Há amizades que são como o vento: chegam suaves, refrescam nossos dias e depois seguem seu rumo, levando consigo o perfume de um tempo que não volta mais. Outras permanecem, sólidas como árvores antigas, testemunhas silenciosas da nossa caminhada. E há também aquelas que florescem intensamente, mas por uma única estação. Todas elas têm um sentido. Nenhuma é em vão.

Com o passar dos anos, aprendemos que algumas pessoas vêm para abençoar um trecho do caminho, não a jornada inteira. Elas nos ajudam a atravessar pontes, a enxergar partes de nós mesmos que ainda estavam adormecidas. Depois, naturalmente, a vida se encarrega de reposicionar os destinos — e cada um segue para onde sua alma é chamada a continuar evoluindo.

Nem sempre é fácil aceitar que um laço chegou ao fim. Às vezes insistimos em manter viva uma amizade que já não respira, tentando reanimar o que o tempo e a energia já transformaram. Mas forçar permanências é um gesto de medo — medo da ausência, medo do vazio. E é justamente nesse espaço de ausência que o novo se manifesta.

Allan Kardec, ao refletir sobre as afinidades espirituais, nos ensinou que “os Espíritos se reúnem por simpatia e se separam quando a harmonia deixa de existir”. Isso significa que cada amizade nasce de uma sintonia energética e espiritual. Quando essa harmonia se transforma, o vínculo também muda. Não é castigo, é movimento.

Despedir-se de uma amizade não é falta de amor. É reconhecer que o amor pode assumir novas formas.
Alguns amigos se tornam memórias, outros permanecem presença, e alguns se transformam em lições — todos, sem exceção, deixam uma marca.

Convido você, leitor, a fazer um exercício de alma:

Pense nas cinco amizades mais marcantes dos últimos cinco anos da sua vida.

Agora volte mais cinco anos. E mais cinco.

Observe como as pessoas mudaram — e como você mudou com elas.

Quantas dessas amizades continuam? Quantas partiram? E, principalmente, quem chegou para ocupar o espaço aberto pelas que se foram?

Se nenhuma nova amizade tivesse entrado, quem você seria hoje?

Talvez estivesse parado no mesmo ponto, repetindo histórias que já perderam o sentido.
Romper ciclos é permitir que a vida continue fluindo.

É compreender que cada amizade tem um tempo e uma missão — e que, quando ela se cumpre, o melhor que podemos fazer é abençoar o que foi, agradecer e deixar ir.

Porque no fim, o amor verdadeiro não exige permanência.

Ele se manifesta em cada reencontro, em cada lembrança doce, em cada aprendizado deixado pelo outro.

E quando o coração está livre, a vida sempre traz novas almas para continuar a jornada conosco — em novos ciclos, novas histórias e novas luzes.

Edição n.º 1486.