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Morrer para si. Viver para o outro

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Jesus, antes de ser preso e condenado à morte, apresenta aquilo que é essencial para aqueles que quiserem segui-lo. Prestes a dar a vida, como prova máxima do seu amor pela humanidade, ele usa a imagem do grão de trigo que só poderá produzir frutos, se morrer. Assim também, quem quiser ganhar a sua vida sem ele, vai perdê-la, e quem perder a sua vida por causa dele, vai ganhá-la. Claramente, é preciso morrer para poder viver, e, viver plenamente. Parece contraditório, mas não é. Vamos tentar entender o que Jesus quis nos dizer com essas palavras, e, o que isso exige de cada um de nós.

Seguir Jesus Cristo significa morrer, mas morrer para quê? Acima de tudo, morrer para o egoísmo, para o individualismo, para todo tipo de narcisismo e colocar a nossa vida a serviço do outro. Jesus nos deu o exemplo, e, embora sendo Filho de Deus, longe de usar isso para seu próprio privilégio e poder, colocou tudo a serviço do próximo. Sendo Deus, veio até nós, fez-se igual a nós mas, mais do que isso, desceu à condição de servo de todos. E toda a sua vida foi uma demonstração de um amor pleno que serve e se doa e se sacrifica. Antes de ser preso, teve a tentação de fugir daquilo que o esperava, mas, colocou-se totalmente pronto para fazer a vontade do Pai, e não a sua vontade.

Somos seres humanos, frágeis e limitados, e, facilmente nos desviamos do caminho proposto por Jesus, buscando acima de tudo seguir os nossos desejos e os nossos impulsos. Isso se percebe na busca dos nossos interesses pessoais, sobrepondo aos interesses do próximo. Somos movidos por nossas vontades, deixando de lado as necessidades do outro. Falta-nos a empatia, ou seja, entrar no mundo do outro, entender e sentir a sua dor, e, dispor-se a ajudá-lo naquilo que estiver ao nosso alcance. O fechamento em si mesmo nos destrói e desperta em nós mecanismos de defesa, mentiras, para proteger uma imagem que teimamos em preservar, mesmo que isso custe a morte do outro.
Se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, não produz fruto. Esse é o grande ensinamento de Jesus, antes de morrer para salvar-nos de nossos pecados. Esse grão de trigo é cada um de nós. Na medida em que deixamos em segundo plano os nossos desejos, as nossas vantagens pessoais, os nossos interesses próprios, estamos morrendo para o nosso egoísmo, e produzindo vida. Esse ensinamento de Jesus é realmente muito exigente, sobretudo, no meio do nosso mundo atual, onde existe uma busca desenfreada por aquilo que me convém, do ter em detrimento do ser, do acúmulo em vez da partilha, mesmo que, isso leve o outro à morte.

Pensar no outro não significa ignorar a nós mesmos, desprezar nossas necessidades pessoais, mas, estar sempre disponível e aberto a ajudar quem necessita da nossa presença. Como diz o papa Francisco, é estar sempre pronto para sair do comodismo, mesmo que isso exija deixar de lado os gostos e desejos pessoais. Tereza de Calcutá foi uma mulher de profunda abnegação, colocando toda a sua vida a serviço dos mais pobres e necessitados. Um dia, enquanto limpava as feridas de um leproso, aproximou-se dela uma jornalista que estava impressionada com aquele trabalho e disse: ‘eu não faria isso nem por um milhão de dólares’. Madre Tereza então respondeu: ‘nem eu, pois faço tudo na gratuidade’. Assim é a vida daquele que realmente segue Jesus: faz tudo com amor, e, o faz gratuitamente. A sua alegria está em servir com alegria. Isso significa, como o grão de trigo, morrer para si mesmo, para seus desejos pessoais e fazer da sua vida, entrega diária alegre e gratuita em prol do próximo.

Publicado na edição 1253 – 18/03/2021

Morrer para si. Viver para o outro
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