Falar de amor é o que toda mãe mais gosta. Amor incondicional, que supera todos os preconceitos. E é quando o amor vence, que as mães acolhem com orgulho seus filhos LGBTQIA+. Elas são resistência pura! Superaram momentos difíceis e confusos diante da descoberta da sexualidade dos filhos, embora a preocupação com o que a sociedade pode pensar, com a violência e os preconceitos que podem sofrer, ainda fale mais alto.

É a experiência dessas mães, que amam e respeitam seus filhos do jeito que eles são e se identificam, que O Popular vai contar nessa reportagem especial de Dia das Mães, cuja data se comemora no domingo, 11 de maio. Também vamos contar a história de uma mãe que se assumiu lésbica, já com duas filhas, desafiando todos os preconceitos da sociedade.

Elizabete Tonczak Druszcz, mãe do professor de dança Jhon Druszcz, disse que recebeu com surpresa o comunicado do filho, dizendo que era gay, mas confessou que lá do fundo do coração de mãe, que não se engana, ela já sentia. “Me veio um grande medo, com relação ao preconceito que meu filho poderia sofrer. E confesso que sinto esse medo até hoje, porque infelizmente nossa sociedade não respeita as pessoas e suas escolhas”, lamenta. A mãe ainda afirma que sabia que ao se assumir, o filho poderia travar uma luta contra a sociedade. “Senti medo dele não ser aceito por sua opção, mas meu filho é uma benção, as pessoas o acolheram sempre com muito amor e respeito, principalmente na sua profissão”, relata.

Rascunho automático
Foto: Divulgação. Jhon e a mãe Elizabete são companheiros inseparáveis.

Quanto ao preconceito por ser mãe de um homossexual, Elizabete revela que nunca ligou pra isso, já que os comentários das pessoas dizem muito mais sobre elas. “O relacionamento entre eu e o Jhon é puro amor, meu filho é minha vida, uma das pessoas mais importantes pra mim. Importante nunca nos esquecermos que amor e o acolhimento são a base de tudo, fazem toda a diferença, inclusive já ajudei outras mães a aceitarem seus filhos e respeitarem sua opção sexual. E para as mães que ainda não aceitaram seus filhos como eles são, lembrem-se de que o amor vem sempre em primeiro lugar, a opção de ninguém pode mudar isso entre uma relação de mãe e filho, acolher sempre, ouvir e respeitar”, aconselha.

Quando fala da mãe, Jhon é todo orgulho. Ele diz que sempre foi homossexual, sempre soube o que era, mais não se aceitava e tentava ser alguém que não era para agradar seus pais. Até que um dia precisou falar e colocar para fora aquele sentimento que o sufocava. “Me assumi muito tarde, com meus 24/25 anos, hoje estou com 33. No início não foi muito fácil para minha mãe, ela dizia que aceitava, mas eu percebia que não era bem assim. Meu pai era certeza que sabia sobre mim, porém faleceu antes. Hoje em dia, graças a Deus, eu tenho a melhor família, sou privilegiado”, diz.

Jhon ainda fala que o maior medo da mãe não era tanto em aceita-lo como gay, mas o medo dela de que a sociedade poderia fazer alguma maldade ao seu filho. “Quando eu me assumi e todos ficaram sabendo, senti que me respeitaram muito mais do que quando eu tentava ser quem eu não era. As pessoas devem ser quem são, porque isso não é doença, não escolhemos ser assim, nascemos assim. O amor deve prevalecer acima de tudo”, argumenta.

Sandra Mara Cordeiro é lésbica, casada com Tatiane Soares Cardoso. Quando se assumiu, já tinha duas filhas, e no começo nada foi fácil. Hoje, uma das suas filhas também é lésbica, e isso contribui ainda mais para que o relacionamento entre a família toda, seja de muita abertura e cumplicidade. “Descobri ser diferente aos 12 anos, eu era um pouco mais masculina do que as meninas da minha idade. Não sentia atração nenhuma por meninos. Aos 17 anos, meu pai fez eu namorar um rapaz e casar com ele, disse que não iria passar vergonha com uma menina desse jeito na casa dele. Então eu casei, mesmo sabendo que não era o que eu queria. Eu gostava de mulheres, mesmo assim constitui uma família, tive duas filhas. De certa forma, fui feliz no casamento, embora vivesse apenas para a família e não para mim. Com alguns anos de casada contei ao meu então marido que não gostava de homens e queria que ele me respeitasse. Com o passar do tempo, acabei me apaixonando por uma mulher, me separei e assumi o relacionamento com ela. Mas o medo da sociedade e do preconceito estavam presentes. Sofri muita humilhação e isso atingiu minhas filhas elas sofreram as consequências também, eram apontadas pela sociedade: ‘olha, aquela lá tem uma mãe lésbica, aquela lá a mãe é casada com outra mulher!’. Então foi muito difícil, levei muita pedrada da sociedade e da família, mas minhas filhas estavam do meu lado, me apoiaram. Meu ex-marido foi um homem que demorou um pouquinho pra aceitar, mas por conta das filhas, foi maduro o suficiente e nós mantivemos a nossa amizade até hoje.

Mães de filhos LGBTQIA+ falam em acolhimento e amor para superar preconceitos
Foto: Divulgação. Sandra (de pé à esquerda) e a companheira Tatiane, formaram uma família unida e feliz.

