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“No meu tempo isso aqui era tudo mato”

Luciane Obrzut Ono e Jhenifer Fernandes entrevistando Antônio Muka, 2015 Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres
“No meu tempo isso aqui era tudo mato”
Sebastião Pilatto entrevistando Alba Zawilinski, 2014
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres

Quando se fala em personagens da história, o que vem à sua mente? Reis, presidentes, princesas? Até cerca da década de 1970 os livros de história eram conhecidos por representar uma decoreba de datas e nomes de “figurões” da história. Porém, essa visão de mundo foi mudando, já que é sabido que fontes escritas e fotografias, em épocas nem tão remotas assim da história do Brasil e do mundo, eram acessíveis somente a uma parcela privilegiada da população. Mas você já parou para pensar que você é também um personagem da história? Sim, você! Através do seu trabalho, seus costumes e sua memória você contribui para a construção da história do seu povo, como um testemunho do tempo.

O trabalho do historiador baseia-se em buscar evidências para que, juntando os pedaços, se reconstitua uma história, chegando o mais próximo possível da verdade, tal qual um detetive. Essas evidências são chamadas de fontes históricas, e podem ser documentos oficiais, jornais, cartas, fotografias, enfim, toda uma gama de fontes materiais. No entanto, para acessar a história de forma holística, abrangendo todas as camadas sociais, novas fontes históricas passaram a ganhar cada vez mais valor, como as fontes orais.

Ainda vista com receio pelas academias mais conservadoras, esse tipo de fonte ganha cada vez mais espaço entre os historiadores. Ouvir os testemunhos oculares da história é uma tarefa trabalhosa, e, ao mesmo tempo, muito prazerosa. Ter a oportunidade de conhecer quem viu os acontecimentos de perto é um privilégio que estudiosos que se voltam para tempos remotos na história gostariam de ter. Porém, colher essas memórias precisa ser um trabalho constante, pois elas são efêmeras como a vida, e, se não forem apreciadas a tempo, perdem-se para sempre.

Um exemplo disso é o patrimônio imaterial de um local. Ele é composto por costumes, receitas, crenças, enfim, por tudo aquilo que dá identidade a um povo e é passado de geração em geração de forma espontânea. Sendo assim, seus costumes e até hábitos alimentares dizem mais sobre a história do seu povo do que você poderia supor. Aquela receita de família, aquela lenda que seu avô contava, até mesmo suas percepções das modificações ocorridas com a passagem do tempo – quem nunca ouviu a expressão: “no meu tempo era tudo mato!”? Pois é, tudo isso é história.

Nós, a equipe do Arquivo Histórico, valorizamos muito essas memórias e estamos sempre trabalhando para mantê-las vivas (ao menos em nossos arquivos). Geralmente em nosso contato inicial com um entrevistado a sua primeira reação é de surpresa: “Mas por que eu? Eu não lembro de muita coisa”. Mas, à medida em que ele vai sendo deixado à vontade durante a conversa, as mais ricas memórias surgem, e uma vai puxando outra, como se fosse aberto um verdadeiro baú de tesouros! Como se fosse retirado o pó e desvendado um espelho, e a pessoa passa a se enxergar como personagem da história. E isso é mágico!

De posse dessas informações – devidamente autorizadas e para uso estrito em pesquisas científicas, vale ressaltar -, fazemos a comparação com outros relatos e documentos, para, assim, chegarmos o mais próximo possível da realidade dos fatos. E, costurando tudo, chegamos à história que envolve a todos, como uma grande teia que a todos conecta. Portanto, se você tiver vontade de compartilhar suas memórias, nos procure, teremos o maior prazer em ouvir sua história. Ou, quem sabe, quando você menos esperar, chegaremos à sua casa, atraídos pelo brilho das suas lembranças.

Texto: Luciane Czelusniak Obrzut Ono

Publicado na edição 1172 – 18/07/2019

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