O anúncio do Papa Leão XIV como o novo líder da Igreja Católica surpreendeu muitos fiéis, isso porque o cardeal Robert Prevost não era um dos mais cotados para ser eleito. Surpresa ainda maior foi para os agostinianos, pois o Papa escolhido no dia 8 de maio é o primeiro da Ordem de Santo Agostinho (OSA) a comandar a Igreja Católica.

Em Araucária, a Paróquia Senhor Bom Jesus, no bairro Costeira, recebeu com muita alegria o anúncio do novo Papa, por ser a única do município a pertencer à ordem agostiniana. O Frei Calógero Carrubba OAD, Vigário da Paróquia, comenta que a eleição do Cardeal Robert Francis Prevost como Sumo Pontífice, suscitou muito interesse nas pessoas em conhecer melhor a figura de Santo Agostinho, fundador da Ordem Agostiniana. “Desde a sua primeira aparição, o Papa se declarou agostiniano e filho de Santo Agostinho, e isso despertou curiosidade em muitas pessoas”, disse.

O Vigário conta que Santo Agostinho nasceu em Tagaste, Norte da África, no ano de 354. Filho de Patrício, pagão, e de Mônica, cristã fervorosa, desde criança foi encaminhado nos estudos, antes em Tagaste, depois em Madaura e, enfim, em Cartago, centro importante da Província Romana. Embora tivesse sido criado pela mãe como cristão, quando criança, não foi batizado e na sua juventude passou a seguir a seita dos maniqueus e a conduzir uma vida hedonista. Ligou-se estavelmente a uma jovem cartaginesa, com a qual teve um filho, Adeodato. Formado professor de retórica, ensinou gramática por um ano em Tagaste, no ano seguinte mudou-se para Cartago, onde permaneceu por nove anos e depois mudou-se para Roma.

“Agostinho tentou um concurso em Milão como professor de retórica, para servir na Corte. Começou a frequentar a Igreja de Milão, atraído pela eloquência do Bispo Ambrósio, e passou a questionar-se a respeito da seita que frequentava. Em agosto de 386, depois de muita luta interior, inspirado pelos discursos e o exemplo de vida de Ambrósio, deu o passo decisivo rumo à conversão ao catolicismo, que ele havia recebido desde criança de sua mãe Mônica, e aceitou ser batizado pelo bispo Ambrósio na vigília pascal de 387, junto com o filho Adeodato e outros amigos”, relata o Vigário.

Depois do batismo, Agostinho quis voltar para a sua terra, em Tagaste, e durante a viagem a mãe Mônica veio a falecer em Hóstia, perto de Roma. Tendo voltado à casa paterna, ele almejou realizar seu antigo sonho de viver em comunidade com os amigos, na oração e no estudo da Palavra de Deus.

“Mas o Senhor tinha seus projetos para Agostinho. Em 391, ele foi escolhido pelo Bispo de Hipona, Valério, como seu sacerdote colaborador, sendo ordenado depois de poucos meses. A partir daí, Agostinho se tornou um famoso pregador da Palavra dentro daquela diocese e fora dos seus limites. Em 395 ele foi ordenado bispo coadjutor daquela diocese e logo em seguida assumiu a cátedra episcopal. Agostinho deixou muitas obras, entre elas, Confissões, A Cidade de Deus, Comentário sobre os Salmos, Comentário sobre o Evangelho de João, O Livre Arbítrio”, comenta Frei Calógero. Ele ainda conta que Agostinho faleceu em 28 de agosto de 430, quando os vândalos invadiram a África romana e cercaram Hipona.

O QUE SIGNIFICA SER AGOSTINIANO?

Segundo o Vigário, ser agostiniano significa seguir o ensinamento e o exemplo de Santo Agostinho, dedicando-se em primeiro lugar ao estudo e à contemplação da Palavra de Deus e das verdades eternas, não esquecendo o amor concreto para com Deus e com o próximo, que é o lugar onde Deus se manifesta concretamente.

“A espiritualidade agostiniana é fundada no exemplo e no ensinamento de Santo Agostinho. Por isso, os agostinianos se sentem chamados à santidade e tendem, com o auxílio da graça de Deus, alcançar a perfeição do amor evangélico, buscando comunitariamente a Deus. Cientes de serem criados à imagem e semelhança de Deus, em seu trabalho espiritual tendem a tornar nítida a sua imagem impressa na alma, porém ofuscada pelo pecado. Eles querem viver a densidade do mistério cristão, colocando o fundamento e a esperança em Cristo, imitando-o na alegria do cântico novo. Dão prioridade à vida contemplativa, que reúne na interioridade diante da dispersão exterior”, ilustra.

O Vigário lembra ainda que a espiritualidade agostiniana está inserida no DNA do Papa Leão XIV, que desde jovem ingressou na Ordem de Santo Agostinho, percorrendo todas as etapas da sua formação religiosa, intelectual e espiritual. “Como religioso, desde jovem sacerdote, foi missionário no Peru, consciente do que afirmava Santo Agostinho: ‘Se quiseres amar a Cristo, dilata a caridade ao mundo inteiro, pois no mundo inteiro estão espalhados os membros de Cristo’. Enquanto Frei Robert era missionário no Peru, foi eleito pelo Capítulo Geral Superior da Ordem, sendo confirmado por um segundo mandato. Depois de terminada sua missão de serviço à Ordem, foi escolhido pelo Papa Francisco como Bispo da diocese de Chiclayo, no Peru, que se tornou a sua pátria de adoção”, descreve.

Em terra peruana, Monsenhor Prevost usou suas melhores energias de mente e de coração para ser pai e pastor do povo que lhe foi confiado. Este estilo paterno e pastoral é parte integrante do seu modo agostiniano de ser. “O Papa Leão XIV, já no primeiro discurso de bênção ‘Urbi et Orbi’, convidou todos os fiéis a serem uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, que constrói diálogo, sempre aberta, como a Praça de São Pedro, para acolher a todos aqueles que precisam da sua caridade, sua presença, de diálogo e de amor”.

AGOSTINIANOS DESCALÇOS

A Paróquia Senhor Bom Jesus de Araucária foi instituída no dia 06 de agosto de 2009 pelo Bispo diocesano de São José dos Pinhais Dom Ladislau Biernaski, sendo desmembrada da Paróquia Nossa Senhora dos Remédios.

Os religiosos Agostinianos Descalços chegaram à Paróquia Senhor Bom Jesus, a convite do Bispo Dom Francisco Carlos Bach, no final do mês de janeiro de 2016. Desde a sua chegada, os religiosos procuraram organizar a Paróquia envolvendo os leigos nas várias pastorais e movimentos, para que se pudesse formar, conforme o ensinamento e o exemplo de Santo Agostinho, a grande família dos filhos de Deus, onde cada membro é incluído e valorizado como filho de Deus e membro da comunidade cristã. Eles ainda deram prioridade à formação religiosa dos fiéis, através da catequese, da Liturgia, de encontros formativos, de retiros espirituais, para que a Palavra de Deus pudesse ser semeada no coração das pessoas e as levasse a uma vida cristã autêntica.

“Procurou-se caminhar juntos conforme o plano pastoral diocesano, para que a Paróquia se sentisse parte viva e participativa da Igreja particular de São José dos Pinhais. Os religiosos Agostinianos Descalços, fiéis ao seu carisma, alicerçado no exemplo e nos ensinamentos de Santo Agostinho, sentem impelente a necessidade de serem irmãos do povo de Deus que lhes foi confiado, caminhando junto com ele, sustentando-o com a palavra e o exemplo neste caminho rumo à pátria definitiva”, finaliza.

Edição n.º 1467.