de cozimento dos frutos, Indústria Torres, sem data)
Cristiane Perretto
Luciane Obrzut Ono
Historiadoras do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres