As mudanças climáticas são, sem dúvida, um dos maiores desafios da sociedade atual. Embora façam parte da história do planeta desde os primórdios, seus efeitos foram acelerados nos últimos anos pela atividade humana. Nenhum país está fora de sofrer suas consequências, mas mesmo que não seja possível reverter ou frear esses desastres ecológicos, é possível diminuí-los. É o que observa a estrategista em ESG e promotora de eventos sustentáveis Cristiane Ferreira Silveira, ao traçar o perfil de Araucária com relação às mudanças climáticas.

Segundo ela, o Município ainda tem muito o que avançar na questão ambiental, primeiramente, admitindo que estamos vivendo um momento grave de alterações climáticas. Só assim será possível o desenvolvimento de políticas e ações que irão mitigar os danos que a população pode sofrer. “Todos já sentimos que o planeta está mudando. As políticas precisam promover a sensibilização e a proteção da sociedade. Os setores que protegem as pessoas diante de desastres devem estar fortalecidos com recursos humanos, materiais e planos estratégicos”, aponta.

Cristiane diz que é muito importante iniciar um trabalho ouvindo a sociedade e valorizando os seus saberes, lembrando que Araucária conta com duas secretarias que, juntas, podem desenvolver o plano municipal de combate as mudanças climáticas. “Com compromisso social o município pode ser muito bem planejado. As futuras obras devem favorecer o escoamento de água das chuvas, a população em bairros que geralmente alagam e de bairros mais periféricos precisam ser preparadas para identificar os momentos críticos e entenderem a importância em sair do local no momento certo. As políticas de arborização precisam beneficiar todos os bairros, inclusive os periféricos que são considerados invasões, porque não é correto praticar o racismo ambiental e a inclusão é uma das formas de prevenir gastos elevados do orçamento”, observa.

A falta de políticas públicas mais eficazes podem trazer danos irreversíveis para o nosso planeta e isso já é fato. “O problema é que muitos gestores ainda não acreditam que estamos em um momento de emergência climática. Eles primeiro precisam assumir que o perigo é real. As coisas que estão acontecendo no Brasil e no mundo, foram anunciadas há mais de 30 anos. Se buscarmos por artigos daquela época, veremos que tudo foi previsto e anunciado. Ninguém foi pego de surpresa. A conta pela ignorância está chegando, e ela é cara! E quem paga é o povo, geralmente aqueles com menos recursos. Mas engana-se quem pensa estar seguro. Todas as classes sociais estão sendo atingidas”, alerta.

Para a estrategista em ESG, os danos não são somente ambientais. Quem sofre com os desastres climáticos, não perde apenas a casa ou comércio. As pessoas perdem muitas vezes a própria identidade como indivíduo, pois perdem familiares, amigos, vizinhos, animais, as lembranças, a história, a fé, a confiança, a dignidade, a emoção, a vontade de viver ou de recomeçar. “Não ter planejamento e recursos suficientes para o enfrentamento aos possíveis desastres, é uma forma de assumir o fracasso. O endividamento das regiões que estão sendo atingidas pelos mais diversos eventos extremos, passa de bilhões, e a ajuda financeira chega a conta gotas. E nunca será possível recuperar aquilo que se foi da forma como era antes. A maioria das cidades já iniciam o ano com déficit orçamentário, imagine o que acontece quando surgem dívidas de bilhões. Como fica o progresso e o desenvolvimento?”, questiona.

Nesse cenário, será que Araucária está preparada para grandes desastres ambientais? Se acontecer uma enchente aqui, você saberia como se proteger? Saber onde é seguro ir? A qual organização pedir ajuda? Como socorrer o seu animal? Os questionamentos feitos pela estrategista ambiental nos mostram que a cidade pode não estar preparada para este enfrentamento. E precisa estar!

“É nossa vida, é a vida da nossa família, é a cidade que amamos, nós precisamos estar protegidos. Existe a possibilidade de enfrentarmos fortes e persistentes chuvas, temporais e secas prolongadas, e caso Araucária, por algum tempo, tenha o benefício de não ser acometida por fortes desastres, ela passará a ser opção das pessoas que estarão fugindo das cidades atingidas. Será que Araucária está preparada para receber milhares de pessoas? Terá emprego para todas? Vagas nas creches e escolas, alimento, moradia, sistema de saúde eficiente?”

CONFERÊNCIA EM BRASÍLIA

Cristiane Ferreira integrou a comitiva do Paraná na Conferência Nacional do Meio Ambiente e Mudança do Clima, que aconteceu no mês de maio, em Brasília. Ela foi uma das delegadas eleitas na Conferência Estadual, juntamente com Ana Auer e Vadis da Silva. “O Município teve representantes, pessoas realmente comprometidas com o meio ambiente. Eu, o Vadis e a Ana Marise fomos para a Conferência Nacional por meio de eleição, não por sermos de Araucária. Esta eleição aconteceu na Conferência Estadual de Meio Ambiente, que ocorreu em Curitiba no mês de março. Os delegados que desejavam participar da Conferência Nacional deveriam se candidatar de forma online e defender a candidatura em formato de texto com apenas 200 caracteres, dizendo o porquê merecíamos representar o Estado do Paraná em Brasília. Eu fui representando o setor privado, pois sou profissional do Marketing e trabalho com ESG e Eventos Sustentáveis”, afirma Cristiane.

Para ela, o fato de os três delegados eleitos locais estarem na Conferência Nacional de Meio Ambiente e Mudança do Clima já deixa Araucária à frente do caminho a ser percorrido, para que a cidade esteja preparada com a mitigação de riscos, na promoção da governança e educação ambiental, adequada para a adaptação e preparação para desastres, na promoção da justiça climática e na transformação ecológica.

“Não precisamos aguardar a divulgação da Política Nacional sobre Mudança do Clima, nós já temos parte das informações necessárias. Já sabemos o que o Brasil está passando e as necessidades levadas pelo povo do Paraná e de Araucária. Estamos os três delegados à disposição para contribuir na formulação de políticas públicas para o enfretamento as mudanças climáticas no nosso município”, declarou.

Do encontro, ela destaca as medidas que pode trazer resultados imediatos na questão da preservação ambiental, como iniciar o reflorestamento de áreas degradadas, recuperar as matas ciliares, praticar a educação ambiental desde os primeiros anos escolares, incentivar a gestão eficiente de resíduos promovendo a parceria entre industrias e catadores de recicláveis, investir em sensores de clima e desastres, equipar e fortalecer a defesa civil, preparar a comunidade para que todos se ajudem nos primeiros momentos de enfrentamento a qualquer desastre antes da chegada da defesa civil, construir pontos de suporte para acolher a comunidade, criar um fundo municipal com gestão participativa da sociedade, investir em infraestrutura que facilite o escoamento e a permeabilidade das águas da chuva (cidade esponja),

“Também é importante assegurar território livre de agrotóxico, fortalecer a agricultura familiar, a agroflorestal e a agroecologia urbana e rural, além de incentivar a permanência das pessoas na área rural. iniciar a despoluição das águas dos rios, praticar a justiça climática, envolver os diferentes setores na proteção de toda a estrutura de Araucária, criar usinas de compostagem, garantir uma gestão sustentável de resíduos sólidos”, cita.

Cristiane reforça que a Conferência foi muito assertiva nas escolhas dos eixos temáticos de mitigação, adaptação e preparação para desastres, transformação ecológica, governança e educação ambiental. Foram 50 grupos de trabalho para discutir e aperfeiçoar centenas de propostas recebidas de todas as regiões do Brasil. “O que faltou foi uma maior inclusão, escutar mais os pescadores, as pessoas com deficiência, as pessoas em situação de rua, os moradores de favelas, incluir as empresas e indústrias neste compromisso ambiental, e abordar o tema consumismo”, aponta.

Cristiane Ferreira tem um trabalho focado na promoção da educação ambiental e contribuição com a recuperação de áreas degradadas e preservação das existentes. De forma alguma diz ser contra o progresso, mas acredita que há formas sustentáveis de fazê-lo. E sustentabilidade não é só uma questão de meio ambiente, deve estar presente em todos os setores e um deles é o financeiro, pois não se pode esgotar recursos, mas sim aplicá-los muito bem para evitar retrabalhos.

“Tenho um projeto muito interessante que é levar a educação ambiental para a sala de aula e para as empresas de forma muito didática e envolvente. A sala de aula é um lugar permanente para a educação ambiental. Estou sempre envolvida em projetos sociais, mas admito, não é fácil falar a respeito das alterações climáticas, porque a maioria das pessoas não acredita que será atingida de alguma forma. Então nem sempre o assunto é considerado interessante. Eu lamento! As pessoas sempre acham que dá tempo, mas há quantas décadas elas pensam desta forma? O tempo de esperar já acabou! Todas as regiões do planeta estão sob ameaça frequente de algum evento extremo. E eles estão frequentemente sendo notícia. Alguns biomas estão próximos ao ponto de não retorno. As questões climáticas sempre são deixadas para depois, só que o depois é um risco que não devemos correr. Ele é muito oneroso, custa vidas e não escolhe classe social”.