Desconhecidos tiravam fotos do aposentado e enviavam aos familiares
O aventureiro retornou à Araucária no dia 1º de fevereiro
Aventura ou loucura? Talvez as duas palavras sejam necessárias para descrever a viagem realizada pelo senhor Gumercindo Fernandes Rosa entre os dias 21 de dezembro e 1º de fevereiro. Seus 76 anos seriam motivos suficientes para que ele se locomovesse de carro, ônibus ou mesmo de avião. No entanto, a alternativa escolhida para chegar às cidades gaúchas de Vitória das Missões, São Luíz Gonzaga, Rolador e Bossoroca foi a bicicleta.
Para isso, o araucariense deixou a Praça da Matriz pedalando. “Eu usei uma bicicleta cargueira que levava coisas básicas como os utensílios de cozinha, um cobertor e meu chimarrão”, conta. O objetivo, segundo ele, era percorrer quase 850km sem o uso de aparelhos eletrônicos e bem longe das facilidades modernas como chuveiro, fogão e geladeira. “Eu quis algo à moda antiga para lembrar da minha infância, e consegui. A beira da estrada se tornou minha casa onde eu fazia as refeições, dormia e conheci muitas pessoas”, conta.
Entre elas estava um casal da cidade de Concórdia, em Santa Catarina. “Eles me viram sentado tomando chimarrão e pararam o carro perto de mim para perguntar se eu estava bem e precisava de alguma coisa. Eu disse que gostaria apenas de conversar um pouco”, recorda Gumercindo, que afirma ter contado muitas histórias ao casal. Além disso, ele fazia mais um pedido a todos que encontrava pelo caminho. “Como eu não usava telefone, eu entregava o cartão da empresa da minha filha, Francine Fernandes Rosa, e pedia que mandassem notícias por mim”.
Muitas histórias
Segundo a filha, essa atitude foi essencial para que ela não tivesse nenhum ataque cardíaco nesse período. “Eu era contra essa viagem porque tinha muito medo de que algo ruim pudesse acontecer ao meu pai”, afirma. “Para você ter uma ideia, eu até pedi ao meu marido para sair atrás dele no dia 25 de dezembro que trouxesse de volta”. Segundo a araucariense, o marido encontrou o aposentado descansando em uma sombra na cidade de São Mateus do Sul, mas não conseguiu convencê-lo a voltar. “As pessoas não estavam acreditando que eu conseguiria, então eu queria mostrar que elas estavam erradas”, explicou Gumercindo, depois que completou sua jornada.
De acordo com ele, foi necessário muita perseverança para alcançar esse objetivo, mas tudo fez parte da aventura. “Muitas vezes, eu precisei empurrar a bicicleta porque ela não andava direito nem no plano, e nas subidas era muito pior”, conta, aos risos. “Além disso, quando eu estava a 60km de Vitória das Missões, ela quebrou de vez e não saía mais do lugar”, conta.
Para ele, esse foi um dos momentos mais marcantes do trajeto, afinal, foi necessário deixar para trás sua grande companheira de viagem. “Não tinha mais jeito, então eu escrevi um bilhete dizendo que a pessoa que encontrasse a bicicleta seria a nova dona dela e dos pertences que estavam ali”, recorda o aposentado, que chegou ao seu destino caminhando no dia 7 de janeiro.
A partir dessa data, o artista passou a utilizar o tradicional ônibus para visitar amigos e parentes. “Mas nada se compara com a minha viagem de bicicleta. Foram dias mágicos em que eu ouvia os sabiás cantando e dormia somente em hoteis com milhares de estrelas. Foi a realização de um sonho”, garante.
Ainda segundo ele, sua saúde estava em ótimas condições antes e depois da viagem. No entanto, antes de praticar qualquer atividade física ou realizar uma aventura como essa é extremamente importante conversar com um médico. Afinal, saúde é coisa séria.