Antes de subir aos céus, Jesus promete aos discípulos a vinda do Espírito Santo, que não os deixará sós. Eles pensavam que com a volta de Jesus à casa do Pai, eles ficariam desamparados e esquecidos pelo Mestre. Mas, pelo contrário, ele garante que o seu espírito permanecerá para sempre entre eles e até o final dos tempos. A sua missão será ensinar e recordar. Mas Jesus já não ensinou tudo? Com certeza que sim, mas, ele se servirá dos apóstolos e de todos os que o seguirem, para continuar ensinando as pessoas, nas suas realidades diversas. E mais, recordará tudo aquilo que o Mestre pregou, ensinou, através de palavras, gestos e ações.
A promessa da vinda do Espírito Santo e a sua presença ao longo de toda a história da humanidade, se fez sempre presente e atuante. Ele vai orientar os apóstolos no caminho da unidade e da comunhão. No início do cristianismo surgiram diversas situações difíceis de serem resolvidas. Os primeiros cristãos provinham em parte do judaísmo e em parte do paganismo. Os judeus convertidos traziam consigo uma série de normas, provindas da tradição, desde Abraão, tais como, a circuncisão e a abstenção irrestrita da carne de porco, considerada impura. Eles queriam impor aos pagãos convertidos ao cristianismo, esses mesmos costumes e, isso provocou muita discussão entre eles. Os pagãos convertidos relutavam em aceitar esta imposição, gerando uma série de conflitos, inclusive entre os próprios apóstolos. Pedro se inclinava a defender os judeus e Paulo, protegia os pagãos convertidos. Qual foi a solução para esse conflito?
Houve então a convocação de uma reunião, uma espécie de Concílio, para decidir como agir diante deste problema, que poderia criar uma divisão e até uma cisma entre os defensores de Pedro e de outro lado, os defensores de Paulo. Depois de muita oração, diálogo, eles chegaram a uma conclusão de que em reuniões mistas, os pagãos convertidos deveriam evitar comer carnes impuras, em respeito aos judeus convertidos. E o que chama atenção foi o modo como eles comunicaram essa decisão dizendo: ‘nós e o Espírito Santo decidimos’. Claramente, é o Espírito Santo que vai orientá-los a tomar a melhor solução diante de um problema com tamanha gravidade. E a vida da igreja primitiva seguiu em frente, com as suas diferenças, mas, todos profundamente comprometidos em anunciar a boa nova do evangelho.
Ao longo da história da igreja, houve vacilos, caminhos obscuros, decisões muito discutíveis, mas, se a igreja continua viva e em pé, é porque o Espirito Santo sempre esteve presente, conduzindo-a. É Ele que continua ensinando nas diversas realidades, através da boca dos seus instrumentos humanos; é ele que faz recordar aquilo que Jesus pregou através de palavras, gestos e ações, sobretudo, quando alguns desvios querem afastar os membros da igreja do caminho do evangelho. É ele que continua soprando, iluminando, apontando os caminhos a serem seguidos. Hoje, com a convocação do sínodo sobre sinodalidade, feita pelo papa Francisco, claramente sentimos que é o sopro do Espírito Santo que o moveu a esta decisão. Aguardamos com alegria aquilo que o Espírito Santo vai falar através de cada membro, em vista de uma igreja onde todos caminhem juntos, em comunhão, com a participação de todos, em vista da missão. Com certeza, nos fará recordar muitas coisas, em vista de uma igreja sempre mais sinodal.
Publicado na edição 1312 – 19/05/2022