Faz 18 anos que Sandra se assumiu e está casada há 17 anos com a Tatiane. “Hoje todas nós temos um relacionamento aberto, de muito amor, minhas filhas e minhas netas adoram minha esposa. Minha filha mais velha também se assumiu lésbica há cerca de 5 anos e hoje está em um relacionamento. Assim como eu, também foi casada e teve uma filha e se aconselhou comigo quando decidiu tomar a decisão”, diz.

Juliane Gavleta, filha da Sandra, de 27 anos, é heterossexual, casada e tem duas filhas. Ela conta que a primeira reação ao saber que a mãe era lésbica foi bem tranquila, porque na época ainda era uma criança de 11 anos. “Quando eu conheci a Tatiane, nos tornamos grandes companheiras, ela foi muito amiga, cuidou de mim, me criou”, conta.

A filha diz que sempre teve medo de que a mãe sofresse preconceito, e esse medo ainda existe. “O mundo é muito preconceituoso, não têm a mente muito aberta. Mas minha mãe e a Tati sempre foram muito firmes, fortes e corajosas e enfrentaram o mundo juntas. Hoje eu tenho um relacionamento muito bom com a minha mãe e com a esposa dela, que é minha segunda mãe. A relação da nossa família é muito saudável, muito amorosa, somos muito companheiras. E eu acredito que o amor e o acolhimento podem superar qualquer tipo de situação. O amor vence sempre!”, afirma.

Juliane ainda diz que todo mundo deveria aceitar a mãe do jeito que ela é, porque o amor deve estar acima de tudo. “O amor cura tudo, o amor supera tudo, então, aceite a felicidade da sua mãe, ela merece ser feliz para sempre”, aconselha.

Filomena, carinhosamente chamada de Filó, é mãe do influencer Paulo Wengrzinski, ele é gay. Quando descobriu a sexualidade do filho, reagiu com medo que sofresse preconceito e do que a vida lá fora reservava para ele. “Mesmo antes do Paulo me contar, eu acho que já sabia, porque mãe sempre sabe. Embora lá no fundo haja uma negação, uma mãe conhece seu filho. E nenhuma delas quer ver o filho sofrer, ainda mais sofrer por quem ele é. Vivemos em um país que mais mata gays no mundo, então, que mãe não ficaria preocupada?”, lamenta Filó.

Mães de filhos LGBTQIA+ falam em acolhimento e amor para superar preconceitos
Foto: Divulgação. Paulo e a mãe Filó são parceiros em todos os momentos.

Ela conta que Paulo sempre lutou contra a sociedade para ocupar seu espaço, mas acredita que, infelizmente, essa é uma luta pra vida inteira, que ele tem que sobreviver para viver. “Como mãe de gay, não sofri preconceito direto, porém quando ouço comentários e piadas sobre a sexualidade de uma pessoa LGBTQIA+, reflito se fosse sobre o meu filho, e eu não ficaria feliz de ouvir isso. O Paulo é o meu caçula, somos companheiros pra tudo, ele sempre me ajuda, está sempre presente, nossa relação é de puro amor e cuidado”, diz a mãe.

Filó ressalta que além do amor e acolhimento, precisa existir a proteção. “Não adianta você amar seu filho e não defender ele do mal do mundo, tenho certeza que meu filho pode passar o que for na rua, pois ele sabe que dentro de casa tem muito amor pra ele. Então eu deixo aqui uma mensagem para as mães que ainda não aceitaram seus filhos: ‘Está na hora de entender que sexualidade não é opção! Seu filho não escolheu, ele nasceu assim. Quem ama cuida, e parte do cuidado é a aceitação. A vida é dele e não nossa. Os filhos nos dão a grande oportunidade de recalcularmos nossas rotas e crescermos como pessoas. Mãe que é mãe, não tem essa de aceitar ou não, mãe é amor!”, afirma Filó.

O filho Paulo conta que sempre sentiu que era uma criança diferente das outras, porém em 2006, a sexualidade não era um assunto muito falado e o que tinha de informação era sempre voltado para o preconceito. “Sofri muito bullying durante o ensino fundamental, tive que trocar de escola várias vezes, o que me fez esconder minha sexualidade no ensino médio, e mascarar quem eu sou. Criei um personagem por muito tempo da minha vida! Com muita terapia e tirando as amarras do preconceito, consegui me libertar e finalmente ser eu mesmo. Ser eu sem medo, me amar e me aceitar como eu sou. Minha vida mudou 100%, é incrível que as pessoas começaram a me respeitar depois que eu aprendi a me respeitar”, conta.
Paulo começou a se assumir como gay em 2017, são 8 anos nesse processo de aprendizagem de se amar. “Quando contei isso para minha mãe, vi o medo nos olhos dela. Medo do que eu iria enfrentar na rua, na vida! No primeiro momento não teve uma negação, mas também não teve uma aceitação por completa, por conta desse medo da sociedade. Hoje conversamos muito, ela está sempre disposta a aprender sobre o que é certo ou errado na comunidade LGBTQIA+. Como diz a grande atriz Sheryl Lee Ralph: ‘As pessoas não precisam gostar de você. As pessoas não precisam te amar. Elas nem precisam te respeitar. Mas quando você se olha no espelho, é melhor você amar o que vê’, diz o influencer

Edição n.º 1464.