Maria era uma mulher simples, humilde, moradora de uma cidade chamada Nazaré, sem nenhuma importância no contexto judaico. Um lugar pobre, sem nenhuma expressão econômica ou cultural. Foi ali, que esta jovem recebeu a grande missão de ser a mãe do Salvador, a mãe do filho de Deus. Poderia ser para ela motivo de vanglória, de soberba, de orgulho, de arrogância e prepotência, mas, longe disso, ela reconhece que Deus é grande, Deus é Todo Poderoso e é ele que através dela, faz maravilhas. Na sua profunda humildade, Maria exalta a Deus, e se coloca numa atitude de serva, disposta a fazer única e somente a sua vontade. O seu sim é sim a um projeto de amor para com a vida, uma vida que será colocada plenamente a serviço da construção do Reino de Deus. Tanto ela, como mais tarde seu filho Jesus, se colocam plenamente a serviço daquilo que Deus lhes reserva como missão neste mundo. Servir, em vez de ser servido; amar em vez de ser amado.

A figura de Maria é emblemática, não tanto pelas coisas extraordinárias que fez, mas por sua atitude frente à grande missão a ela reservada. Ela não construiu absolutamente nada a nível material; não fez grandes projetos; não se colocou como a primeira e a maior entre todas as mulheres. Então o que ela fez de tão grande que fez dela a mulher a ser venerada em todos os cantos da humanidade? Simplesmente humilhou-se, reconhecendo a grandiosidade de Deus e a sua total atitude de submissão à sua vontade. Uma mulher prontamente disponível, mesmo sabendo das dificuldades e das consequências dolorosas do seu sim a Deus. Ela coloca a sua vida a serviço, sabendo que Deus é grande, que fez nela maravilhas. O Magnificat é um canto que exalta o poder de Deus e a sua ação em prol dos mais necessitados, dos humildes e dos desprezados da sociedade. Será a missão do seu filho Jesus: resgatar a dignidade de todos os seres humanos, sobretudo, os mais pobres e marginalizados da sociedade.

Reconhecer o poder de Deus em nossas vidas, nos leva a uma atitude de pequenez, de simplicidade, pois, tudo o que somos e temos, é obra e dom de Deus. Tudo o que carregamos dentro de nós mesmos, foi-nos gratuitamente dado pelo Senhor da vida, a fim de colocarmos a serviço dos irmãos. O orgulho, a arrogância, a prepotência nos afastam de Deus e nos colocam acima de tudo e de todos. Esta, com certeza, não foi a atitude de Maria, muito pelo contrário, ela reconheceu as maravilhas que Deus operou em sua vida. Deus confiou na pequenez da sua serva, e ela correspondeu plenamente a esta confiança, colocando toda sua vida a serviço da criação e educação do seu filho, para o bem e a glória de toda a humanidade.

Assim como Maria, Deus nos confiou uma missão neste mundo e nos dotou de qualidades e potencialidades para realiza-la de acordo com o seu projeto. A nós compete desenvolver estes dons e ampliá-los, a fim de sermos servos qualificados. Não para a nossa honra e a nossa glória, mas para a honra e a glória de Deus. Através de cada um de nós, o nome de Deus deverá ser exaltado e glorificado. Como disse Santo Irineu: ‘a glória de Deus é o homem vivente’. Ou seja, um homem livre, pleno, em pé, colocando tudo aquilo que é para a construção de um mundo melhor, para a construção do Reino de Deus. Somos convidados a renovar a nossa vida, com um pacto de serviço e de amor aos irmãos. A vida só tem sentido verdadeiro quando colocada em prol daqueles que mais precisam. Grandes não são aqueles que fazem coisas extraordinárias, mas que no ordinário da vida, fazem tudo com dedicação, deixando, por onde passam profundas marcas de amor a Deus e aos irmãos.

Publicado na edição 1126 – 16/08/18

O todo poderoso fez maravilhas em mim