Ser gay — ou lésbica, trans, bi, queer, ou qualquer outra letra dessas que a gente vai colando no peito como medalha de guerra — só pode ser coisa de espírito grande. Descer pra Terra já sabendo que vão te odiar só por existir é uma decisão que exige coragem de milênios. E não falo de coragem de postar vídeo sem filtro. Falo de encarnar com a alma exposta num mundo que, antes mesmo de te ver, já quer te converter.

Dos 18 aos 23 anos, confesso: eu orei pra morrer. E não era figura de linguagem. Era oração com lágrima no travesseiro, oração de quem aprendeu numa igreja que sua existência era um erro teológico. Eu pedia a Deus pra me levar — e, veja só, não era pra fazer drama, era pra ser salvo. Porque me ensinaram que viver é abnegação (em nome d’Ele), e morrer é lucro (pra morar com Ele). A equação era simples: viver com vergonha ou morrer com dignidade celeste. Bonito no papel. Cruel na carne.

Mas quem decide quem pode amar? Quem goza com bênção e quem goza com culpa? Que tipo de divindade distribui afetos com régua moral, e aponta com nojo quem ama fora do script?

A verdade é que, mesmo do lado de fora dos altares, nós sempre fomos profundamente espirituais. Porque só um ser muito conectado ao Divino é capaz de continuar sentindo, sonhando, sorrindo, mesmo quando o mundo inteiro grita “desvie-se!”. Somos filhos renegados de um Céu que dizem não nos pertencer — mas que pulsa em nós cada vez que amamos com verdade.

Eu mesmo, desde criança, via, ouvia, sentia. Era “o irmão da revelação”. Mediúnico, profético, intuitivo — só não podia ser gay. Era como se eu fosse uma parabólica divina, mas com defeito de fabricação. Um canal poderoso, mas com interferência afetiva. Um escolhido… com defeito de etiqueta. Foi preciso me despir da vergonha e vestir minha essência como manto. Descobri, com o tempo, que o altar mais legítimo é meu corpo, minha presença, meu amor.

E que ser LGBTQIAPN+ é viver algo muito parecido com um certo homem que nasceu numa manjedoura e ousou dizer que era Filho de Deus. A ousadia social é a mesma. Uma transgressão divina. Um deboche santo.

Mas essa missão vem com preços altos. Muitos de nós foram arrancados das mesas de jantar, cortados das fotografias de família, deletados em nome de um “amor incondicional”. Incondicional, mas com cláusulas. Quem não se encaixa na moldura da fé alheia, vira sombra. Aí a gente vai fazendo família na rua, nos abraços improvisados, nos amigos que viram casa. E, cá entre nós, às vezes a rua acolhe melhor que o sangue.

Hoje, sim, existem religiões que nos recebem. Com ressalvas. Algumas aceitam gays, desde que discretos. Outras toleram lésbicas, se forem femininas. Trans? Bom, aí já pedem documento, RG astral, e ainda olham torto. Mas há também os terreiros, as rodas de cura, as casas espíritas e xamânicas que dizem: “entra, esse chão também é teu”.

E sabe o que eu aprendi com tudo isso?

Ser LGBT+ é ter uma missão espiritual de resgate coletivo. Às vezes, somos nós que quebramos as tábuas da lei para lembrar ao mundo o que é realmente sagrado: o amor, o respeito, a liberdade, a presença. Somos chamados pra mostrar que espiritualidade não é adorno — é verdade vivida.

Então eu te pergunto: Em que espaço da sua casa, da sua igreja, da sua oração, cabem os LGBTQIAPN+? Quantos corpos você expulsa quando diz “Deus é amor”?

E a você, meu par, minha irmã de alma, meu irmão de jornada, minha entidade de luz em carne: você não precisa mais rastejar por bênção. Você É a bênção. Você É altar. Você É canal. A espiritualidade não te rejeita — ela te chama.

Neste mês do orgulho, eu ergo minha bandeira não só como símbolo de resistência, mas de revelação: Ser quem sou me salvou. E pode te salvar também.

Se quiser seguir comigo nessa jornada de reconexão, cura e poder, me encontra no Instagram e TikTok: @tarodafortuna. Lá, o sagrado não tem armário, tem espelho.Com orgulho,Vando Fortuna – Mentor Espiritual e sobrevivente da fé.

Edição n.º 1469.