Será que o político tem consciência do peso espiritual que carrega? Muitos ainda acreditam que poder é sinônimo de privilégio, mas, em verdade, é sinônimo de responsabilidade. Nenhuma função na vida terrena nos é confiada por acaso. Toda missão pública está, em algum nível, alinhada ao propósito da alma. Por isso, talvez o político seja a figura que mais acumula lições espirituais em sua jornada. E aqui está a verdade que não pode ser ignorada: o karma do político não tem anistia!

É preciso compreender que karma não é castigo. Karma é ensino, aprendizado, o saldo das escolhas que fazemos. O cargo político, portanto, é uma escola de vida — e de alma. O voto não é apenas um ato democrático: é um pacto de confiança entre o povo e o eleito, e também entre este e a espiritualidade. O que é ligado na terra, também é ligado no céu (Mateus 18:18). Se em terra o povo deposita fé e esperança, no céu se registra a expectativa de que esse compromisso seja honrado.

Cuidado, político, com o que faz com os votos recebidos. Cada decisão é um tijolo que constrói ou destrói a confiança da coletividade. Cada verba pública destinada ou desviada não é apenas número em orçamento, mas vida que floresce ou que se perde. E o karma político não conhece perdão burocrático. Pode haver anistia judicial, prescrição de processos ou esquecimento popular, mas no tribunal espiritual não existe “acordo de bastidor”.

A Bíblia nos dá exemplos severos. O rei Saul (1 Samuel 15) foi ungido com poder, honra e autoridade, mas, ao se afastar da orientação divina, quebrou sua aliança espiritual. Tornou-se refém da vaidade, fez alianças equivocadas e desonrou o chamado que lhe havia sido confiado. O resultado foi trágico: perdeu a proteção espiritual, viveu tormentos internos e antecipou sua partida ao além. Até seus filhos colheram o fruto de suas escolhas. Eis a prova: o karma político não tem anistia!

O próprio Evangelho reforça essa máxima: “A quem muito foi dado, muito será cobrado” (Lucas 12:48). E o político é alguém a quem foi dado muito — confiança, recursos, poder de decisão. O que ele faz com isso ecoa no tempo e no espírito. Se edifica a coletividade, soma méritos à sua jornada. Se trai a confiança, multiplica suas dívidas espirituais.

Política é missão divina, não apenas administrativa. É semelhança à sabedoria da “mulher que edifica a sua casa” (Provérbios 14:1). Mas aqui surge uma provocação necessária: políticos, como têm honrado domesticamente e publicamente suas mulheres? Como têm tratado aquelas que caminham ao seu lado, muitas vezes sustentando em silêncio os bastidores da vida política? E mais: como as mulheres têm sido incluídas nos espaços de poder de forma equânime, respeitosa e sem a objetificação que ainda insiste em tratá-las como produto para o homem?

Quando o governante honra a missão com sabedoria, ergue não só cidades, mas também gerações inteiras, abrindo espaço para que a presença feminina brilhe em sua plenitude. Quando desonra, derruba consigo toda a estrutura de fé e confiança que nele se depositou. Pode até parecer que nada acontece no imediato, mas cedo ou tarde a conta chega — porque na espiritualidade não há prescrição de culpa.

E então a reflexão se impõe: o que se faz hoje com a confiança do povo? Com o dinheiro público? Com a esperança de tantas famílias? Honramos ou desonramos o chamado que recebemos? Quanto vale, afinal, a alma de quem se afastou de Deus em nome de poder e vaidade?

O karma do político não tem anistia! Porque, no fim, o que pesa não é a imunidade parlamentar, mas a imunidade da consciência. E esta não pode ser comprada, nem negociada, nem esquecida.

Edição n.º 1484.