A tornozeleira eletrônica só é feia quando engrossa a canela fina de pobre, no tornozelo de rico vira adorno admirável, mesmo que essa riqueza tenha sido roubada dos cofres públicos.
A eleição se aproxima e estranhamente os gritos indignados da população começam a ficar inaudíveis, aqueles líderes raivosos que prometiam dar um basta aos corruptos mudam o discurso repentinamente. Ficam de joelhos no primeiro tapinha nas costas, engolem seco a dignidade que fingiam ter e descaradamente passam a elogiar o diabo que antes condenavam.
Não haverá mudança, ou se houver será de pai para filho, de marido para mulher, de irmão para irmão, ou seja, os velhos corruptos da cidade ou seus herdeiros serão extremamente bem votados e reconduzidos ao poder. Não atribuam esse mal ao povão, mas sim à pseudo elite que adora ser bajulada, que adora se sentir íntima de ladrões bem vestidos dispondo-se até a mudar a opinião dos desavisados.
E assim se perpetuam as mesmas famílias no poder, os mesmos larápios de sempre e mesmo que a justiça em seus poucos lampejos tente limpar a casa os miseráveis de barriga cheia optam por prostituir-se negociando o apoio dos seus liderados. O ódio que até aqui era cuspido ao vento repudiando a sujeira na política revela que na verdade a indignação não passava de frustração por ter sido deixado de fora da sujeira.
Não haverá mudança, eles vão transitar com a mesma leveza de sempre, como se nada tivesse acontecido, tão puros e honestos e com belos sorrisos nos lábios eles comprarão os líderes com as simbólicas 30 moedas de prata e em seguida seduzirão os incautos. Tomarão posse novamente do que é público para dar sequência ao assalto consentido, saqueadores bem trajados que sorriem para as câmeras quando percebem que estão sendo filmados.
Depois do mal feito haverá quem diga: O povo é burro, vota em ladrão.
Nessa fala comparo o povo a uma criança inocente que é conduzida por alguém de extrema confiança até as garras do pérfido violentador. O criminoso saliva ansioso enquanto aguarda sorridente e segurando um doce na mão, já o outro, aliciador, se vale da confiança e da influência que tem para conduzir a vítima até o seu malfeitor, entrega de bandeja, fingindo não saber qual é o plano do contratante. É certo que irá se arrepender depois, alegará que também foi enganado, mas depois será tarde demais, o mal já estará feito e possivelmente o arrependimento dure até o próximo período de negociação eleitoral, enquanto isso o povo padece.
Quem somos nós na ordem do dia, o bandido de cara lavada, o líder aliciador, a massa ingênua e manipulável ou alguém que tem coragem de fugir à regra?
Enfim, não há muito o que fazer, o importante é que façamos o pouco que nos cabe!
Publicado na edição 1218 – 25/06/2020