Calma. Não pare na manchete. Não sou eu quem está dizendo isso — eu seria lenha nessa fogueira. Mas foram esses os ecos que ouvi nos últimos dias: nas entrelinhas das piadas sobre o conteúdo divulgado pelo jornal referente ao mês do orgulho LGBTQIAPN+, nas ofensas diretas dirigidas por quem se diz guardião dos bons costumes, mas que, no fundo, adora escrever palavrões contra outro ser humano ou ridicularizá-lo em nome da própria loucura mascarada de fé.

Parece exagero? Pois eu te conto: a cada vez que uma pessoa LGBTQIAPN+ é ridicularizada, chamada de aberração, tachada de “sem Deus”, uma fogueira simbólica se acende.

E não, você não ganha um tijolinho no céu por fazer isso. Pelo contrário: você se distancia da salvação em que diz acreditar e, sem perceber, abraça o seu próprio capeta pessoal, descendo ladeira abaixo.

Se, em público, as pessoas já vestem o ódio e atacam pessoas LGBTQIAPN+ em nome de bons princípios, imagine o que não fazem às escondidas, em relações assimétricas de poder: com um atendente de comércio, alguém em posição hierárquica inferior, ou mesmo o professor dos seus filhos.

Batem? Caluniam? Matam? Em nome de quem? De Jesus? De um partido político?

Porque existem pessoas LGBTQIAPN+ da direita à esquerda. E, pelo pouco que conheci de Jesus, ele me pareceu amar incondicionalmente todos os seres humanos — sem exceção.

O preconceito não carrega mais tochas. Ele vem com emojis debochados, mensagens passivo-agressivas e frases como esta, recebida por mim:

“Na minha humilde opinião… querer empurrar goela abaixo ideias, preferências, opiniões, é tão ruim quanto o preconceito…”

Essa pessoa, ao escrever isso nas redes sociais do jornal, sente que algo está invadindo seu conforto social — que está sendo empurrado goela abaixo.

Será mesmo, nobre leitora?

Apenas pelo fato de que, neste momento, pessoas LGBTQIAPN+ estão tendo visibilidade em um espaço público como o jornal?

Ter voz foi o que ajudou mulheres a conquistarem o direito ao voto — o que, para muitos na época, foi também “goela abaixo”.

Foi o que permitiu que estudassem em universidades, não ficassem restritas ao trabalho doméstico, e tivessem condições de denunciar a violência que sofriam.

É o que permite, hoje, que mulheres como você possam opinar publicamente sobre assuntos públicos. Inclusive com comentários públicos… como esse.

Quando percebemos que as agressões sociais são crônicas e herdadas moral e religiosamente pelos nossos ancestrais, entendemos que, enquanto alguém nesse sistema não disser basta, o ciclo da violência continuará — como uma lealdade invisível, uma herança maldita repetida sem consciência.

Precisamos fazer diferente.

No último 24 de maio, a Prefeitura Municipal de Araucária divulgou, em suas redes sociais, a realização da 1ª Conferência Municipal dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, organizada pelo Comitê LGBTQIA+ do município, com a presença e apoio do prefeito Dr. Gustavo Botogoski.

Felicito publicamente a iniciativa do Governo Municipal, dada a urgência da tutela de direitos e de vidas que essa população requer.

E estimo que o Legislativo Municipal, na pessoa de seus vereadores, também abrace a construção de políticas públicas que garantam proteção, dignidade e equidade para essas vidas em Araucária.

Calar-se não é o caminho para evoluir. Precisamos dar as mãos e lutar contra o preconceito — seja ele disfarçado de opinião, de religião ou de conservadorismo.

Vando, isso tem a ver com espiritualidade? Tem tudo. Porque enquanto alguém estiver chorando em silêncio, vítima de preconceito, sem conseguir buscar justiça,

Enquanto a violência tiver uma força de manada nas redes sociais para berrar e agredir,

Enquanto a dor do outro for ignorada em nome de dogmas…

A bandeira da paz, de Cristo, dos Orixás ou de qualquer Deus jamais terá vencido.

Sejamos a diferença que queremos ver no mundo.

Sigam-me em @tarodafortuna e que o amor sempre vença o medo.

Edição n.º 1472.